Pois é, aparentemente iríamos passar o dia dos namorados (Que coincidêntemente era nosso aniversário de namoro) no carro.
Decidimos
fazer uma viagem juntos, para comemorar essa data tão especial, eu
havia preparado tudo para ser o mais romântico possível, chegar ao
nascer do sol em uma praia linda e pedi-la em casamento, no nosso
aniversário de seis anos de namoro.
Porém tudo ia de mal a pior,
pegamos o que aparentava ser o maior engarrafamento do mundo, demoramos
mais do que o esperado, e estávamos aqui, no meio da estrada, as 2 horas
da manha:
- Que droga! - Praguejei para a estrada escura. - Desse jeito vamos chegar na hora do almoço apenas.
-
Fica tranquilo gatinho, podia ser pior! - Sorriu pra mim, parecia estar
cansada a horas na mesma posição. - Pelo menos estamos no aconchego do
carro, e estamos juntos!
Parando pra pensar realmente não era o
píor, já havíamos passado por momentos mais desconfortáveis, o final de
semana na casa dos pais dela, 3 dias sem nem encostar nela por conta do
pai que era um monstro e aparentemente não havia gostado do genro. Ou
até a vez em que marcamos de nos encontrar para comemorar 1 ano de
namoro, e ela avoada pegou o trem errado e foi parar em outro município:
- Isso é verdade. - Sorri e dei um beijo rápido nela e voltei minha atenção para a estrada.
Estava
completamente escura, a estrada estava iluminada apenas pelas luzes do
farol (de apenas um farol diga-se de passagem), a nossa volta havia
morros imensos cobertos por árvores que dava ao cenário um tom macabro:
-
Amor, se lembra das histórias que o tio Jilmar contou aquela noite que
acabou a luz lá em casa? - Seria interessante nesse cenário assustador
contar umas histórias, Gabriele tinha pavor imenso dessas coisas, e eu
me divertia com o medo dela.
- Idiota! Não quero lembrar! - Disse ela se fazendo de nervosa.
-
Não, é serio! Ele disse algo sobre suas viagens de caminhão, não
consigo me lembrar... - Insisti para que ela contasse a história.
-
Não amor! Você não vai fazer eu contar essa história! - Disse
emborrecida, parecia estar começando a ficar com medo, com a história já
em mente.
- Eu me lembro mais ou menos... Ele disse que em uma
de suas viagens, durante a madrugada, ele estava em uma estrada
aterrorizante, sem sinalização, sem luz... Parecida com essa não é
mesmo? - E ri, estava realmente me divertindo com o medo dela.
Eu
sei que isso parece coisa de filmizinhos clichês, mas só quem já fez
sabe como é realmente engraçado deixar alguém com medo, e prossegui:
-
Ele afirmou que era uma história real né? Que uma certa noite na
estrada, em uma de suas paradas para abastecer, um rapaz disse pra
ele... Disse o que mesmo? - Olhei para ela que estava toda encolhida no
banco do passageiro.
- Disse que... Se aparecesse alguém na
estrada pedindo carona, para ele não parar, e que de forma alguma depois
disso olhasse no espelho retrovisor... - Disse ela se encolhendo mais
ainda, olhava apavorada para a estrada, que estava realmente
amendrontadora.
- Bom, seguiremos seu conselho sim? Caso apareça alguém na estrada!
Ela gritou e começou a me bater:
- Idiota! Idiota, idiota, idiota!
Eu
ria descontroladamente da situação, ela realmente tinha pavor desses
contos de assombração, contos estes que realmente davam um certo arrepio
na espinha.
E foi de repente, entre uma risada e um soco dela, que eu vi de relance algo na estrada.
Passou
rápido demais, eu estava entre 80 a 100 kilometros por hora, mas eu
tinha certeza que havia visto, um homem parado entre as árvores, grande
demais para ser notado mesmo de longe. O mais estranho não era o fato
dele estar parado no meio de uma estrada deserta a essa hora, o fato que
me fez ficar todo arrepiado e cessar o riso instantâneamente, foi que o
homem aparentava não ter face:
- Amor... - Disse Gabriele percebendo que eu havia ficado tenso de repente.
E fixando meus dois olhos na estrada, aumentei a velocidade e tentei relaxar para não assusta-la:
-
Oi amor, to ouvindo pode falar. - Disse ainda sério dando uma olhadela
no retrovisor, com receio, mas precisava checar se havia algo atrás de
nós.
- O que aconteceu? Para de me assustar...
- Nada
amor, pensei ter visto um animal selvagem, mas foi minha imaginação! -
Essa foi a melhor desculpa que minha mente assustada conseguiu formular.
Talvez
fosse minha imaginação, talvez eu estava apenas cansado demais, a horas
vendo a mesma paisagem, o estresse de ter falhado com meus planos
somado ao cansaço imenso e uma imaginação fértil haviam feito eu ver
algo sem nexo.
Um homem sem face, dentre as árvores da floresta. Isso não fazia sentido nenhum.
- Continua -...
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