São
dez horas da manhã. Eu estou na escola acuado no canto da sala. Os
alunos riem de mim e zombam de minha deformidade. Andressa me olha com
desprezo, é a primeira a me chacotear: “Olha o corcunda de Notre Dame
chorando feito otário!”. Eles me olham com nojo, e riem da piada sem
graça, pois se julgam perfeitos. Pensam serem os bons, só porque são
normais. Eu sou feio, tenho cara torta e nariz arredondado. Nasci assim e
ainda sou obeso. A professora Helena está na sala, mas nada faz pra me
defender, ela não gosta de mim, mas me olha com piedade.
Eu recebo cascudo dos valentões e sou humilhado pelas meninas. Douglas
se aproxima, é o mais folgado deles. Ele me olha, sorri e puxa meus
cabelos. Eu choro e tento esconder meu rosto. Em vão... Douglas me dá um
tapa na cara. Eu continuo chorando, mas não tenho raiva deles... Tenho
raiva dela, da maldita Helena!
É noite. Estou no quarto zelando pela fotografia dela, minha
professora. Helena é bela, tem olhos castanhos como o meu, e pele clara
como a minha. Seus cabelos são tingidos de loiro, mas eu sei que a cor
natural é preto. Eu a odeio, mas não consigo parar de observá-la, roubei
esta fotografia ontem na sala dos professores. Eu observo a imagem
fixamente e planejo minha vingança. Eu sei de toda a verdade, mas ela
nem desconfia.
É mais um dia de aula, eu caminho pelo corredor da escola, mas não
entro na sala. Não, não entro... Não entrei, pois vi ela, Helena. Ela
está sozinha, sentada em uma cadeira na sala dos professores. Não
poderia ser mais fácil, estava de costas para mim. Coitada da Helena...
Coitada para quem não a conhece, mas eu sim, eu a conheço e sei de seus
pecados.
Eu caminho até a sala, mas não estou sozinho, arranco do bolso meu
amigo: "Uma faca de cozinha que trouxe de casa". Eu me aproximo, ela nem
percebe. Eu sinto que minha vingança se aproxima e não irei falhar. Eu a
seguro pelos cabelos e com um único e preciso golpe, perfuro sua
jugular. Ela golfa sangue e agoniza em desgraça. Eu a vejo cair no chão e
pronunciar suas últimas palavras:
– Por que fez isso comigo...
Ela morre. Eu me aproximo do corpo quente e me sujo com o sangue dela, sim, me sujo com o sangue do meu sangue...
Um dos professores entra na sala, ele se espanta e me tira de cima
dela. Eu fico encolhido no canto da parede, enquanto outros professores e
alunos adentram no local. Todos suspeitam de mim, me xingam e me
julgam... Mas ninguém sabe da verdade.
É começo de tarde e eu estou na delegacia. O homem grande de olhar penetrante me pergunta:
– Por que a matou garoto?
Eu observo pelo vidro grande da sala meus pais adotivos, sinto então um
vazio no peito por saber que ficarei algumas semanas sem vê-los. Mas
eles sabem o motivo pelo qual cometi essa monstruosidade. Sim
monstruosidade, pois me chamam de “monstro” no jornal da tarde.
Eu olho para policial que me interroga, respiro fundo e lhe respondo com frieza:
– Ela é minha mãe de sangue. Usava drogas, e é bem por isso que eu
nasci assim, deformado e esquisito! Ela tentou por vezes me abortar. Sem
sucesso. Quando nasci à desgraçada logo me deu para adoção. Quando
cresci, meus pais adotivos me revelaram toda a verdade, e eu quis me
aproximar dela. Mas ela não me conhecia, não imaginava que eu estivesse
tão perto, muito menos que eu soubesse da verdade. Eu apenas fiz com que
ela pagasse o preço... O preço de seu pecado!
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