Suando
da cabeça aos pés estava José, o sol quente raiou o dia, e sua pele
queimada refletia sua vontade de arrumar logo um emprego. Em suas mãos o
último curriculum sujo e amaçado. Caminhava pensativo pela calçada, e
logo á sua frente notou aquele velho cemitério, nunca havia passado por
este, pois chegou faz pouco tempo do nordeste e não conhecia quase nada
do bairro onde vivia.
"Precisa-se urgentemente de um vigia noturno". Dizia
a placa logo na entrada do cemitério municipal de Araras. José engoliu
seu medo e na ânsia de arrumar logo trabalho, adentrou em posse de seu
curriculum. Logo na entrada avistou o responsável pela contratação de
funcionários. Aquele com certeza era seu dia de sorte.
– Olá senhor, posso deixar meu curriculum? – Perguntou José passando a mão em sua testa suada.
– Olá senhor, posso deixar meu curriculum? – Perguntou José passando a mão em sua testa suada.
O
diretor do local olhou satisfeito o bom homem e logo percebeu que ele
vinha das cabeceiras, lhe estendeu a mão em cumprimento e lhe disse
saudoso:
– É claro que sim meu bom homem – Apertou a mão de José e o perguntou – E como se chama?
José abriu o sorriso mostrando seus dentes cariados e respondeu alegre.
– Me chamo José senhor... José Antônio.
O
diretor do cemitério coçou a cabeça, passou as mãos em sua boca e
mordeu os lábios inferiores. Depois de pensar bastante decidiu dar uma
chance para o pobre homem.
– Então está bem José. Venha amanhã às dezenove horas. Esse será seu horário, das dezenove até as seis da manhã. Até mais José.
Em casa José alegre da vida contou a novidade para sua esposa Maria.
– O muié, arrumei um trabalho!
Dona Maria abriu um belo sorriso, abraçou o marido e perguntou eufórica.
– Mas de que homem?
– Em um cemitério mulher, serei vigia dos mortos.
–
Vala me Deus – Se assustou dona Maria, fez o sinal da cruz e abençoou o
marido – Cuidado com o que tu fala homem, logo um cemitério, Deus que
te proteja das assombrações...
–
Que assombração o que – Resmungou seu José – Da meu marmitex que se não
eu chego atrasado, e chegar atrasado no primeiro dia não é bom!
Passando
pela calçada próxima do cemitério, José sentiu um calafrio na espinha
ao ouvir o som de uma coruja. Acelerou os passos e tropeçou na macumba.
Tremulo e assustado o homem fez o sinal da cruz e repreendeu o mal.
–
Meu pai, me proteja e me levante, tira esse mal da terra! – Seguiu até a
porta do cemitério e adentrou no local – Nossa senhora... O medo
lazarento, tá repreendido!
Lá
dentro José iniciou seus trabalhos, o outro vigia lhe cumprimentou e
foi embora, deixando o covarde José sozinho naquele silêncio dos mortos.
–
O meu pai, mais que lugar mais do estranho – Dizia José em posse de sua
lanterna, caminhando entre os túmulos do cemitério – Rapaz mais o que é
isso! – Se assustou José, que logo correu até sua guarita, e com o
coração acelerado sussurrou amedrontado – Que desgraça foi aquela que
passou pelo meu pé... Deus do céu, será que existe mesmo isso de
assombração?
O
medo era tanto que ele permaneceu na guarita. Abraçou o terço colado ao
peito e rezou de olhos fechados. Ao abrir os olhos teve uma visão
assustadora, tremeu da cabeça aos pés, avistando um vulto negro com dois
olhos vermelhos passar rápido pelas lapides. De repente seu coração
acelerou ainda mais, a criatura começou a lhe encarar. O homem
amedrontado novamente fechou os olhos e clamou a Deus por ajuda:
– Deus do céu... Meu senhor me ajude e me guarde – Apertou as mãos e abriu os olhos – Graças ao meu bom jesus... – Respirou aliviado vendo que a criatura havia sumido. Alcançou a garrafa de café e tomou um gole.
Tudo isso logo na primeira noite... Pobre do vigia, se fosse velho já teria um ataque cardíaco. Enquanto apreciava o café quentinho, seu José pensou bem se voltaria no dia seguinte. Mas também pensou em sua mulher, e no aluguel atrasado que já devia há dois meses. Suas pernas então começaram a doer, ficar parado não era costume para o nordestino arretado. Decidiu então caminhar próximo de onde estava.
