"Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de
ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por
seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas
daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore
ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a
árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos
é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os
reconhecerão!", Mateus 7:15-20.
***
Havia
um menino que tinha o sonho de ser um grande escritor ou melhor, um
famoso escritor. Desde pequeno ele criava suas estórias e tentava de
todas as formas mostrar para o maior número de pessoas possíveis aquilo
que havia produzido. Um talento nascia, mas esse se perdera quando a
criança passou a se preocupar mais com a quantidade do que com a
qualidade.
O tempo passou e aquele sonho que era inocente, se
transformou em uma doença sem cura, que carregava consigo grandes doses
de ignorância e um falso orgulho, tudo por que o mundo não era tão
fácil, tudo por que haviam outros com os mesmos planos ou outros que não
tinham os mesmos interesses, mas acabavam cruzando a mesma estrada.
O
jovem passou a ver a escrita como uma guerra, sem ao menos perceber que
era possível decidir, entre seguir sozinho ou se envolver nos caminhos
alheios.
Foi assim que os propósitos de escrita que o rapaz
transmitia em seus primeiros textos se perderam, dando lugar ao
amontoado de palavras que só expressavam sangue e pseudo-críticas,
violência sem sentido e atos desumanos, que só agradavam
desequilibrados. As obras eram resultados de uma mente fraca, por muitas
vezes plagiadora e ainda imatura, que insistia em sobreviver e em
escrever, cada vez mais e mais.
Mesmo com todos os obstáculos e
com o pouco talento, o rapaz seguia escrevendo, pois essa era sua única
saída. Era na escrita que criava suas aventuras, seus amigos e seus
amores. Muitos podem dizer que não há problema nisso tudo, certo? Mas
uma coisa é fato, não se pode viver entre o real e o ficcional, não se
pode brincar de Deus e criar seu próprio mundo, a uma linha que separa o
escritor de suas obras. O erro do jovem escritor foi apagar essa
linha, tudo por que mesmo estando em meio a tantos familiares, ainda se
sentia sozinho, como se carregasse consigo um fardo, uma avassaladora
solidão.
O remédio foi a criação de falsos amigos e inimigos, deu
para si mesmo o título de mestre, de líder. Enganou dezenas e manipulou
centenas, tudo sem perceber que ainda era um eterno amador, bancando um
Profeta do Macabro.
Passaram se anos até que o preço por todas
as mentiras enfim ganhou lugar. E esse veio mascarado, transformado e
materializado na figura de um terrível demônio. Um monstro negro, com
mais de dois metros de altura e um par de olhos azuis que certa noite
apareceu na frente da cama do escritor enquanto o mesmo dormia.
A besta se chamava Egoísmo e já estava faminta, por tantas falsas esperanças alimentadas durante anos.
Quando
o escritor acordou, nem se deu conta de que tudo era verdade. Achou que
aquele era mais um de seus pesadelos e até chegou a cogitar a ideia de
aproveitar aquela situação no dia seguinte para escrever um conto. Mas
não teve tempo para fazer isso, pois o monstro que lhe encarava avançou
em sua direção. Subiu em cima de sua cama e lhe arrancou o coração.
No
momento em que estavam cara a cara, o velho escritor fitou seu algoz e
por alguns segundos; durante o tempo em que a vida ainda fazia parte de
seu corpo; Viu na besta um menino, um garoto sonhador, mas que ao mesmo
tempo carregava no olhar desprezo e decepção.
Então a dor atingiu seu ápice, um frio percorreu a espinha do velho prosador e depois, foi só escuridão para o falecido.
Levou
mais uma semana para que um dos vizinhos invadissem a casa daquele
estranho homem que se dizia escritor. Quando isso aconteceu, encontraram
o velho, com seus cinquenta e quatro anos, deitado na cama, de olhos
abertos, como se encarasse o infinito.
Um estranho fato chamou a
atenção dos moradores do prédio, da residencia do defunto saia um forte
cheiro de queimado, que contaminou todo o corredor durante uma semana.
Nunca ninguém conseguiu explicar o ocorrido.
Após as autoridades
serem chamadas, uma perícia aconteceu e o resultado dos médicos foi
unanime. Lúcio Da Silva morrera devido a um ataque cardíaco. Mas mal
sabiam os doutores, que a verdadeira causa do óbito era o Carma. As
vezes as coisas demoram um pouco, mas como dizem os antigos, tudo que
vai, volta...
FIM
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