quinta-feira, 14 de maio de 2015
A ferida chamada ''você''
Pra dizer que teu amor foi daqueles que me roubou a
pele, a vergonha, as vértebras, os deuses, as
falas, os gestos, os tempos, as vidas. Pra dizer que eu te amei demais,
muito mais do que supus, e que quis muito que tudo ficasse bem entre
nós, mas que não foi bem assim. Dizer também que queria poder escrever
mais, porém sinto atrofia e preguiça de relatar, novamente, como eu te
quis, como eu me dei e como você poderia ter reagido a isso. Como tentei
te salvar e por tentar te salvar, acabei me perdendo entre tantas guias
e tantas ausências que nem eu sabia como suprir. Dizer que eu ainda te
amo, que enquanto nada acontece, nada se resolve e você não fala, eu
continuo aqui, esperando você notar, que você venha me roubar
pela última vez e me levar daqui. Dizer que sinto uma ausência de quando
nós conversávamos, mas que você não se importa muito, e nunca se importou,
se era ausência ou presença. Mas que eu te amei assim mesmo, falando desesperadamente com a sua irmã, para ela me dizer algo de você, algo que
acalmasse meu coração bravio, algo que me desse esperança de que você
não havia perdido. Pra dizer que eu escuto
seu nome ao longe e choro de aflição e me escondo atrás dos escombros
que jogaram em cima de mim. E que estou mais triste mais intenso e mais
feliz. Mas que também choro pelas pessoas que perderam seus braços no
vietnã e pelas pessoas que a vida tirou de mim. Uma solidão
que me roubou, uma agonia que tirou-me de mim, açoitou meus dramas e me
fez viver com a ferida exposta. Pra dizer que súplico pelo seu calor
entretanto não quero morrer dele, e que quero que entendas as minhas
manias de fuga também. Por que não lhe disse que também sei fugir? Que
também possuo pés capazes de voar? E que também tenho medo e por isso
posso querer morar em outro esconderijo, que não você? Pra dizer que eu
te amo eu te amo eu te amo, tanto que não posso mensurar, e é até pecado
escrever, porque podem roubá-lo de mim. Pra dizer que teu corpo é como
um oceano que margeia uma ilha deserta e que seus lábios são coxas de
anjos que viraram poemas em algum lugar da terra. Pra falar que sinto
uma inenarrável vontade de voltar no começo, no princípio, naquilo que
foi de uma paz imensa, naquilo que causou um espantamento, no que foi
mais do que amor. Aonde foi mais do que amor. Incomparável amor. Dedução
ilógica de um sofrimento que não planejo mas que vem e sopra tudo e
todos em cima da minha ferida - aberta, chamada seu nome.
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