Etthero, Cemitério Earpark, 30 de maio de 2006
- Onde
estou? – perguntei, assim que abri os olhos. Minha cabeça estava muita
confusa, tudo rodava, era como se eu estivesse dentro de uma máquina
centrífuga.
Quando a minha cabeça voltou ao normal, eu comecei a
perceber que eu estava encostado no muro interior de um cemitério. Um
cemitério... parece estranho alguém acordar dentro de um cemitério, à
noite, em um breu danado, mas sim, essa era a realidade. Eu acordei
dentro de um cemitério, sem ter a menor ideia de como eu fui parar ali e
minha cabeça doía horrores. Foi quando comecei a me lembrar do que
acontecera comigo.
Lembro-me de estar no meu colégio, quando o Bruno,
o Mattheus e seus amigos me encurralaram na saída do banheiro, para
praticarem bullying em mim novamente. Tentei fugir saindo correndo do
banheiro quando um dos garotos me segurou. Com sua força, uma vez que o
amigo era quase um guardarroupa, não conseguia me desvencilhar dele, até
que Bruno me disse algo como “Você vai aprender a não fugir de Bruno
McKanzie” e, em seguida, desmaiei, ao receber um forte golpe na parte
anterior da minha cabeça.
E agora, eu parei dentro de um cemitério.
Justo eu, o mais medroso dos alunos do colégio, que nem consegue
assistir a um filme de suspense, acorda dentro de um cemitério, à noite.
Ou melhor, um cemitério, não, O cemitério, uma vez que o Earpark é o
maior cemitério da cidade. E eu fui largado do outro lado do portão do
local.
O local estava muito nebuloso e mal conseguia ver para onde eu ia.
Tentei
olhar para cima, para tentar ver o tamanho dos muros, mas me lembrei de
que os muros do Earpark são imensos e possuem cercas elétricas. Não,
não é para evitar que os mortos fujam, mas sim que os vivos entrem. Só
não sei como a gangue do Bruno e do Mattheus entraram no cemitério, me
despejaram aqui e foram embora, sem ninguém ver. Mas... este é o menor
dos meus problemas. Depois que eu sair daqui, eu tento descobrir. SE eu
sair.
- Bom – disse, para mim – Agora tenho de fazer o principal para sair daqui!
Comecei
a gritar “SOCORRO!!” igual a um insano. E acho que esse foi o meu
problema. Às 2 horas da madrugada, ninguém acreditaria que a voz insana
pedindo socorro vindo do Earpark, que tem fama de as almas dos mortos
perambularem pelo local à noite, fosse um ser humano. Por motivos mais
que óbvios, todos acreditariam que o insano pedindo socorro era uma alma
penada.
Passaram-se quinze minutos. O local foi se tornando cada vez
mais medonho, e eu fui ficando cada vez com mais medo, acabei por mudar
de tática e resolvi estufar o peito, criar coragem e sair do cemitério,
pela porta. Era mais fácil sair escalando o portão do cemitério do que
escalar os muros do Earpark.
Eu fui andando vagarosamente, passo a
passo. A cada passo dado, olhava rapidamente para os lados para me
certificar de que nenhuma alma penada resolveu aparecer para mim durante
minha longa trajetória entre os corredores de enormes e horripilantes
catacumbas, onde cada uma delas jazia um cadáver, que exalava aquele
cheiro fétido no local.
A cada passo dado, eu ia ficando com mais
medo. Eu tinha vontade de sair correndo igual a um louco, mas meu medo
me travava e só conseguia andar passo por passo, sem coragem de olhar
para trás para me certificar de que não seria atacado por trás. Eu sei
que é insanidade da minha parte, mas é verídico de que, todos, sem
exceção, quando estão com medo, acreditam que serão atacados pelas
costas, como em um filme de terror.
Um filme de terror... era o que
estava vivendo naquele momento. E a qualidade do filme tornou-se pior
quando, no silêncio tenebroso do Earpark e daquela maldita e longeva
noite, um som, como um gemido aterrorizador, ecoou por todo o céu negro,
até invadir-me pelo ouvido e tomar meus movimentos. Minhas pernas foram
ficando pesadas, fazia uma imensa força para ficar de pé; andar já
estava se tornando impossível, meu medo era tamanho que queria correr,
sair daquele maldito lugar, mas não conseguia, minhas pernas foram
ficando fracas, o medo tomou conta de mim. Não aguentei o peso do meu
próprio corpo e caí em cima das minhas pernas, escorado em uma
horripilante catacumba.
