domingo, 29 de junho de 2014
Escrever por escrever
Entrei no quarto e escrevi uns dez poemas sobre a
vida, um atrás do outro, com vontade de rasgar o mundo e jogá-lo no
vaso, com direito à descarga e tudo. Mas o mundo é grande demais pra
isso, então me contentei em rasgar só meus braços, e alguns papéis. Jogo sempre o que não
presta ao lado da cama. Pilhas e pilhas de papéis amassados, rasgados,
trucidados, sem esperança. Minha irmã reclama. Joga logo essas porras no
lixo, ela diz. Não jogo. Esses pedaços de papel valem muito, cara. Eu
achava que não valiam, mas valem. Toda e qualquer coisa sempre vale
alguma coisa para alguém. Ah, isis, vou jogar nada no lixo não, eu berro
do quarto. E deito por uns vinte segundos, e nesse meio tempo lembro de
ter escrito um artigo sobre estupros coletivos na Índia quando fazia o
primeiro ano do ensino médio, mostrei pra minha irmã e ela me perguntou
pra quê caralhos eu estava escrevendo sobre estupros coletivos na Índia.
Sei lá, porra, escrever não tem porquê. Saí do quarto. Vi minha irmã
deitada no sofá. Voltei pro quarto e escrevi sobre minha irmã deitada no
sofá assistindo domingão do Faustão. Escrevi um página e meia falando
mal do Faustão e esqueci que o foco do texto era minha irmã. Saí do
quarto, peguei a xícara e procurei pela garrafa de café. Não tinha café.
Guardei a xícara. Voltei pro quarto. Escrevi meia página sobre uma
xícara de café solitária que não tinha um companheiro, pois as garrafas
de café andavam meio difíceis, fazendo cu doce. Mais uma página, agora
sobre pessoas que fazem cu doce. Agora mais uma, sobre pessoas que fazem
cu doce mesmo quando não querem fazer. Mais uma, sobre pessoas que não
fazem cu doce porque sequer conseguem ter a chance de fazê-lo, de tão
solitárias e desprezadas. E outra página, agora sobre aquele cara que
nadava num rio da Austrália e deu de cara com um tubarão que sequer o
atacou (porra, como assim?), e mais uma, sobre aquele gol do Van Persie
no primeiro jogo da Copa do Mundo no Brasil, puta que pariu, que golaço.
Ou então sobre a seleção da Alemanha, Müller joga muito, não acha? E a
mordida do Suárez, então? Caralho, eu ri bastante, ele deve ter alguma
doença. Bem, fodam-se essas coisas todas. Vou dormir, esquecer o mundo, porque agora também perdi o que mais me inspirava a postar nesse blog chato e parado, que ela ainda deve acompanhar, um salve pra você branquela. É isso. Ah, antes
disso, mais uma página, agora sobre…
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