ra uma noite fria e sem estrelas, a lua estava oculta pelas nuvens e um
vento gélido mantinha todos presos em suas casas. Dois garotos
adentravam o cemitério da cidade, eles discutiam alguma coisa e pareciam
ansiosos e preocupados.
—Estou dizendo, isso não vai dar certo, e mesmo que consiga o que vamos fazer com ele depois? - Paulo fitou seu amigo.
—Não sei, mas se isso da vida aos mortos eu quero saber - Lucas fitou o estranho livro em suas mãos.
—É ali - Paulo apontou para uma lápide não muito longe.
Suas roupas perderam as cores e eles se transformaram em dois vultos
que corriam pela escuridão. Eles pararam subitamente e Lucas começou a
folhear o livro de couro e letras douradas.
—Seu avô está
enterrado aqui, este livro é dele, se ele não gostar de te ver com o
livro dele sabe-se lá o que ele pode fazer - Paulo teve um terrível
pressentimento, mas preferiu deixar Lucas continuar com suas ideias.
Lucas não deu atenção a seu amigo e começou a ler palavras esquisitas,
quase que soletrando. Quando disse as ultimas palavras fechou o livro e
um trovão ecoou pelas nuvens.
—Não aconteceu nada, vamos embora - Paulo girou os tornozelos para ir embora, mas Lucas notou alguma coisa.
—Espere, ouviu isso?
—O que? - Paulo franziu a testa.
A grama abaixo dos pés dos garotos começou a vibrar, e com uma fúria
indescritível uma mão brotou das entranhas da terra e agarrou a perna de
Lucas. Seu amigo o libertou com chutes e ambos correram para a saída do
cemitério, mas quando chegaram lá ficaram surpresos, o portão sumira e
em seu lugar havia apenas um alto muro de tijolos.
—Onde está a saída? - os olhos de Lucas percorreram toda a extensão do muro, mas não encontraram nada.
—Lucas... o seu avô está atrás de nós... - Paulo gaguejou ao ver a sombra que se aproximava.
—Ele deve estar querendo o livro, jogue! - gritou Paulo.
O avô de Lucas se arrastava pelas sombras e seu neto jogou o livro a
seus pés, mas ele não pegou o livro e passou direto. Ele se aproximou e
seus ossos quebrados, pele rasgada e cheiro podre ficaram cada vez mais
aparentes.
—Por que... me trouxeram de volta... - a voz rouca do
zumbi ecoou por todos os lados. - Vocês não deviam ter tocado no
livro... Vão pagar por isso...
O zumbi começou a repetir as mesmas
palavras esquisitas que Lucas pronunciara antes e outro trovão ecoou
pelas nuvens. O solo de todo cemitério começou a vibrar e varias mãos
brotaram do chão e se prenderam aos garotos.
—Lucas! Faça alguma
coisa! - Paulo pedia ajuda a seu amigo ao mesmo tempo em que observava
centenas de zumbis brotarem do chão e virem ao seu encontro.
—Eu
não sei o que fazer! Estamos presos! - Lucas se debatia para libertar-se
das mãos que o prendiam, mas era um esforço em vão.
Os zumbis
puxaram os garotos e eles caíram, barulho de ossos se quebrando e gritos
de dor suplicando por ajuda ecoaram pelo cemitério. Mas ninguém ouviu
os gritos e eles foram devorados vivos, o zumbi avô de Lucas assistiu a
tudo e se virou para fitar o livro que o trouxe de volta ao mundo dos
vivos, do monstro de rosto desfigurado se fez ouvir uma frase:
—Nunca mexam no livro...
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