Roseli é atormentada por ter perdido sua filha na maternidade de um
hospital, desde então, ela carrega em sua bolsa uma boneca. Mas sentindo
insuficientemente confortada por este brinquedo ela começa ser uma
ameaça a sociedade e principalmente para as maternidades dos hospitais.
Roseli tem trinta anos de idade, e sua saúde psicológica esta
debilitada, ela ouve vozes estranhas, vozes estas que sempre lhe embutem
idéias de roubar as crianças recém nascidas.
“Mãe de bonecas”
Na casa velha onde mora Roseli; vive ela e sua avó, Dona
Menininha, uma simpática velhinha que ate pouco tempo brincava de boneca
com a neta.
Roseli é órfã de mãe e não conheceu seu pai que abandonou a família logo após a morte de sua mãe.
Dona Menininha brincava com Roseli para ajudar a neta se aliviar
das angustias por ter perdido sua filhinha de forma tão grotesca.
Mas devido as enfermidade de Dona Menininha, a velhinha foi
internada num asilo e Roseli ficou só numa grande e velha casa na rua do
cemitério.
Dia 28/10/1965. Roseli – meu deus, onde esta a vózinha? Vó, vó, aonde a senhora foi? Fala comigo vovó.
Sua voz amedrontada ecoa pelos corredores vazios da velha casa, mas não tem resposta.
Ela continua a caminhar e chega ao quarto da Dona Menininha, ela
entra lentamente, olhando pelos contos do quarto, sua esperança era de
encontrar a sua avó. Mas não a encontra.
A janela do quarto
esta fechada, a cortina esta sem nenhum balanço, ela abre a cortina,
abre a janela e de lá ela vê sua boneca caída nos fundos do quintal mal
cuidado da casa velha.
Roseli senta-se no canto do quarto
vazio, abraça forte o travesseiro da velhinha e chora, balbuciando
palavras de pedido de perdão, como se ela sentisse-se culpada pelo
sumiço da sua avó, Roseli não tem idéia de onde sua avó fora levada, ela
pensa que foi novamente abandonada, sem informação de ninguém, a pobre
moça se encolhe como se a submissão lhe fosse o único aconchego.
Roseli fica ali por umas quatro horas, quando já é quase noite, ela se levanta e vai ao quintal para apanhar a boneca.
Ela a abraça e faz carinho em seus cabelos, pergunta pela sua avó, mas sem respostas.
Porem em sua mente conturbada, Roseli se propõe a encontrar um
irmãozinho para sua boneca, ela não quer que ela fique só quando
partires.
E de partidas, Roseli conhece os sabores.
Ela se deita num cantinho, próximo de uma roseira, cobre com um velho véu a boneca e juntas; dormem.
Dormem um profundo sono, ao amanhecer o dia, Roseli se levanta
bem cedo, pega sua boneca, embrulha em panos velhos que ela os
encontra por ali.
E sai de casa, descalça, roupa amassada, cabelos despenteado, com fome.
E vai ao hospital da cidade.
Ela é conhecida por onde anda, todos no hospital a conhecem,
compram bonecas para ela, cuidam dela de um jeito a não deixá-la
abandonada.
Neste dia nasce uma menina linda, a filha do
casal de recém chegados na cidade. Roseli envolve a enfermeira em
conversa, por entender que a moça fosse inofensiva, não lhe ofereceram
resistência.
Roseli adentrou o berçário desprotegido
irresponsavelmente pela direção do hospital e pegou o bebe recém
nascido, embrulhou o nos panos rotos que outrora envolvia sua boneca e o
levou embora.
Ao chegar a sua casa, lembrou-se que a boneca não estava com ela.
Roseli eufórica.
Brincava com o bebe, como se ele entendesse sua voz; - olha só
irmãzinha, sua mãe é irresponsável, deixou sua irmãzinha no hospital,
aiaiaiai, mamãe malvada, abandonou a filhinha, fica aqui boazinha que a
mamãe volta logo.
E saiu com pressa, ela caminha pelas ruas
ligeiramente esvoaçada, ao se aproximar do hospital entrou direto na
maternidade, chegando lá, a enfermeira veio ao encontro de Roseli
sorrindo, ela carregava a boneca de Roseli nos braços, mas agora
embrulhada em panos novos.
Inda brincou com a moça, hei mãe malvada, deixou sua filhinha aqui sem roupinhas.
Aiaiai em mamãe.
Agora toma aqui sua filha e a leva para casa, ela estava chorando com saudades de você.
Roseli toma em seus braços a boneca, sem dizer uma palavra se quer e vai embora. Em total silencio!
Ninguém ainda havia percebido o desaparecimento do bebezinho do casal.
Ao retornar a casa Roseli encontra o recém-nascido roxinho dentro de um velho berço.
Roseli fala com seu amigo imaginário, toma o bebe em seus
braços junto com sua boneca e vai em direção ao cemitério, o sol do meio
dia atormenta a moça que se esconde embaixo de um tumulo vazio para se
proteger do sol quente.
O coveiro não percebe a presença de
Roseli e vai para outra banda do cemitério, lá dentro há vários
cachorros, cachorros estes que são pegos nas ruas pelos funcionários do
cemitério, eles servem de companhia para eles, e um dos bichos ouvem
choro de criança e encontra Roseli, os cães latem, os funcionários de
outra banda do cemitério ouvem o tropé dos cães e resolvem retornar para
verem o que esta acontecendo.
Ao se aproximarem do tumulo,
o senhor Jose vê Roseli sentada no fundo do tumulo, ela esta com a
boneca no colo, o bebe esta deitada dentro de uma pequena urna podre,
por certo abandonada após a exumação de algum defunto.
Roseli ainda não percebeu a diferença entre o bebe e a sua velha boneca.
Para ela, as duas são filhas.
O senhor Jose a pega pelo braço gentilmente por entender que se
trata de uma pessoa com problemas mentais e toma em seus braços o bebe.
Ele a convence ir com ele ate sua casa.
Lá o senhor Jose encontra um varal com varias bonecas penduradas, as bonecas estão todas estragadas, faltando partes.
Roseli diz ao homem que as pendura quando elas estão mortas.
Jose; - você vai pendurar sua boneca nova?
Roseli – não moço, eu agora tenho uma boneca que chora, eu
descobri aonde encontrar bonecas que choram, é um hospital, eu vou lá e
pego, ninguém briga comigo, é só ir e pegar.
O homem percebe que a coisa esta ficando serio, ele contata o hospital e fala com uma assistente social.
Continua.
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