Transformei a escrita de terror em babaquice. Não, não, não, não... Tudo errado! Apague e escreva de novo!
Transformei
o medo em ilusão. Sim, agora esta certo. Estou certo. O medo é o
desconhecido, e aquilo que nossos olhos não veem pode ser considerado
como ilusão. Não. Errado de novo. Besteira esta de colocar ilusão no
meio do desconhecido!
Quando eu era menino, vagava decadente, cheio
de historias pra contar e ninguém para ouvir. Agora que tenho palavras e
ouvidos, me calo por medo de me envergonhar. Me envergonhar? Será que
existe esta certeza dentro de mim? Quando o frio da noite vem, me aqueço
debaixo do edredom e rezo firme para não chover. Às vezes a reza não
vale, a chuva cobre meu mundo e o telhado de zinco pipoca, tal qual as
teclas do meu computador. Tenho medo da chuva. Medo é ilusão, eu
afirmei! Eu estava errado novamente, e, agora estou certo: medo é apenas
medo.
Ainda pequeno, minha mãe quis sair para se divertir, fez uma
boneca de pano parecida com ela, se levantou da cama e a pôs do meu
lado, para eu acordar e pensar que fosse ela, assim dormiria tranquilo
enquanto a danada festejava. Eu não dormi, pois a maldita boneca de pano
cochichava a noite toda em meu ouvido, me amaldiçoando e conduzindo
minha alma ao inferno.eu não fui com ela ao inferno,estou aqui, lhes
contando que fui enganado e assombrado ao mesmo tempo.
Eu escrevi um
conto. Era sobre uma menininha que vagava na escuridão, a procura da
mãe morta. Quando a encontrou, descobriu que ela estava viva e podre.
Apaguei. É tão fácil criar terror infantil, é fácil fadar a inocência,
colocar um pequeno em situação completamente absurda e desvendar os
medos e as maldições.
Comecei outro conto sobre um tolo que escapou
da forca, que correu atrás de seu carrasco e acabou por enforca-lo com a
mesma corda. Remoído em remorsos, se enforcou. Estória fraca, muita
corda pra pouco pescoço. Meus leitores merecem mais...
Ouvi um
barulho lá fora. Não é a chuva, e por mais que isto me incomode, o medo
não vem! Ouso investigar, pego o farolete e guio a luz forte em meu
quintal. A porta da cozinha se tranca... Eu estou preso lá fora, sozinho
e com medo. A chuva cai e o vento parece querer conversar comigo, assim
como a boneca sombria... Eu tento responder, pois às vezes converso
comigo mesmo. Me faço perguntas e me dou as respostas, um monologo
cansativo e exaustivo, mas que me ajuda a criar tolas e necessárias
frases de efeito.
O barulho no fundo do quintal se faz mais forte...
Ainda assim não é a chuva, tão pouco o vento. Eu calo as incertezas e
jogo a luz do farolete no local suspeito, debaixo do pé de amora. Eu o
vejo pendurado lá, o enforcado de minha historia apagada! Eu me calo em
medo e agonia! Meu coração dispara de forma preocupante e caiou no chão,
com um começo de enfarte. Uma menina me vem, ignora meu sofrer e me
pergunta:
— O senhor viu a minha mãe?
O desespero aumenta
devassamente... Mordo minha língua e sinto o sangue do corte invadir
minha garganta seca, o velho coração não vai resistir... Sinto o cheiro
de carne pútrida, ela surge diante de nós... A mãe morta... A menina
grita em desespero, quase estourando meus tímpanos. A mulher podre a
esgana, eu sou testemunha de minha própria loucura...
O homem despenca de sua forca e rasteja até nós... Eu estou condenado... O coração fraco sofre de medo, angustia e dor.
Ela
me arrasta para dentro de casa, me joga na cama e coloca ao meu lado a
boneca de pano... A chuva grossa bate no teto de zinco e ainda
agonizando, ouço-a cochichar suas artimanhas em meu ouvido.
É só a morte... A morte vem e eu nem tenho um titulo pro texto... Tanto faz. Não gosto mais de escrever mesmo...
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