Eu contemplava o sangue pingando na pia do banheiro enquanto a dor me
consumia. Abri a torneira e limpei o aparelho de barbear, em seguida
meus pulsos, sentindo uma dor pior do que a de antes, mas ainda assim
menor do que a que eu sentia por dentro.
Joguei o aparelho na bolsa e
me sentei no chão. Ainda não podia acreditar que ele havia me deixado.
Uma semana, uma semana de namoro! E então ele me trocou por aquela
idiota, depois de tudo o que me disse, de tudo que me prometeu. A pior
parte era que eu sabia, lá no fundo, que ainda o amava. Desgraçado.
Lágrimas
pingavam em minha camiseta. Foi quando tomei uma decisão, resolveria
tudo isso do meu jeito. Enxuguei as lágrimas e saí do banheiro do hotel,
pegando antes um pacote que jurei a mim mesma que nunca usaria, mas
agora era necessário.
Fui até o shopping, pois sabia que ele e sua
namorada tosca estariam ali, assim como eu e ele há 3 semanas. As
lembranças que cada canto daquele lugar me traziam eram quase
insuportáveis, mas eu não podia chorar, não agora. Procurei pelo
shopping todo, até encontrar ele e sua namoradinha sentados num banco. O
mesmo banco onde demos nosso primeiro beijo e ele me disse que ninguém
me tiraria dele. Promessas vazias, é claro.
Me aproximei, respirando
fundo e colocando aquele maldito sorriso falso no rosto. Não queria que
ele soubesse o quanto sentia sua falta, ou o quanto fiquei triste
quando ele se foi.
- Pedro? - eu disse, parecendo surpresa.
Ele ergueu seus olhos castanhos, olhando para mim. Segundos depois sorriu, como se fôssemos velhos amigos, mas não se levantou.
- Clara? Sim, quanto tempo! O que faz aqui? - perguntou-me.
- Estava apenas procurando um presente para minha mãe. Você sabe, amanhã é aniversário dela. E vocês?
-
Só... namorando - respondeu sua namorada idiota, com um sorriso. Eles
se beijaram, e reuni toda as minhas forças para não desabar ali mesmo, e
dizer tudo o que Pedro precisava ouvir. Tinha de ser forte, logo isso
acabaria.
Sorri, e disse:
- Desculpa interromper, mas Ana, posso trocar umas palavrinhas com você?
- Uhum. Já volto, amor - disse ela.
Acenei para Pedro e segui com Ana para o banheiro, conversando como quem não quer nada. O banheiro estava vazio, ótimo.
Tranquei a porta e tratei de cobrir todas as câmeras que encontrei. Ana me olhou, intrigada.
- Por que está fazendo isso? - perguntou.
- É uma conversa particular, não quero que ninguém saiba.
Quando
tirei o pacote de minha bolsa, Ana afastou-se, e eu pude ver o medo em
seus olhos. Sorri e tirei a arma do tal pacote, colocando luvas antes.
Ana tentou gritar, mas fui mais rápida e tapei sua boca com minha mão.
-
Quieta, vadia - bati nela com a arma, ela caiu inconsciente em meus
braços. - Eu amava Pedro, e ainda amo. Tínhamos uma bela vida pela
frente, mas você, sua idiota, estragou tudo dizendo a ele que ainda o
amava. Ele acreditou, é claro, e me trocou por você. Mas agora isso vai
acabar, e Pedro será meu de novo.
Ela recobrou a consciência, e
tentou se desvencilhar de meus braços. Tarde demais, atirei em sua
cabeça, estourando seus miolos. Sorri e guardei a arma, tirei um vidro
de acetona de minha bolsa e espalhei pelo banheiro, acendendo um fósforo
em seguida e jogando-o sobre o corpo de Ana. Destranquei a porta e dei a
volta no shopping, para que Pedro pensasse que vim de outro lugar. Algo
desnecessário, já que várias pessoas corriam em direção à saída.
O
fogo havia se espalhado rapidamente, e todos estavam em pânico. Corri
também, como se não soubesse de nada, e lá fora encontrei Pedro, aos
prantos.
- Cadê a Ana? - gritou, desesperado.
- Não sei, eu estava caminhando com ela e então o incêndio começou. perdi ela de vista, me desculpe.
Hoje
eu e Pedro somos casados, ele não desconfia de nada e vez ou outra diz
que tem pesadelos com Ana, nos quais ela aparece queimada e tentando lhe
dizer algo, mas tudo o que consegue é dizer meu nome. Ele entende isso
como um pedido de Ana para que ele fique comigo. O shopping foi
totalmente destruído pelo fogo e junto com Ana, mais de 100 pessoas se
foram. Hoje o local é um terreno vazio, que todos dizem ter medo por
ouvir vozes pedindo ajuda. Não me arrependo de nada do que fiz, e é por
isso que hoje ajudo casais como eu e Pedro uma vez fomos, matando quem
faz sofrer as ex-namoradas dos rapazes. Alguns voltam, outros não, e
então tenho de acabar com todos os envolvidos na história. Pedro não
desconfia de nada, acha que sou apenas uma dona de casa inocente. Melhor
assim.
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