Caruso era gordo e falho. Comia desvairado, tentando de boca cheia
dietas e regimes que não lhe traziam resultado algum. A noiva Camille,
jovem e bela estudante de filosofia, se incomodava com a aparência
cansada do namorado, mas não conseguia ajuda-lo a manter o corpo em
forma.
Chegou um tempo em que Caruso já não muito se incomodava.
Estava se adaptando a gordura, ao porte redondo e as papas no queixo. Se
entregou despudorado aos prazeres da gula e vibrou intenso em cima de
tortas, bolos e pudins.
Foi em uma partida de futebol com os amigos
da empresa que Caruso descobriu que era um gordo inútil. Suava feito um
porco, perdendo o prestigio e sendo vaiado pelos parceiros no time dos
de camisa. A humilhação foi maior quando suando feito um leitão, decidiu
ir para o time dos sem camisa, se livrando da peça ensopada.
Os
amigos o olharam bestificados, suas banhas soltas e fartas enchiam seus
olhos indignados. Ele os flagrou lhe encarando... Envergonhado, foi
embora cansado e inconformado.
Em casa, tomou um banho ciente de
um novo compromisso... Era aniversario de namoro com Camille, ele a
levaria para um restaurante fino.
Camille estava linda em seu
vestido de moça comportada. O suor escorria dentro do terno cinza de
Caruso. Ele firme no propósito em se conter, pediu comida leve, pra não
passar mais vergonha.
Comeu a salada com molho de mostarda e o filé
de congrio rosa, mas obviamente não foi suficiente para alimentar toda
sua estrutura desproporcional:
— Fiz reservas naquele motel – disse Camille – Aquele que fomos na nossa primeira vez, lembra?
Ele com a boca lambuzada de mostarda balançou a cabeça, dizendo que lembrava.
Não resistiu. A fome medonha lhe corrompeu e pediu um glorioso e farto macarrão a bolonhesa.
Comeu
feito um porco, roçando o cavanhaque curto no molho e mordendo em bem
sucedidas bocadas as bolas de carne... Camille acostumada tentou
enxergar com bom animo a gula do noivo.
E no motel, em meio a preliminares e ao desespero de mais uma vez brochar, Caruso se desesperou...
Por
mais que Camille tentasse, não conseguiu “levantar a moral” do noivo,
que como inúmeras outras vezes, falhou. Não satisfez a noiva na noite
mais especial do ano.
Chorou sozinho no banheiro, defecando enquanto segurava uma coxa de frango assado:
— Preciso emagrecer – Se dizia deprimido, enxugando as lagrimas. – Eu preciso me livrar de toda essa maldita gordura!
Continuou
com as dietas escabrosas e inúteis. Mas desta vez foi mais firme, mais
forte em sua odisseia em se livrar de si mesmo. Em um dia de cheio
surpresas, seu mundo terminou de desabar.
Sem avisar decidiu buscar a
noiva na faculdade. Seu coração envolto de banha a viu entrando no
carro de um amigo, forte e belo, possivelmente um jogador de futebol...
Mulher carente é foda!
Se olhou com as papas gordas pelo retrovisor do carro e se viu monstro, monstro gordo porco, com o coração dilacerado.
Coxas
de frango e costelinhas de porco não curavam sua tristeza... Apelou em
tudo que pode, as dietas não surgiam efeitos desejáveis e ele se viu
ainda mais gordo.
Correndo em volta do parque, teve o começo de um
ataque cardíaco e se sentou no banco... Foi acudido por uma velha cigana
cega de um olho. Essa sentiu pena do pobre porco gordo. Ele a olhou
triste e disse cansado:
— Preciso emagrecer.
Ela lhe sorriu, eram estranhos mas ousou lhe dizer:
— Seu dia de sorte meu rapaz!
