Passava da meia noite e chovia forte. Relâmpagos marcavam o céu sem
estrelas, numa noite cinza. A lama cobria as pernas, sapatos de Raquel,
que pouco olhava para trás tomada pelo medo de ver o animal que a
perseguia. Seus olhos lacrimejavam misturando-se com os pingos de água
que tomavam a sua face.
Um tropeço e o seu corpo misturou-se com a lama, poça de água. Uma mão
tocou-lhe as pernas começando a arrastá-la floresta adentro. Uma voz
rouca falava-lhe sobre o quanto fora estúpida por ter tentado fugir. Em
alguns minutos Raquel se viu arrastada para dentro de um calabouço. Seu
corpo jogado ao encontro de uma parede foi acorrentado, surrado. A porta
foi fechada e ela se viu novamente isolada do mundo. Alguns minutos na
completa escuridão a deixou atordoada, mas nada poderia ser pior do que
aquela luz que anunciava a abertura da porta e a entrada em sua cela,
novamente, por seu carrasco. Um grito tomou a noite e a resposta chegou
logo depois: - Cala a boca!
Rogério chega sujo de lama em sua casa. Deixa as roupas espalhadas pela
sala e corre para o banheiro. Soca o azulejo e fica resmungando
enquanto a água cai em seus ombros: - Raquel!
Uma batida forte na porta acorda Marcela. Ela retira a máscara que
colocara para dormir, se enrola em uma toalha e caminha para a porta de
sua casa. Ao olhar pelo olho-mágico pula para traz como se assustada e
retorna para a porta com um grande sorriso. Lentamente a porta vai se
abrindo. Uma pessoa entra e com os olhos em brilho Marcela fala o nome
de seu visitante: - Rogério!
Rogério caminha até o sofá da sala de Marcela. Senta e começa a falar
sobre Raquel. O quanto se arrependia de seu casamento. O quanto Raquel
falhava como mulher, esposa e a sua saudade do namoro, com ela, que
rompera para se juntar a Raquel.
- Eu compreendo Rogério, mas acabou e Raquel é a minha amiga.
- Eu sei, apenas vim até aqui para desabafar com alguém que confio.
- Entendo, onde esta Raquel?
- Não sei e também não me interessa!
Marcela convidou Rogério para um almoço, em outro dia. Ajudou, ao seu
ex-namorado, a caminhar até a porta e se despediu. Entrou em casa
apreensiva, organizou seu quarto, preparou um café e seguiu para o
trabalho. Mas de sua mente não saia o nome de Raquel.
Um vento frio soprava na madrugada. As árvores se dobravam quase a
quebrar. Em passos firmes uma figura entrava mata adentro. Carregava um
facão de corte normalmente utilizado para abrir picadas. Em meio à
escuridão uma casa de madeira se destacava. Logo a figura entra na casa e
ao chegar no meio da sala abre um alçapão.
O barulho dos passos e a abertura do alçapão acordam Raquel. Seus olhos
viciados com a escuridão não conseguem visualizar quem entrava, mas ela
sabia que se tratava de seu carrasco. Um grito de desespero tomou a
noite. Uma mão ergueu um facão colocando-o na direção de Raquel. Um som
que lembrava um tiro rompeu a madrugada.
Três horas se passaram
No fundo da sala de interrogatórios de uma Delegacia Raquel se encolhia
sentada em uma cadeira enquanto um Detetive a entrevistava. Seu rosto
tomado por lágrimas não escondia o pavor que refletia a sua face. Depois
de vários esclarecimentos pergunta ao Detetive:
- Não compreendo doutor, como que uma pessoa tão próxima pode fazer uma
coisa destas comigo, por ciúmes! Por alguns minutos quando a luz
começou a entrar, no local que eu estava aprisionada, acreditei que
seria morta. Mais ainda quando escutei o tiro, mas o tiro não era para
mim e sim para o meu carrasco.
A entrevista foi interrompida quando a porta se abre e a segunda pessoa
envolvida entra na sala. Raquel grita: - Como isso aconteceu!
- Eu provoquei, pois sabia do que ela era capaz, Marcela ainda me amava. – Falava Rogério visivelmente entristecido.
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