A cada segundo que se passava naquele local, o
gemido sinistro voltava a se repetir, cada vez com mais intensidade, em
mais vezes. A cada segundo passado, o silêncio da noite foi sendo
preenchido pelos gemidos. E, a cada gemido escutado, minhas forças foram
se esvaindo do meu corpo, como um demônio em um corpo exorcizado. Levei
as mãos às têmporas, como se quisesse fazer o som esvair-se do meu
corpo, mas foi em vão. O som tomou o meu corpo, arrancando dele toda a
força necessária para sair daquele inferno.
Dois, ou talvez três
minutos depois do primeiro som, os gemidos estavam insuportavelmente
ensurdecedores. Comecei a escutar um estranho barulho, semelhante a
quando uma minhoca cavouca a terra à procura da superfície, só que com
uma intensidade maior. Muito maior. E, a cada segundo, esse barulho foi
aumentando, até que o pior pesadelo de cada pessoa na Terra ganhava
vida, bem à minha frente. Os mortos começaram a se levantar, calmamente,
como se não tivessem pressa de voltar à liberdade da vida. Aliás, vida é
pejorativo, porque os mortos voltaram a andar, não a viver, eles eram
acéfalos, andavam desgovernadamente pelo cemitério, como se fossem um
bando de mortos de fome à procura de seu alimento. E, ao que tudo
parecia crer, eu era o alimento de cada um daqueles mortos.
Quando os
mortos começaram a se levantar e a andar como verdadeiros zumbis, um
cheiro fétido tomou conta do ar. Deve ser pelo fato de a maioria deles
já ter entrado em estado de decomposição. Muitos estavam desmembrados,
outros faltavam-lhes pedaços da pele ou do corpo. Suas roupas já estavam
praticamente decompostas, parecia que o último defunto enterrado no
Earpark fora enterrado há, pelo menos, um ou dois meses.
Em questão
de segundos, os zumbis tomaram conta do Earpark, e tive que me esconder
em meio às catacumbas para tentar não ser notado. E parece que deu
certo. Os zumbis foram andando, da mesma maneira, em direção à entrada
do cemitério. A cada segundo passado, minha noite foi se tornando cada
vez pior.
Ao perceber que os zumbis estavam indo em direção à saída,
percebi que não era a única viva alma no local, havia outras pessoas.
Estas devem ter escutado o meu berro e vieram ver, mas ficaram bastante
assustados com os zumbis. Infelizmente, para o azar delas, o portão do
cemitério estava fechado e os zumbis, em maior número, rapidamente as
encurralaram.
Andei alguns passos, furtivamente, para ver o que os
zumbis iriam fazer com aqueles pobres mortais. Acredito que não era para
mim ter olhado o que os zumbis fizeram com aquelas pessoas. Eles
seguraram o pescoço de sua respectiva vítima, que começou a tentar
desvencilhar-se até no grito e mordeu-lhes o peito, arrancando-lhes, com
a boca, boa parte dos mesmos. Por motivos mais do que lógicos, no
instante seguinte, as vítimas caíram, jazendo no chão, com muito sangue
em volta deles. Levei minha mão à boca, como prova da minha
perplexidade. Como pode um ser vivo devorar outro ser vivo, ainda mais
vivo? Nem nos rituais ou banquetes canibais acontece tanta brutalidade. É
como se aqueles mortos fossem meros animais, que matam suas presas
mordendo-lhe um ponto vital e matando-lhes a mordidas.
Em seguida à
queda dos cadáveres no chão, os mortos-vivos se jogaram em cima deles,
como verdadeiros acéfalos, devorando os cadáveres parte por parte, como
um bando de leões devorando sua presa. Todos os zumbis que estavam
próximos da matança começaram a cair em cima de suas presas e a também
começarem a devorá-las. Eu fiquei inerte, observando a carnificina crua
que estava acontecendo na entrada do cemitério. Não conseguia raciocinar
nada, absolutamente nada, nem mesmo tentei pensar em fugir do meu
iminente destino. Pouco tempo depois, os zumbis, lentamente, começaram a
se levantar e a se dispersarem, procuran-do o seu próximo alimento –
eu, diga-se de passagem. Mesmo com os zumbis se levantando e me
procurando com sua incrível velocidade, não conseguia tirar os olhos do
que um dia fora um ser vivo – sobrara apenas parte do tórax, com os
ossos e muito sangue, parte das vísceras e parte do rosto, nariz,
bochecha, bastante desfigurados pelas mordidas. Era horrível aquela
cena. Não conseguia encontrar forças para, ao menos, tirar os olhos,
mesmo tentando relutar mentalmente que eu iria conseguir ter um destino
distinto daquelas pobres almas. Afinal, o portão estava agora aberto –
não era necessário mais escalá-lo – e os zumbis estavam se dispersando
do local. Mesmo assim, meu cérebro dizia que eu iria ser devorado por
aqueles zumbis e o medo foi tomando conta do meu corpo, tirando
novamente minhas forças.