O
destino é algo fascinante. Dizem que é fácil se encontrar com o
diabo... Ele pode estar na esquina, na padaria, na próxima curva a lhe
esperar... Ou também pode estar na zona, na prostituta suja que você
invade... Mas não foi em nenhum desses lugares que Caruso o encontrou,
ele o encontrou no acampamento dos ciganos, na barraca da velha bruxa,
dentro de uma garrafa pequena.
Ele cheirou a boca da garrafa, tinha cheiro de cachaça... Olhou ao fundo uma linha de quatro centímetros, fina e inanimada.
—
Uma bicha – Disse a cigana velha – Isto é uma bicha, ou uma lombriga,
verme, parasita... Como você quiser chamar. Mas não chame de nada
disto. Chame de “cura”... Ou até mesmo, de “milagre”!
Ele olhou a linha curta e disse curioso:
— Não entendo como isto pode me ajudar.
A velha sorriu:
—
Ela pode ser bebida por você, pode ficar dentro de seu intestino e
peneirar tudo que você engole... Ela pode transformar as porcarias que
você come em fontes de proteína e te fazer emagrecer em um tempo muito
curto.
Ele a olhou. Olhou para o vidro, o chacoalhou, mas a linha
não se mexia. Sorriu como que se debochasse da cigana velha. Esta lhe
encarou com raiva, despejou a linha em um copo junto com a cachaça e
disse segura:
— Ela não precisa dançar para lhe mostrar competência,
gordo inútil! Pois engula e verá que esta linha que julga morta pode
ser algo que ira arrancar de você esta aparência tosca, devorara sua
banha e te deixara magro!
Caruso olhou para o copo com a linha imóvel. Sorriu e perguntou:
— Quanto vai me custar?
A cigana sem cerimônias o olhou e disse:
—
De agora nada. Mas se ao beber e emagrecer 20 quilos ou mais em um mês,
comendo feito o porco que é, você volta aqui e me paga 20 mil reais.
Ele a olhou desafiador e sorriu:
— Certamente pagaria 20 mil para me ver mais magro.
Ela segura do futuro feito, disse com a boca banguela:
— Pois pagará! Volte satisfeito e me pague!
O
gordo olhou para o copo. Encarou a cigana e engoliu a olhando. Sentiu
então uma peniqueira na garganta, a linha se debatia dentro de sua
goela, caindo por dentro de seu estomago, desaforada e desesperada. A
velha cigana gargalhou, ele saiu da barraca, e quando estava no
terreiro, a ouviu gritar:
— Pois me traga meus 20 mil!
— Se em um mês eu perder os primeiros 20 quilos eu o farei!
Os
dias correram ligeiros, e a geladeira do homem se enchia e se
esvaziava... Caruso se pesava na balança e se via cada vez mais magro, a
banha parecia se dissolver dentro dele. Passou o mês, os 20 quilos
prometidos sairão de dentro do corpo. Lembrou da cigana, sorriu e disse
besta:
— Velha desgraçada! Como conseguiu isto?
Dirigiu até o acampamento dos ciganos... Entrou na barraca da velha e disse contente:
— Deu certo mesmo! A senhora é danada! Perdi os malditos 20 quilos!
A
velha sorriu, lhe estendeu a mão esperando pelos 20 mil. Caruso enfiou a
mão magra no bolso, arrancou duas notas de 100 e lhe entregou.
A cigana o olhou com a cara fechada e indagou voraz:
— O combinado era 20 mil, seu cretino imundo!
Caruso gargalhou, quando parou de rir da velha, disse:
— 200 reais ainda é muito por um vermezinho miúdo daquele.
A velha compreendendo a ignorância do gordo, cuspiu em sua cara, rasgou as notas de 100 e praguejou em ira:
— Miúdo, não é? Pois espero que ele cresça voraz dentro de você e se faça valer dos 20 mil que me deve! Agora saia daqui!
Caruso saiu de cabeça erguida. A velha cigana do quintal ainda disse:
— Certamente você emagrecerá e ficara belo como um dia foi, mas nunca deixara de ser o porco que é!
