Rafael
agarrou o cadáver de seu velho avô e o arrastou até o jardim no fundo
de sua casa. O rapaz chorava agoniado mediante a perda de seu maior
amigo. Seu João teve um enfarte fulminante à menos de 40 minutos atrás. E
seu neto desolado logo cavou a cova e preparou o local para o enterro.
Não queria enterrá-lo em um cemitério qualquer, pois mesmo depois de
morto, queria o avô por perto.
– Maldita seja a morte! Tão traiçoeira e cruel – Bradou o rapaz em ira e choro – Logo o meu querido avô! Somente você eu posso chamar de meu verdadeiro pai...
Quando
criança, Rafael perdeu os pais em um terrível acidente de carro. Deste
então seu João criou o neto com carinho e amor. Estranhamente eles não
tinha mais nenhum parente. Talvez seja pelo fato da família pertencer
há uma geração de bruxos. E assim como seu avô, Rafael também era um.
Com seus vinte e seis anos, há seis dominava a arte da magia negra.
Após sepultar o avô no quintal, o rapaz cobriu com folhas secas seu segredo.
No dia
seguinte caminhava pela calçada, notou um velho astuto lhe encarar a
face. Enéas mudou-se a pouco para o bairro. Era carrancudo e
encrenqueiro, tinha seus 80 anos, 20 a mais que o falecido avô de
Rafael. O velho franziu as sobrancelhas e gritou nervoso.
– Saia de minha calçada, rapaz imundo.
Rafael parou e observou a audácia do velho encrenqueiro, levantou a mão e lhe mostrou o dedo do meio.
– Vá se danar velho filho da puta! - Virou as costas e continuou seu caminhar rumo ao trabalho.
O velho indignado se calou mediante a resposta hostil do rapaz.
A noite chegou e o administrador de sistemas caminhava novamente pela calçada do carrancudo Enéas.
Este observou novamente Rafael passar e teve uma ideia nefasta. Passou as mãos em seu bigode curto e apreciou seu plano sujo:
– Este me servirá de morada – Caminhou de um canto para outro, ainda olhando o jovem passar pela calçada – O dominarei e possuirei seu corpo, assim terei meus anos de vida prolongados.
O
velho bruxo gargalhou eufórico com seu plano bem elaborado. Sim, ele
realmente queria possuir o corpo do rapaz. O prenderia e iniciaria um
ritual macabro para trocar de morada com Rafael, logo depois o mataria e
viveria com a carapaça jovem de apenas 26 anos.
Seu
Enéas praticava bruxaria há mais de 70 anos, aos 10 anos de idade foi
ensinado por seu pai e assim continuou. Praticou várias crueldades e
matou centenas de inocentes que passaram por seu caminho. Certamente sua
alma estava condenada ao inferno. E ele sabia de seu destino abominável.
Temia o inferno mais que tudo na vida, pois sabia que depois de morto,
vagaria e sofreria as atrocidades daquele mar de sofrimento. Para fugir
de seu destino teve essa ideia maligna, e logo à colocaria em prática.
O
rapaz adormecia. Enéas sorrateiramente arrombou a porta e logo caminhou
pela escada curta até o quarto de Rafael. Com o pano molhado de
clorofórmio, o enfiou com violência contra o rosto do jovem desprotegido. Este se debateu, mas nada adiantou e logo desmaiou.
Minutos
depois acordou atordoado, preso por uma corda com amarras frouxas. O
rapaz arregalou os olhos ao notar aquele cheiro de enxofre, inúmeras
velas pretas rodeavam a sala, no centro ervas e um livro negro.
O nefasto ancião então apareceu vindo da cozinha e se vangloriou:
– Arrancarei tua alma, e teu corpo será meu garoto – caminhou em passos curtos em direção ao rapaz preso, e em suas mãos segurava uma faca com uma caveira entalhada no cabo – Assim viverei por mais anos, muitos mais... – Gargalhou – Mas chega de papo e vamos para o que interessa.
O
mesmo não imaginava que Rafael também praticava bruxaria. O jovem aflito
confrontava suas mãos uma contra a outra, e logo as amarras se
soltaram.
O feiticeiro em posse do livro começou o ritual; Falava no idioma dos mortos, por um momento ficou de costas para Rafael. Aquela
foi sua chance. O rapaz ágil se livrou das cordas e agarrou o velho
pelo pescoço. Enéas tentava se livrar das mãos fortes do garoto, mas sem
forças perdeu o ar e logo desmaiou.
Minutos
depois despertou dolorido. Estava completamente amarrado, passou de
caçador à caça em menos de uma hora. Aflito ouviu então um som de
arrastar. Rafael então se revelou: Em suas mãos carregava o cadáver em
decomposição de seu avô. O jogou no chão e encarou a face amedrontada de
sua vítima:
– Vamos ver o que acha da minha ideia agora, velho tolo.
O
mesmo sorriu maquiavélico e iniciou com seu plano. Empunhou a faca na
mão direita e o livro na mão esquerda. Começou então o ritual macabro.
Profanou palavras ao vento, e logo um gélido frio tomou conta do
ambiente, uma neblina escureceu a casa, e almas desgraçadas bradavam rodeando o local.
O velho estagnado tremeu de medo. Viu seu plano sujo cair em desgraça.
Rafael
terminou o ritual e presenciou o cadáver de seu avô começar a tripudiar
no chão de madeira. Uma nevoa negra saiu do corpo pútrido, no mesmo
instante que a alma de Enéas o deixava. O velho em último ato gritou
desvairado, não acreditando na cena. As almas trocaram de lugar, Enéas possuiu o cadáver sujo, enquanto a alma de seu João adentrava no corpo novo.
Com um
suspiro Enéas respirou o ar dos vivos. Agora em posse de um corpo
deformado e em fase de decomposição, repleto de vermes e terra preta.
Mas respirou por apenas alguns segundos; Só teve tempo de arregalar os
olhos antes de levar uma facada brutal no peito. Rafael limpou o sangue
na camisa e caminhou para desamarrar seu avô, agora em domínio do corpo
velho de 80 anos. Não viveria muito, mas para Rafael já bastava ter o
avô novamente em sua vida. O ritual apenas funcionava uma vez... Juntos
neto e avô arrastaram o defunto até o quintal e o enterraram no jardim.
Seu João sorriu para o neto, alegre e extasiado por
reencarnar no cadáver do vizinho.
reencarnar no cadáver do vizinho.
FIM
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