domingo, 29 de junho de 2014
Lágrimas
Minhas lágrimas nunca foram argumentos para explicar
a real obsessão que eu sentia por ela, nunca foram argumentos para
explicar porra nenhuma, na verdade. Eu só chorava, chorava, chorava,
baixinho, e ela fingia que não ouvia porque é isso que em geral fazem
quando encontram alguém chorando, não? E quanto mais eu tentava parar
com a choradeira, mais eu chorava, me debruçando igual criança querendo o
suco de uva da geladeira. E eu ainda esperava, cara, esperava um tocar
de dedos sobre os ombros e aquela voz mansa tocar-me os tímpanos, ou
qualquer voz mansa, qualquer uma, só para me dizer qualquer coisa dessas
não-chora-estou-aqui-fica-tranquilo-meu-bem, mas não. Não veio toque e
voz nenhuma para dizer o que eu deveria ou não fazer, e por isso não fiz
coisa alguma, só continuei aqui, me relacionando com o vazio, esperando
respostas das perguntas que já nem lembro de ter feito, olhando pela
janela do quarto e tentando entender o porquê das coisas serem tão cruéis comigo como são.
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