Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você
ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que
ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era
assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me
“fascinavam” e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas,
mas minhas, e eu pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era
não mais conseguir ver, entende? É engraçado pensar que por um longo
tempo eu quis tanto ser a sua paz, quis tanto que você fosse o meu
encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E
sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende?
Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do
que dispunha, por limitação humana. Mais o que tinha, era seu. E com
todas essas coisas eu paro e penso, se você tivesse ficado, teria sido
diferente? Melhor interromper o processo em meio quando se conhece o
fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há
sentido, melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, uma fotografia —
qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir,
mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada
seja áspero como um tempo perdido. Mas te digo com toda certeza do
mundo, depois de todo nosso ‘tudo’ me ficaram só coisas boas. Uma
vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os
outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo
encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre
traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo...
Às vezes, não há nenhum aviso. As coisas acontecem em segundos. Tudo
muda. Você está vivo. Você está morto. E as coisas continuam. Somos
finos como papel. Existimos por acaso entre as percentagens,
temporariamente. E esta é a melhor e a pior parte, o fator temporal. E
não há nada que se possa fazer sobre isso. Você pode sentar no topo de
uma montanha e meditar por décadas e nada vai mudar. Você pode mudar a
si mesmo para ser aceitável mas talvez isso também esteja errado. Talvez
pensemos demais. Sinta mais, pense menos.
Virei pedra e entendi porque a solidão é a experiência mais universal de
todas. A solidão é muito sacana. Num dia, ela te deixa eufórico,
pensando nessa liberdade possível de não dever satisfação a ninguém e
nessa possibilidade infinita de realizar todas as tuas vontades. Mas, no
outro dia, a solidão te dá uma rasteira daquelas bem dadas. E te faz
cair na real. Tu estás só feito um cão de rua, meu filho. Ninguém te
ama, ninguém te quer, ninguém te conhece, ninguém tem acesso à tua alma.
Tuas neuras são só tuas, e parece que nada nem ninguém preenche esse
vazio.
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