Nesta hora o coitado sofreu mais um ataque de medo, sentiu rapidamente algo passar novamente por entre suas pernas, deu uma pirueta no ar e caiu de bunda na grama úmida.
Tudo isso logo na primeira noite... Pobre do vigia, se fosse velho já teria um ataque cardíaco. Enquanto apreciava o café quentinho, seu José pensou bem se voltaria no dia seguinte. Mas também pensou em sua mulher, e no aluguel atrasado que já devia há dois meses. Suas pernas então começaram a doer, ficar parado não era costume para o nordestino arretado. Decidiu então caminhar próximo de onde estava.
Nesta hora o coitado sofreu mais um ataque de medo, sentiu rapidamente algo passar novamente por entre suas pernas, deu uma pirueta no ar e caiu de bunda na grama úmida.
– Oh, meu Deus! Assim eu não aguento – Olhou suas mãos tremulas e se levantou – Mas o que era aquilo...
Seu José nem teve tempo para se recompor do susto. Notou uma velha colocando velas na porta do cemitério, era uma macumbeira...
–
O muié, eu sei que a senhora é do coisa ruim, mas não dava pra fazer
isso na esquina – Disse o vigia de trás do grande portão de ferro – É
que... É o meu primeiro dia de trabalho, e eu não estou afim de receber
broncas.
A
velha o olhou insana, chutou a própria macumba e puxou os próprios
cabelos em extrema ira. Encarou a face covarde de José e praguejou
indignada.
–
Seu vigia de merda! Como ousa me atrapalhar! As almas desgraçadas ei de
lhe atormentar esta noite! – Virou as costas e se foi, mas antes deu um
aviso – Cuidado seu imundo, muito cuidado esta noite...
Era
tudo que ele precisava, se já não bastasse o medo, agora também estava
amaldiçoado. Aquelas palavras lhe percorreram a mente, e José atordoado
voltou ao seu posto. Enquanto caminhava, notou uma cova aberta; De lá
inúmeras baratas saiam, ratos corriam entre o velho túmulo violado.
Aquela foi a gota d´água. José tremia desnorteado sem saber o que fazer,
o cheiro pútrido lhe impregnou as narinas, e quando virou para trás,
notou um cadáver sendo arrastado em direção à ala principal do
cemitério.
– Mais que merda é essa... – Ligou a lanterna e foi para fundo do cemitério, ao menos lá ninguém lhe viria.
No
canto da parede suja, José se acolheu feito um bebê. O homem aflito
tremia descontrolado, milhares de pensamentos vieram a tona, "será que os mortos tomaram vida, são fantasmas..." O vigia não sabia o que fazer, permaneceu ali na esperança de raiar o dia. Olhou para o relógio e viu: Cinco horas e quarenta e quatro minutos. Faltava
pouco para o sol nascer. Antes disso José se cagou de medo, olhava em
pânico novamente aquela assombração lhe atormentar, na mesma hora as
palavras da macumbeira rondaram sua mente. Os olhos vermelhos fitavam
José. O sol nasceu e então clareou o espectro. O vigia ao notar a criatura sob a luz do sol, respirou fundo e sussurrou aliviado.
– Um maldito gato? Eu fiquei com medo de um maldito gato preto!
Caminhou enraivado até o portão e notou o vigia da manhã chegar, abriu a porta e o guiou até a cova aberta.
Caminhou enraivado até o portão e notou o vigia da manhã chegar, abriu a porta e o guiou até a cova aberta.
– Olha isso amigo – Disse José mostrando a estranha cova – Alguém saiu dai, eu vi o defunto caminhando!
Seu
Jaime, o vigia da manhã, caminhou com José até a ala principal, ambos
contemplaram o cadáver em decomposição estirado no chão. Seu Jaime logo
chamou a policia.
Minutos Depois...
A
policia então pegou a gravação das câmeras noturnas e mostrou para os
dois. A filmagem mostrava José discutindo com a macumbeira, enquanto
dois homens violaram a cova, e na ala principal com um alicate,
removeram os dentes de ouro do cadáver de um homem rico.
José
sorriu aliviado, pois teve certeza que assombrações não existiam...
Após prestar depoimento foi para sua casa, carregando nas mãos o gato
preto. O diretor não culpou José, pois crimes assim já haviam ocorrido
muitas vezes. O bom nordestino criou coragem e todas as noites vigiava
sem medo o cemitério, junto de mais um vigia e seu gato sapeca.
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