- Precisa me garantir que vai ser discreto, cauteloso e não deixará pistas.
-
Não sou nenhum amador, minha senhora. Quinze anos nesse ramo, nenhuma
prisão. Sequer fui suspeito de qualquer morte. Farei o serviço de forma
limpa, sem deixar vestígios. O que posso lhe adiantar é que não sairá
barato.
- Quero que mate os dois. Não me importa o preço, apenas mande os dois para o inferno.
-
Estamos em negociação, senhora. Precisa me dizer como quer a eliminação
deles. Se forem mortos separadamente, ficará mais caro. Poderia fazer
um desconto caso pudesse matá-los ao mesmo tempo.
- Isso seria muito
fácil. Através de um detetive que contratei descobri que se encontravam
em nossa própria casa quando estava viajando. Aquele idiota maldito...
Na minha própria casa...
- Uma informação relevante. Gosto de
serviços rápidos, onde encontro as vítimas em situação vulnerável.
Quatro mil pelo serviço, metade adiantado...
- Parece-me justo.
Encontre-me amanhã neste hotel para receber o adiantamento. Programei
uma viagem para daqui a uma semana. Creio que seja tempo suficiente para
planejar o crime.
- Não preciso planejar nada. Apenas deixe uma
cópia da chave para facilitar a minha entrada. O resto pode deixar
comigo. Não falharei.
- Assim espero...
A senhora de cabelos
loiros encaracolados cruzou o beco escuro até chegar ao seu veículo. O
homem, de meia idade, cabelos grisalhos, acendeu um cigarro e observou o
carro em disparada em direção ao centro da cidade. No dia seguinte, os
dois se encontraram para acertar os últimos detalhes e o pagamento
inicial. O pistoleiro estava incrivelmente tranqüilo, e sua frieza
chamara a atenção de sua cliente, uma senhora que descobrira
recentemente a traição do marido. Ela, ao contrário, estava
terrivelmente tensa. Não dormira à noite pensando na possibilidade de
ser descoberta e presa. Tentava dizer a si mesma que era um plano
infalível, que jamais seria descoberta, mas uma voz insistente e
perturbadora tentava convencê-la do contrário.
- Já lhe disse,
senhora: será um serviço limpo. Além disso, terá um belo álibi para a
polícia. Quanto a mim, não precisa se preocupar. Sou como uma sombra.
Não deixarei pistas.
Duas semanas se passaram. A mulher havia
viajado, e seu marido, como esperado, havia marcado alguns encontros com
a amante em sua própria casa. O pistoleiro fez o trabalho de
reconhecimento das vítimas e do melhor momento para realizar o serviço.
Enquanto mantinham relações sexuais, ele entrou pela porta da frente,
sorrateiramente subiu até o quarto do casal, colocou o silenciador e os
observou em meio aos gemidos delirantes. O homem saltou da cama
abruptamente e fechou as persianas, temendo ser observado. O assassino
recuou, mantendo-se oculto na escuridão do corredor. A amante seguiu nua
até o banheiro, enquanto o homem a observava com a boca salivante. Os
dois tiveram mais uma relação sexual que durou longos vinte minutos. O
matador, ao perceber que estavam exaustos, atirou primeiramente na
mulher. Ele, ao perceber que a amante estava morta, tentou fugir, mas
recebeu um tiro certeiro na cabeça.
Ao voltar de viagem, a
senhora recebeu a notícia do assassinato do marido. Fingiu estar abalada
e foi ao enterro para encenar a sua dor pela perda. Dois meses após a
morte, teve uma ingrata surpresa ao saber que o falecido havia deixado
apenas uma velha casa no centro da cidade como herança. Apesar de tudo
estava feliz por ter se vingando dos dois. Se não tivesse se livrado do
marido e da amante, não suportaria o fato de ter sido traída em sua
própria cama.
Tudo parecia perfeito em sua nova vida. Ela se
mudou para a casa que recebera de herança, conheceu outros homens e
viveu algumas aventuras. Tudo estava normal até receber uma visita
inesperada. Um homem de cabelos grisalhos, o mesmo que havia assassinado
o seu marido, veio visitá-la. Ela ficou assustada, afinal, estava tudo
acertado. Havia efetuado o restante do pagamento duas semanas após o
serviço, e nada mais lhe devia.
- O que está fazendo aqui? – inquiriu a mulher.
- Apenas uma visita, senhora. Gosto de rever minhas clientes, saber como estão, o que estão fazendo...
- Estou muito bem, obrigada. Não deveria estar aqui...
-
Por que não? Soube me procurar quando precisou de ajuda para se livrar
do seu marido e da amante. Agora fica aturdida com a minha presença?
-
Diga logo o que quer? Se for dinheiro para ficar calado, aviso-lhe que
não tenho mais nada. Aquele maldito apenas me deixou essa velha casa
como herança.
- Não preciso do seu dinheiro, senhora. Sou
profissional, cobro apenas o necessário pelo serviço. O motivo de minha
visita é outro...
- Você... Você... – disse a mulher, gaguejando – Quer me molestar?
-
Ora, minha senhora – disse ele, a gargalhadas – Posso ter as mulheres
que quiser. Jamais iria me envolver com uma velha como você. Não me
insulte!
- O que você quer, pelo amor de Deus? – disse ela, afastando-se do pistoleiro.
-
Tenho uma reputação a zelar, minha senhora. São quinze anos de
profissão... Nunca fui preso... – tirou o silenciador do bolso, com um
cínico sorriso - Jamais me investigaram; sequer prestei depoimento em
todos esses anos. Isso não é para qualquer um. Não basta apenas ser bom,
tem que fazer o serviço completo... - encaixou na pistola e a destravou
- Eliminar provas, sabe? Apagar vestígios, dizimar qualquer um que
possa interferir no meu trabalho... – aproximou-se da mulher lentamente,
estudando-a. – O segredo para ser um bom assassino profissional é não
deixar ninguém saber que cometeu o crime – com um brilho misterioso no
rosto, apontou para a mulher, que ficara de olhos arregalados. – Nem
mesmo meus clientes.
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