Não sei se é por não conseguir dizer isso sem tropeçar na própria língua
ou se é apenas medo de ultrapassar os limites dos meus sentidos outra
vez. Olha, eu gosto de você. Não sei bem como, mas gosto. De um jeito
desgraçadamente ávido e absurdo. Você me lembra os sonhos que não
realizei na pretensão de ter sonhos demais e me lembra os sonhos que
ficaram perdidos em meio a outros rostos que não eram o seu. Enquanto
você se sente no direito de amar o mundo e me deixar aqui discutindo
comigo mesmo, finjo não saber o que quero e me sinto estagnado, tão
inútil quanto tomar dipirona pra dor na alma. Tudo isso só pra não
parecer mais mentecapto que aquele outro cara que gerencia pessimamente a
sua empresa de sentimentos generosos, que são tão bonitinhos quanto
quem os sente. Talvez eu não seja um bom gerente também, mas sei lá, as
coisas seriam mais fáceis se somente eu recebesse o apoio da dona da
firma.
Claro que me dá um medo de estar me transformando numa criatura
intoxicada de palavras escritas.
tenho visões futuras onde me vejo
fechado num lugar com as paredes cobertas de livros, quem sabe gatos, um
som e mais nada. Meu coração tá ferido de amar errado, você me entende?
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