Ela era linda. Ele a admirava, mas achava quase impossível conquistá-la.
Era uma verdadeira deusa desfilando sua beleza pelas passarelas do
bairro e ele, recolhido a sua timidez, apenas a observava à distância
Um
dia se encheu de coragem. Roubou uma rosa vermelha para presenteá-la.
Esperou-a ansiosamente e num gesto inesperado curvou-se diante dela e
ofereceu-lhe a flor. Ela sorriu, surpresa e exclamou:
- Nossa! Que linda. A quanto tempo não ganhava uma flor.
E assim dizendo tascou-lhe um beijo na face.
Naquela noite quase não dormiu. A imagem dela sorrindo não lhe saia da cabeça. E o beijo? Ganhara um beijo da deusa do bairro.
A
partir daquele dia sempre a esperava. Todas as tardes, as cinco, era a
hora em que ela passava. Cumprimentava-a com um sorriso que ela sempre
retribuía simpaticamente.
Até que juntou mais coragem do que tinha e
resolveu convidá-la para um jantar. Imaginou levá-la a um restaurante
sofisticado à beira mar. Ela iria adorar.
Na sexta-feira arrumou-se
todo. Não conseguia segurar a ansiedade. Imaginou-se entrando com ela no
restaurante sob o olhar de inveja de todos os homens presentes.
As
nove horas passou pelo lugar combinado. Não a viu. Uma tristeza invadiu
seu coração. Ela não viria. Restaria a ele voltar para casa desolado e
tirar a roupa que comprara com certo sacrifício.
Até que avistou-a.
Seu coração pulsou forte e quase lhe saiu pela boca. Lá vinha ela num
vestido verde esmeralda, linda como nunca.
No restaurante,portou-se
como um perfeito cavalheiro. Puxou a cadeira gentilmente para que ela
tomasse assento e caprichou no uso dos talheres. O maitre lhe chamou de
Dr. Gustavo, conforme combinado no dia anterior. Ela ficou
impressionada.
Quando a deixou na porta do prédio em que ela morava deu-lhe um beijo tímido na boca que ela correspondeu prontamente .
Namoraram
por alguns meses. Ela era a mulher perfeita. Gustavo estava
completamente apaixonado. Mandava-lhe flores, fazia poesias e não se
cansava de lhe fazer declarações de amor e, felicidade suprema, era
totalmente correspondido. Ela retribua toda a atenção que ele lhe dava
Todos os dias reafirmava seu amor por ele. Formavam um casal perfeito.
O
tempo passou e tudo começou a mudar. Ela já não lhe respondia os
e-mails e as declarações de amor passaram a ter mão única. Até os
encontros se tornaram mais raros. Ouvir ela dizer um "eu te amo", como
antes, era cada vez mais difícil.
Em um final de semana em que haviam
combinado um encontro ela disse que não poderia comparecer. Tinha um
compromisso. Ele, resignado, passou aquele o sábado e o domingo sozinho.
Resolveu
caminhar pela praia. Sentou-se na areia pensativo. O que estaria
ocorrendo com ela? Sabia que também ele havia mudado de comportamento .
Estava cansado de só dar amor. Já não lhe mandava flores e a inspiração
poética havia sumido. Seus telefonemas se tornaram mais esporádicos.
Sentia que nada mais era como antes. A deusa já não era tão majestade
para ele.
Na semana seguinte encontraram-se rapidamente. Beijou-a sem
muito ânimo. No fundo, talvez nem estivesse com vontade de beijá-la.
Ela percebeu sua frieza, que algo não estava normal.
- O que está acontecendo, amor?
Fazia tanto tempo que ela não lhe chamava assim, de amor.
- Nada. Só estou meio cansado.
Ficaram pouco tempo juntos. Quase nem trocaram carinhos.
No
final de semana seguinte resolveu não encontrá-la. Foi a sua vez de dar
uma desculpa. Inventou uma viagem com um amigo, coisa urgente, um
negócio a ser tratado.
Saiu para caminhar. Estava triste. Percebia
que um amor estava se acabando, chegando ao fim. Não entendia porque ela
havia mudado tanto.
Sentou-se e sorriu para a bela loira que
passava. Ela retribuiu o sorriso com um "olá". Ele convidou-a para que
se sentasse junto a ele. Conversaram animadamente. Era uma mulher
inteligente, simpática, de boa conversa. Perceberam muitas coisas em
comum. Marcaram novos encontros.
Quando a deusa do bairro lhe ligou e perguntou o que estava acontecendo, ele simplesmente lhe falou:
- Acabou. Não tem mais volta. Esqueça de mim.
Ela quis saber o motivo de tudo ter terminado tão rápido. Ele não soube explicar. Apenas disse:
- Não foi tão rápido. Há muito tempo o nosso amor estava em agonia.
A
deusa não entendeu que a sua falta de atenção foi o punhal que
assassinou aquele amor. Tentou demovê-lo. Disse que o amava como nunca,
que não saberia viver sem ele. Era tarde, havia acabado o encanto.
Gustavo
retirou a foto da deusa de sua carteira. Olhou-a, tão linda, mas o que
sentiu foi algo diferente, frio. Diferente das outras vezes não levou o
retrato até os lábios. Simplesmente guardou-o numa gaveta e ali o
esqueceu.
No final da tarde roubou uma rosa vermelha para presentear a
bela loira. Queria manter acesa a chama da paixão. Sabia que o amor é
um sentimento sublime, mas que tem que ser cultivado constantemente,
para não fenecer como uma flor esquecida num vaso , sem atenção, sem
carinho, sem ser regada todos os dias.
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