Estava tão “entretido” com aquela visão que
nem reparei que, a cada segundo que se passava, o cheiro podre foi
ficando mais forte. E mais forte, e mais forte... Também não reparei um
gemido conhecido – e assustador – nas minhas costas, além da presença de
alguém atrás de mim.
Quando percebi que havia alguém atrás de mim,
meu cérebro rapidamente conseguiu me dar forças e consegui olhar para
trás, a ponto de ver que um zumbi, em um estado tétrico de decomposição,
estava caindo, literalmente falando, em cima de mim, com a bocarra
aberta e os braços esticados em minha direção. Meu cérebro conseguiu dar
um único comando – era hora de sair dali. Como uma pessoa de filmes de
ação pulando de um prédio explodindo, consegui pular rolando para longe
da mordida voraz do zumbi, que caiu literalmente de cara no chão, mas
conseguiu arranhar até o fundo minha perna esquerda. Como eu não sou
nenhum atleta, meu corpo começou a doer em decorrência do meu pulo e da
minha ferida, que sangrava bastante. Tentava levantar, em vão - minhas
pernas e braços latejavam demais. Ao perceber que o zumbi estava
começando a se mexer novamente, tentei me levantar – mesmo com meus
braços e pernas parando de latejar, a ferida estava doendo muito, e
impedia o movimento completo da perna. Fui me rastejando, com o zumbi
rastejando atrás. Rastejei algum tempo, até ter a ideia de chutar o
rosto do zumbi com a minha perna sã. E assim fiz. E descobri que, assim,
o zumbi perderia a cabeça, literalmente falando. E lá foi a cabeça do
zumbi rolar pelos corredores horripilantes do Earpark.
Com
dificuldades, apoiado em uma catacumba, me levantei. Fraco estava, mal
conseguia ficar de pé, pois minha perna ardia muito. Ainda apoiado na
catacumba, comecei a andar lentamente, praticamente rastejando-me por
aquele lugar por demais tenebroso. Foi quando percebi que os zumbis
estavam me procurando desesperadamente, como se estivessem horas sem se
alimentar – e alguns estavam até meses sem se alimentarem. Comecei a
andar abaixado, só olhando rapidamente para ver a quantos andam os
zumbis.
Andei algumas catacumbas e já estava exausto. Como minhas
forças se esvaíram por completo, acabei caindo no local mesmo. Estava
ofegante, minha respiração era irregular e meu coração acelerava.
Acelerava a cada passo que eu escutava próximo a mim. Encolhia no local
onde eu estava, como se estivesse nu em uma geleira, a cada passo que eu
escutava vindo de detrás da catacumba que eu estava encostado. Passo a
passo, passo a passo, a cada passo que eu estava, eu ficava cada vez com
mais medo, encolhia cada vez mais, e ficava cada vez mais insano no
local.
Foi quando eu tomei um baita susto, a ponto de o meu coração
quase sair pelo peito e eu dar um poderoso grito – grito que chamou a
atenção de todos, descobrindo, assim, que os zumbis reagiam a som.
Assustei-me quando um zumbi apareceu do nada caindo em cima de mim,
depois de debruçar como um acéfalo na catacumba e jogar seu peso para
cair do outro lado. Dessa vez eu não estava com força para desviar,
portanto caí no chão, com o zumbi em cima de mim. Por sorte, consegui
segurar suas mandíbulas com minhas mãos. O bafo gélido vindo de sua boca
me causava náuseas – principalmente porque o bafo gélido era tão fétido
quanto o cheiro de sua decomposição, além do sangue quente que escorria
de sua boca e caía no meu rosto. Mas, com uma insana ajuda das minhas
pernas, que me custou bastante sangue e me causou uma dor monstruosa, eu
consegui empurrar o zumbi para longe. Rapidamente, me levantei e
comecei a andar, enquanto limpava o rosto, usando o resto das minhas
forças para sair daquele inferno o mais rápido possível. Entretanto,
senti alguma coisa bastante forte segurar minha perna esquerda, que
quase me fez cair de cara no chão, mas, apoiando-me na catacumba que
estava do meu lado, consegui ficar de pé. Em seguida, olhei para o que
estava me segurando. Fiquei surpreso ao ver o zumbi que derrubei me
segurando com sua mão em estado de decomposição, suja de sangue,
enquanto partia com suas mandíbulas vorazes em direção ao meu calcanhar.
