quarta-feira, 25 de junho de 2014
Criei a minha dor à imagem e semelhança de nosso amor. É a cara de nosso
amor, o temperamento de nosso amor, a loucura de nosso amor. É o nosso
amor, igualzinho. Quando sofro, penso que é você me abraçando. Quando
soluço, penso que é você me beijando. A dor tem sua vacilação, demora a
definir o que deseja pela ânsia de ter tudo. A dor tem sua
passionalidade, sua vontade de morrer beijando. A dor é quase você e
eu, mas é, na verdade, minha saudade de você. Estaria impressionada com a
coincidência. Minha dor tem sua curiosidade, tem seu charme, tem seu
desespero, tem seu modo de pedir desculpa, tem seu
modo de me xingar. Minha dor tem seu sotaque, tem sua
paixão por adventure time, tem sua nostalgia. Minha dor é você
inteira, é você fielmente descrita, é você perfeitamente narrada. Até
minha dor puxou por você, até minha dor me abandonou para ser você, até
minha dor me largou para lhe dar razão. Eu me mato chorando e não
derramo seus olhos para fora dos meus olhos. Eu me afogo em mágoas e não
tiro o cheiro de seus cabelos de meu rosto. A dor me seduz, a dor me
engana, a dor mente que é você, eu fico com mais vontade de sofrer do
que viver. É o nosso amor, idêntico, tem que ver, não tem como não
acompanhar, não tem como não ceder ao encanto, apenas quem conhece o
nosso amor descobrirá a diferença entre os dois. É o que vivemos juntos
sem futuro, é o que vivemos juntos parado no tempo, é o que vivemos
juntos desfalcado de esperança. Se houvesse amanhã, minha dor seria o
nosso amor. Mas como não há, nosso amor de ontem é minha dor. Precisa
acreditar, minha dor é muito parecida com o nosso amor, nem um filho
seria tão leal aos traços. É a mesma estatura de nosso amor, o mesmo
peso de nosso amor, o mesmo volume de nosso amor, longe de você para
dividir. Sou capaz de pedir em namoro minha dor. Sou capaz de noivar com
minha dor. Sou capaz de casar com minha dor. E só me separo dela se
você voltar.
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