Lembrei-me de uma história que eu tinha lido uma vez em ‘Programa de
Corridas’ sobre um garanhão que ninguém conseguia fazer com que
acasalasse com éguas. Trouxeram as éguas mais bonitas que puderam
encontrar, mas o garanhão as refutava. Então alguém, que sabia das
coisas teve uma ideia. Cobriu de lama uma das belas éguas, e o garanhão
imediatamente a montou. A teoria era de que o garanhão se sentia
inferior a toda aquela beleza, mas que, diante da fêmea enlameada, pôde
ao menos se sentir em pé de igualdade, quando não superior a ela, e
assim funcionar. A mente dos cavalos e dos homens pode ser muito
parecida.
Precisamos de humanidade nos olhos já que nossa voz falha por causa do
orgulho. E nossos pés andam para trás porque não suportam o peso do
mundo sobre eles. Sobre a pequeneza de quem não tem nada a ver com a
culpa. Sobre quem gritou de fome e apertou os punhos para não sucumbir à
morte. O corpo não suporta mais a leveza da poesia, que corta as mãos e
as letras escondem-se de quem não lê com o peito ferido. Porque a vida
não dá as mãos e não pede fôlego para ser vivida, para ser sentida. E os
pulmões também encolhem de solidão. Também se tornam menores que o
convencional por causa do ar que-não-respiro. É preciso humanidade na
hora de aceitar a dor porque se não fosse assim não haveria riso e os
abraços acabariam antes mesmo de começar. A humanidade de meus olhos,
que gritam sem sufocar a voz.
Não me desculpo, eu precisava fazer, não importava o quanto fosse doer,
me dá uma fissura, eu tinha de fazer. Cada santo dia daquele ano que
você ficou-ficando com aquele mentecapto, prometi a mim mesmo que na
primeira oportunidade eu morderia sua bunda. Bem forte. Pra deixar
marcas róseas de dente e resquícios de saliva. Uma mordida de boca
cheia, pra você sentir em dez segundos a fração de dor que eu sentia
cada vez que via ele parafusar o antebraço na sua cintura, e não eu.
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