Mas, minha reação foi rápida, um forte e certeiro chute no meio de seu
rosto, fazendo sua cabeça voar e confirmar minha teoria de que chute na
cabeça de zumbi acabava com o maldito.
Comemorei o meu segundo zumbi
morto, em perfeito silêncio, obviamente, e me virei para continuar a
minha jornada para sair do Earpark, quando tomei outro susto –
silenciosamente, dessa vez. Outro zumbi estava pronto para me
estrangular, com seus braços esticados, em direção ao meu pescoço.
Recuperado do susto, quando o zumbi já me segurava, empurrei o
monstrengo para trás, fazendo-o cair.
Rapidamente pensei para onde eu
iria. Olhei em volta de mim e percebi que os caminhos entre as
catacumbas estavam sendo bloqueados pelos zumbis, que se aproximavam de
mim cada vez mais. Ao perceber que o zumbi que joguei no chão começou a
dar sinais de que se levantaria, tive uma brilhante ideia – subir nas
catacumbas. Por mais que todas elas estivessem abertas, por onde os
zumbis saíram, era o lugar mais seguro no momento. Eu tinha que ir
andando pelas catacumbas até chegar a um local onde não haveria mais
zumbis, ou tivesse poucos deles, e eu conseguiria sair do Earpark.
Segurei a cruz da catacumba mais próxima a mim, para que eu tivesse um
apoio para subir nela. Fazendo uma tremenda força nos braços, fui
subindo de pouco em pouco, pouco em pouco... Porém, antes de terminar de
subir, o zumbi que eu derrubara mordeu minha perna esquerda, na região
da canela, arrancando um pedaço e jorrando sangue por todos os lados.
Senti
uma tremenda dor – uma parte de meu corpo foi arrancada vorazmente.
Porém, aquela não era hora de fraquejar – com meu sangue saindo do meu
corpo com mais intensidade, automaticamente os zumbis são atraídos com
maior facilidade e descobrem com mais precisão o meu paradeiro. Pensando
em como eu gostaria de viver caso saísse dali, criei forças para puxar
minha perna para cima da catacumba. Quase não conseguia colocar minha
perna esquerda no chão – ela estava com muitos machucados para ignorar,
além de uma enorme vazão de sangue. Rapidamente, tirei minha blusa e a
amarrei na parte comida da minha perna, estancando o vazamento de sangue
– não a dor, infelizmente – e apenas molhando-a com meu sangue. “Isso
será útil durante algum tempo, até que o pano fique encharcado por
completo, o que não demorará muito”, pensei.
Porém, pensei em sair
dali ao perceber que os zumbis esticavam os braços para pegar minha
perna. “Malditos zumbis”, pensei. Saí correndo como um famigerado pelas
catacumbas, sentindo muita dor. Consegui passar pelos zumbis facilmente,
mas, ao pular por uma catacumba, errei a direção e bati com a boca do
estômago na ponta da cruz, caindo no chão com muita dor. Vomitei
horrores no momento, e tentava me levantar, mas doía demais.
Custei
alguns valiosos minutos para conseguir me levantar e voltar a andar –
valiosos porque deu tempo de os zumbis chegarem perto de mim. Andar era
pejorativo, porque eu estava me arrastando, com a mão esquerda no local
da dor, e puxando minha perna esquerda, que continuava a doer e o corte
não parava de sangrar – sangrava dezenas de vezes menos que a mordida,
mas continuava a doer. Foi quando percebi que ferida de zumbi não sarava
naturalmente.
Levantei-me e fui andando pelo corredor
de catacumba onde eu estava. Os zumbis estavam próximos a mim, e todos
andavam praticamente na mesma velocidade. “Será que eu estou me tornando
um zumbi também, de pouco em pouco?”, pensei, ao concluir sobre a
paridade das velocidades. “Não”, retruquei, “É por causa dessas malditas
feridas.”, concluí.
Continuei a andar, o portão principal não estava
longe de mim, mas, com aquela minha velocidade de zumbi, parecia que o
corredor fosse infinito.
