quinta-feira, 22 de maio de 2014
Vem, cuida de mim
Eu te confesso que tenho um porão escondido
dentro de mim. Vez ou outra eu revisito pra checar se a umidade já
corroeu as vigas, as dobras das portas, as frestas do assoalho. Na
maioria das vezes eu espirro por conta da alergia e não tem ninguém ali
pra me oferecer um lenço. Tudo bem, sou precavido, tenho levado o meu há
anos a fio quando aprendi que a gente tem que se embalar na gente senão
a coisa toda despenca. Mas olha, eu faria do meu escuro um lugar bonito
pra você me visitar. Limpo tudo e deixo as coisas boas em cima dos
móveis e um porta-retrato de nós dois. Não precisa vir hoje ou nem
amanhã. Só vem um dia e me tira dessa cidade perdida, dessa confusão que
implica em me deixar perambulando pela rua e uns pensamentos que
cortam, me tira desse conformismo absurdo e me afunda. Me afoga, me
enforca, me joga do alto de um edifício, mas não me deixa viver essa
coisa que não me deixa ver todas as coisas boas que os seus olhos verdes contam, Deus fez eu e você de olhos verdes, para simplesmente enxergarmos tudo com esperança, e a minha encontrei em você, e você em mim. Só vem um dia, larga as malas na porta, bota o pé pra
dentro de casa e cuida de mim.
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