Caruso
comia faminto e saudável dentro de um restaurante quando viu Camille e o
novo namorado. Se aproximou da mesa e os cumprimentou. Camille se
levantou e disse admirada:
— Caruso? É você mesmo? Como conseguiu?
Ele ainda mastigando costela ao alho e óleo, disse confiante:
— Dieta cigana. Prazer em te rever. Adeus.
Voltou á sua mesa sem olhar para trás.
A
noite enquanto dormia em seu apartamento, escutou a campainha tocar...
Abriu a porta e recepcionou Camille, que entrou o beijando e o lambendo
por inteiro. Caruso a levou pra cama e fez com ela o melhor sexos dos
homens magros.
Dia seguinte no medico, mediu sua gordura... Não mais a tinha, estava em forma e belo. O medico o elogiou e disse seguro:
— Não sei o que fez, mais surgiu um efeito impressionante!
Ele o olhou orgulhoso e disse:
— Doutor. Por um acaso o senhor tem remédios pra verme?
O doutor sorriu e lhe estendeu um frasco cheio deles.
Em
casa, Caruso os tomou. Uma dor de barriga o contemplou e ele no
banheiro, tentou defecar o maldito verme. A lombriga se debatia dentro
de seu intestino mais não saia... Se voltou então ao frasco e tomou logo
três, se condenando a uma noite de rei, sentado ao trono e cagando sem o
cú saber.
Na manhã seguinte levou Camille a faculdade e se viu
morto de fome. Parou em um restaurante e pediu o rodízio. Os garçons que
o conheciam como homem gordo, agora o viam belo e magro, serviram a ele
variedades e mais variedades de assados, o fazendo devorar e se sentir
bem. Caruso não conseguia parar de comer. Quanto mais comia, mais fome
tinha. Os garçons suados de tanto ir a sua mesa não conseguiam entender
tudo aquilo, ele comeu mais que dez pessoas juntas e não conseguiu se
saciar! Quando viu que a fome jamais acabaria, pediu a conta e foi pra
casa, tentar se concentrar em outra coisa.
Mas a fome não se calou, ele era obrigado a mastigar e mastigar...
Decidiu ser drástico, tomou todos os comprimidos do frasco e se preparou para um dia de caganeira.
O
verme se adaptou ao remédio... A fome ainda reinava e ele comia o
quanto podia... Não conseguia se sustentar, já estava sem mantimentos e
selvagem, se acabava procurando pelo que devorar.
Gritou insano, correu para uma pizzaria e devorou tudo o que podia... Os clientes das mesas olhavam impressionados...
Seu
vicio por comida sugou sua conta bancaria... Ele olhou para a barriga
inchada... Seu corpo magro e a barriga se mexendo, a alisou e sentiu as
escamas da lombriga, que se mexia despudorada dentro dele.
Decidiu então que a mataria de fome, se sentou em uma cadeira e com as panelas, armários e geladeira vazios, bradou:
— Você morrerá maldito verme! Morrerá nem que seja de fome, pois não comerei mais nada!
O verme intestinal se contorcia insano dentro dele, grande e grotesco, procurando por gordura e comida...
Caruso trancado em seu apartamento estava faminto e agonizante... O verme em desespero lhe corroia...
O
verme faminto não teve outra escolha. Saiu do intestino e começou a
devorar os órgãos internos de Caruso. Este gritava de dor, sentado na
cadeira de madeira, sentindo o verme navegar dentro dele, devorando tudo
que via pela frente.
Desesperado pegou uma faca e cortou a barriga.
Se ajoelhou no azulejo e viu uma grande lombriga de mais de 40
centímetros sair de dentro dele... Tinha pelos grossos e inúmeras patas
viscosas... As duas pontas tinham bocas enormes, que latejavam de fome.
Ela
vibrava peluda no chão, Caruso caiu morto e ela o devorou aos poucos,
crescendo ainda mais, se fazendo valer os 20 mil não pagos.
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