Mas, graças aos céus, não era. Depois de
muito tempo e de fazer muito esforço físico, consegui chegar perto do
portão principal. Ao chegar ao último corredor de catacumbas, percebi
que me encontrava aonde aconteceu o assassínio daqueles pobres seres. Eu
sentia o cheiro de sangue quente vindo dos cadáveres e eles ainda me
causavam fortes náuseas quando eu lhes olhava. Ainda era forte na minha
cabeça a cena dos zumbis lhes devorando e, mesmo agora, reduzidos a um
mísero pedaço de gente, pedaço mutilado - é perfeitamente notável a
presença de mordidas vorazes no que sobrou, talvez no tórax eles
devoraram o coração e os pulmões e deixaram as carnes do que sobrou,
além de partes das vísceras, como o intestino. Ou quiseram ir atrás da
outra alma viva presente no local – eu. Quem irá entender a cabeça de um
zumbi? Ninguém, porque, até este caso no Earpark, nunca havia
acontecido incidência de zumbis em nenhum local do mundo, mesmo nos
lugares mais sinistros do mundo tirando o Earpark. Além disso, como
entender a mente de um ser acéfalo?
Bom, deixando conversas de lado,
eu estava bastante feliz por estar no portão do cemitério – Deus ouviu
as minhas preces. Agora era torcer para aquele caso no Earpark fosse
apenas por lá, e não no resto na cidade, ou no mundo inteiro. Imaginou
ser o único ser vivente deste planeta? Seria enlouquecedor.
Infelizmente
para mim, quando eu estava próximo à saída do Earpark, os cadáveres que
ainda não se levantaram começaram a ganhar vida, justamente quando o
azarado estava passando. Aquele dia realmente foi um grande azar da
minha parte: sofri bullying violento, fui largado no Earpark, o maior
cemitério da região, acordei à noite, os mortos resolvem voltar à vida
bem quando eu estava por lá, sofri dois golpes violentos NA MESMA PERNA,
caí de estômago na cruz da catacumba, e agora, justamente quando eu
estava passando pelos cadáveres inanimados do cemitério, eles resolvem
se levantar, JUSTAMENTE QUANDO EU ESTAVA PASSANDO. Que azar dos infernos
o meu naquele dia. Só faltava ser sexta-feira 13 ou 6 de junho, mas não
era. Era um dia “normal”... no calendário, pelo menos.
O fato é que
os malditos cadáveres inanimados resolveram ficar animados, e um deles
resolveu segurar minha perna, JUSTAMENTE A PERNA ESQUERDA, e me fez cair
de cara no chão.
“Ferrou”, pensei. Agora com um zumbi segurando
minha perna e outros cadáveres se arrastando como cobras (porque não há
outro meio de locomoção deles a não ser este), tudo levaria a crer que
meu destino era se juntar a eles. Virei para trás para tentar chutar a
cabeça do zumbi que estava segurando minha perna. Assim que fiz isso, os
demais zumbis rastejantes se atracaram no meu tórax, na região das
costelas, começando a mordê-lo. Aquela dor infernal que senti quando um
desses malditos mordeu minha perna voltei a sentir, agora no tórax, com
uma intensidade maior, porque eram vários zumbis, além daquele zumbi que
segurou minha perna agora mordia meu calcanhar, logo abaixo da ferida
anterior.
Como não conseguia se desvencilhar daqueles acéfalos,
comecei a me rastejar, insano, como se quisesse fugir para conseguir
viver. E realmente estava. Comecei a botar sangue pela boca, à medida
que as feridas causadas pelos zumbis começaram a aumentar. Rastejei
alguns metros, antes de sentir vários zumbis caíram de boca,
literalmente, nas minhas costas.
A minha força foi se esvaindo numa
velocidade estrondosa, como meu sangue estava, escorrendo pelas curvas
do assoalho do cemitério velozmente, criando verdadeiros rios de sangue.
Estiquei meu braço esquerdo – o único braço livre, porque o braço
direito também tinha um zumbi atracado nele – e tentei falar alguma
coisa, mas apenas saiu sangue e um pequeno gemido – meus pulmões estavam
se enchendo de sangue causado pelas feridas no local, antes de sentir
minha cabeça e meu corpo pesados. Meu braço caiu no chão, ainda
esticado. Meus músculos, que estavam tensos, relaxaram ao mesmo tempo em
que minha vista escureceu e meus olhos se fecharam... para sempre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário