Quando a vi pela primeira vez estava encostada em um banco no corredor
da escola, tentei procurar os olhos, mas eles estavam tão distantes que
nem correndo conseguiria alcançar. Ela enrolava os cabelos nos dedos e
quando soltava formavam-se cachos. Senti vontade de chegar mais perto.
Na
segunda vez ela estava de pé e conversava com os amigos, notei como as
mãos eram ligeiras e como ela sorria mais forte do que podia suportar, o
que eu via eram bochechas pressionando grande parte do rosto, trazendo o
riso maior do mundo para fora. Se sorrisse o resto do dia, se durante
todo ele apenas o fizesse eu entenderia cada palavra sem que ela
precisasse pronunciar uma sequer. Dentro das gavetas tenho uma pilha de
folhas, são diários sobre ela, o tom deles varia conforme meu humor, por
vezes são agressivos outrora entusiasmados, alguns são desesperados, e
nunca desapaixonados. Todos eles. Cada linha, ponta a ponta da folha que
escrevo frente e verso sempre que me deparo com aquela que pobremente
sei descrever.
Eu queria colocar no papel o brilho que irradia quando
no escuro, toca. Quando entra em contato com a solidão negra que é a
minha vida e dois terços do meu coração. Vagamente sei falar sobre o
amor que sinto, a vida toda foi assim, tropecei nas palavras, padeci num
buraco de silabas, frases e versos, me perdi num labirinto de rimas e
textos, muitos textos quando conheci a menina e hoje não quero mais
sair. Mentiria se dissesse que quero e não posso, ela me mostra um leque
de opções cada vez que passa por mim com o olhar correndo e custa a me
perceber. Sei lá. Ás vezes sinto que posso correr na mesma velocidade
que os olhos dela, correr não sei para aonde, para qualquer lugar que
seja longe do amor que sinto por ela. Mas o que eu sinto me persegue,
ando sentindo dores e posso jurar que o amor me bate, os hematomas são
terrivelmente de um roxo azulado que se assemelham com o céu da
madrugada nos dias de inverno, não há de ser outra coisa. Meu peito
pulsa ardido e barulhento, creio eu que sejam gritos de desespero por
assistir a menina passar as mãos pelos cabelos e calar o resto do mundo
com uma risada.
Cada parágrafo dramático faz com que eu tenha vontade
de me desmembrar, eu sinto constante vontade de me deixar. Queria que
meus membros se soltassem e despencassem, melhor que fosse do céu, mais
parecido com chuva. Eu queria ser chuva e chuviscar o amor que sinto em
cima dela.
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