Era fim de tarde de uma sexta-feira. Cleber apressou-se para sair cedo
do trabalho. Não estava ansioso para rever a esposa, muito pelo
contrário, estava excitado com mais um encontro com sua amante. Pegou um
atalho para chegar mais rápido ao apartamento dela, uma estrada
estreita onde poucos carros trafegavam. Ao longe avistou um caminhão que
havia tombado. Tinha ficado atravessado diagonalmente impedindo
qualquer carro de seguir viagem. Como conhecia muito bem aquela área,
rapidamente manobrou o carro e pegou um desvio, à esquerda. Sabia que o
caminho era mais longo, porém era melhor do que voltar e pegar um
engarrafamento.
Olhou para o marcador de combustível. O tanque
estava um pouco abaixo de ¼. Era suficiente para chegar ao apartamento,
mas dificilmente permitiria voltar para casa pegando a avenida principal
no retorno. Estava preocupado, pois não havia postos de gasolina
naquela região. Tentou não acelerar muito o carro e seguiu com extrema
cautela. Nas ladeiras, desligava o motor e seguia na banguela para
economizar. Rapidamente a noite caiu. Na metade do caminho, para sua
surpresa, avistou um posto de gasolina na margem direita da estrada.
Estava confuso. Tinha certeza de que não havia postos por ali. Por
certo era novo. Além disso, era bem improvisado, tinha apenas uma bomba e
uma pequena cabine de madeira onde ficava o frentista. Exultante,
estacionou o carro e retirou a carteira do bolso.
- Complete, por favor.
O frentista repousava numa velha poltrona dentro da cabine. Sequer
ergueu a cabeça, limitando-se apenas em abrir um dos olhos para
identificar o seu freguês. Fechou-o, deu um longo suspiro, e com muito
esforço ergueu seu esquelético corpo, segurando-se no balcão.
- Aonde vai, patrão?
Cleber não entendeu muito bem a pergunta, pois estava examinando a água
do radiador. Voltou-se para o frentista, limpando suas mãos com uma
flanela.
- Desculpe, o que foi que perguntou?
- Para onde está indo a essa hora?
- Tenho um compromisso, mas acredito que não seja do seu interesse. – respondeu ele, sentindo-se insultado.
O frentista balançou a cabeça negativamente. Terminou de abastecer o
tanque e recolocou a mangueira no seu lugar. Olhou mais uma vez para
Cleber e deixou escapar um sorriso irônico.
- Quanto deu?
- Por conta da casa – respondeu o frentista, voltando para a cabine.
-
Deixe de conversa, meu senhor. A gasolina é caríssima nesse país. Você
colocou praticamente um tanque inteiro. Vou deixar o dinheiro no balcão.
Se não quiser pegar, é problema seu.
Voltou para o carro e
arrancou em primeira marcha. Alguns metros à frente olhou pelo
retrovisor, e estranhamente não viu o posto de gasolina. Ficou indignado
ao perceber que o marcador de combustível ainda indicava ¼ de tanque.
Sabia que iria ficar pelo caminho a qualquer momento.
Acelerou o
carro o máximo que podia. Já havia cruzado dez quilômetros de estrada, e
o ponteiro não havia se mexido um mililitro sequer. “Deve estar com
defeito”, pensou ele. Fez uma curva em altíssima velocidade. O carro
quase derrapou, mas manteve a aderência. Se continuasse naquele ritmo,
chegaria no apartamento da amante em vinte minutos.
Para o seu
azar, o carro começou a dar uns trancos e a perder velocidade. O
marcador havia se mexido e estava no ponto vermelho. Estava sem
gasolina. Pensou em encostar o carro, mas viu na margem direita outro
posto de gasolina, igual ao que abasteceu seu carro anteriormente.
Lá estava, a mesma cabine feita de madeira, e ao lado, a única bomba de
combustível. Chegou ao balcão e viu o mesmo frentista repousando na
poltrona. Ele repetiu o mesmo gesto, abriu um dos olhos para identificar
o seu freguês, e com muita preguiça ergueu-se da poltrona se segurando
no balcão. Mas desta vez não disse nada. Apenas abasteceu o carro e
limpou o pára-brisa. Cleber não acreditava no que estava acontecendo.
Pensou que talvez estivesse errado o caminho e voltado para a mesma
estrada.
- Ficou calado agora... O que houve, meu senhor? Não quer mais puxar conversa?
-
Não preciso puxar conversa. Eu apenas pergunto aonde o freguês quer ir.
Minha gasolina não é comum, pelo contrário, é especial. Mesmo se você
quiser cruzar o país, poderá fazê-lo com um único tanque. Só que no seu
caso tem um sério problema.
- Qual seria o problema? A minha mulher mora alguns quilômetros adiante, por que a gasolina acabou tão rápido?
- Você não disse para onde ia... Deu uma resposta vaga, e até foi grosseiro. Sinto muito por você.
- Como assim? O que vai acontecer comigo?
- Jamais vai chegar ao seu destino. A gasolina vai acabar e sempre vai acabar retornando ao meu posto.
- Você deve estar maluco. Pegue a grana! Preciso sair logo desse lugar.
O frentista voltou para a sua cabine e deixou seu corpo desabar na
velha poltrona. Incrédulo, Cleber seguiu viagem. Sequer completou dez
quilômetros de viagem e logo sua gasolina acabou. Mas para seu terror,
logo à frente estava o velho posto de gasolina
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