— Está com medo? – perguntou Luisa para Angélica. As duas estavam diante
do computador. Era meia noite e quinze. Angélica pensou duas vezes.
Será que deveria apertar o “play”.
— Não é nada demais, é só uma lenda idiota – comentou Luisa, querendo encorajar sua amiga.
— Mas e se for verdade?
— Fique sossegada, não existe nenhuma garota do pescoço quebrado.
Angélica
apertou o “play”. O vídeo mostrou a cena de uma garota prestes a ser
enforcada por um homem. Assim que o vídeo terminou, Angélica olhou para o
lado e viu que Luisa estava com os olhos tampados com as mãos.
— Por que não assistiu?
— Eu fiquei com medo.
— Sua bobona – debochou Angélica – é só um vídeo tosco.
— Vamos esquecer esse negócio de lendas urbanas. Estou com sono – respondeu Luiza indo para sua cama.
— O que é mesmo que acontece com a pessoa que assiste esse vídeo?
— Dizem que a garota do pescoço quebrado vem atrás de você.
— Mas quem é essa garota do pescoço quebrado?
—
Ouvi dizer que é a garota que aparece no vídeo. Parece que ela foi
enforcada de verdade. Seu espírito vingativo mata qualquer pessoa que
assiste o filme.
— Igual o filme Chamado?
— Só que você não tem sete dias antes de morrer.
— E para não morrer você deve mostrar o vídeo para outra pessoa?
— Acho que sim.
—
Que bobagem, é melhor a gente dormir – disse Angélica, não querendo
saber mais detalhes daquela lenda. Ela desligou o computador e foi
deitar-se.
Quando o dia amanheceu, Luisa arrumou suas coisas para ir embora.
—
Por que vai embora? – perguntou Angélica, surpresa – meus pais foram
viajar e só voltam amanhã, temos a casa inteira só pra gente.
— Esqueci que hoje tenho consulta no médico.
Rapidamente,
Luisa ajeitou sua mochila e se despediu de Angélica. Assim que botou os
pés na calçada, saiu correndo, como se fugisse de alguma coisa.
— Garota estranha! – comentou Angélica, vendo o comportamento da amiga.
Não
era nem nove horas da manhã. O dia estava ensolarado e sem nuvens.
Angélica foi para a cozinha preparar seu café. Sentou-se a mesa e
serviu-se de pão com manteiga. Ao dar a primeira mordida, sentiu um
gosto estranho. Olhou para seu pão e viu que estava manchado de
vermelho. Parecia ketchup. A garota abriu o pão e percebeu que o recheio
era minhocas vivas. Angélica cuspiu o pedaço que havia mordido e jogou o
pão no lixo. Tomou um copo d’água para tirar o gosto amargo da boca.
Com isso, Angélica perdeu a fome.
Ela foi para seu quarto, mas a
porta estava trancada. Angélica podia ouvir passos de alguém andando ali
dentro. A porta destrancou-se sozinha. Desconfiada, Angélica girou a
maçaneta. Abriu a porta bem devagarzinho. O quarto era só escuridão,
pois a janela estava fechada. Ela ligou o interruptor. Aparentemente,
não havia ninguém no quarto. Seria bom olhar debaixo da cama, pensou
Angélica. Ajoelhou-se e ergueu a aba do lençol. Vazio. Também não
encontrou nada de anormal no guarda-roupa.
Abriu a janela e deixou a
claridade penetrar no quarto. Lá fora, perto do portão, havia uma garota
loira. Sua cabeça pendia para o lado, como se o seu pescoço estivesse
quebrado. Ela olhava para a janela, olhava para Angélica
No susto,
Angélica fechou a janela. Era apenas uma ilusão, não existia nenhuma
garota do pescoço quebrado, pensou Angélica. Ela entrou no banheiro para
tomar um banho. Ligou o chuveiro e deixou a água cair. Ao terminar seu
banho, a garota desligou o chuveiro e saiu do box para pegar a toalha.
Em meio ao vapor de água, ela viu a silhueta de uma pessoa. Angélica
voltou para dentro do box e fechou a porta de vidro, pensando que assim
ficaria protegida. A pessoa aproximou-se. Era a garota do pescoço
quebrado. Seus olhos eram cinzas e esbugalhados. A pele branca de sua
face era repleta de veias negras. A sua boca desdentada estava aberta em
um sorriso asqueroso. O rosto da garota não tinha expressão, era o
rosto de uma pessoa morta.
— Socorro! – gritou Angélica ao ver a garota transpassar a porta de vidro do box.
Arrependida
e preocupada, Luisa voltou a casa de Angélica. Não devia ter mostrado o
vídeo. Mas se não fizesse isso, ela é quem seria a vitima da garota do
pescoço quebrado.
Luisa iria pedir para Angélica passar o vídeo para alguém, antes que as coisas pudessem piorar.
Não
adiantou tocar a campainha, ninguém atendia a porta. Mas Luisa podia
ouvir o barulho do chuveiro ligado. Ela experimentou a janela da sala.
Estava aberta. Entrou por ali.
— Angélica – chamou na porta do banheiro. Sem resposta, ela abriu a porta e foi engolida por uma onda de vapor.
—
Angélica, você está aí? – perguntou. Nada. Luisa entrou no banheiro. O
box estava fechado e vazio. Luisa desligou o registro do chuveiro e saiu
dali. Foi até o quarto de Angélica. Pela fresta da porta, viu que sua
amiga estava sentada diante do computador.
— Ei, como você está? –
perguntou Luisa, entrando no quarto. Angélica não respondeu.
Aproximando-se, Luisa notou que ela estava assistindo o vídeo da garota
enforcada.
— Se eu fosse você, não ficaria assistindo essa merda –
avisou Luisa e bateu no ombro de Angélica. A cabeça da garota caiu para o
lado, como se o seu pescoço estivesse quebrado. A cadeira girou sozinha
e Luisa viu o rosto sem expressão de Angélica – seus olhos estavam
brancos e sua boca escancarada em um sorriso asqueroso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário