Maria colocou todos os remédios que possuia na sua antiga bolsa. Sua avó
estava doente, e sua mãe, drogada, não seria de muita serventia. Vestiu
sua unica calça, uma blusa surrada qualquer e sua unica blusa de frio:
um moleton vermelho que encontrara jogado na rua há muito tempo. Calçou
seus chinelos e tentou se concentrar apenas em sua avó, e não no frio.
Saiu pelas ruas frias de São Paulo, dirigindo-se para a favela ao lado.
Era preocupante o fato dela e de sua avó morarem em 'complexos'
diferentes. Visitá-la era sempre uma luta constante contra a morte. De
beco em beco, Maria tentava não ceder ao medo e correr, pois isso
poderia aletar os traficantes locais.
Na virada de uma esquina,
porém, toda uma vida mudou. Maria deu de cara com um traficante. Como
ela sabia? Ela simplesmente sabia. A vida lhe ensinara a diferenciar, e
nesse momento o desespero tomava conta dela. Ela se virou para correr,
mas vou agarrada pelo pescoço. Desmaiou.
Maria acordou e se viu
amarrada em uma cadeira, sau mochila jogada num canto. Os traficantes a
observavam, sorrindo. Ela sabia que era o seu fim. "Você vai fazer uma
entrega pra nós. Levar os bagulho pra um playboy da região. Tá ligada?
Faz isso e a gente deixa você sair". Seu coração, por um segundo,
palpitou aliviado. Mas ela logo desanimou. Eles prepararam sua bolsa, e a
deram o endereço.
Maria saiu da casa desnorteada. Precisava fazer a
entrega, não ser pega, voltar e devolver o dinheiro. E, talvez... talvez
saisse viva.
Três horas depois Maria estava de volta. Sã e salva e
com o dinheiro. Estava começando a acreditar que as coisas podiam
realmente dar certo. Mas ela não contava com uma coisa: o chefe da
quadrilha. Ele estava lá, e foi só vê-la para perder a noção do juizo.
Maria foi usada e abusada como se o mundo fosse acabar no momento
seguinte. A dor e a humilhação eram insuportáveis.
Maria tentou fugir no dia seguinte bem cedo. Levou oito tiros a queima roupa. Maria se foi, foi para um lugar melhor.
"O lobo mal de hoje é apenas um homem 'comum'."
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