Fernando deveria estar dormindo, afinal esta era a ordem de sua mãe. Mas
em vez disso, o garoto de dez anos resolveu ficar acordado e assistir à
um filme o qual ele havia visto a propaganda poucos dias atrás. "O
Bicho Papão" iria passar as onze horas daquela noite.
Quando o
relógio enfim marcou as onze, Fernando correu para debaixo de suas
cobertas, ligou a TV e começou a assistir o filme. Adrenalina tomava
conta de seu corpo.
No início tudo foi muito bem, mas depois de meia hora assistindo o garoto já estava morrendo de medo.
O
Bicho-Papão era uma produção barata, e o que não conseguia fazer no
quesito de efeitos especiais com o monstro, recompensava os fãs de
terror pelo seu suspense e pelas horríveis mortes das crianças. Um
verdadeiro Gore, muito sangue, mutilação.
Fernando nunca havia
visto tantas mortes violentas como aquelas do filme. Na maioria delas o
Bichão Papão saia de baixo da cama e devorava as criancinhas, rasgando
seus membros e depois devorando-os sem dó.
O menino já apavorado demais, decidiu que o melhor era desligar a TV.
Mas ele não precisou fazer isso, pois quando se aprontava para pegar o controle remoto, o televisor desligou sozinho.
Escuridão e silêncio predominaram no quarto.
Suor
frio escorria da testa de Fernando e uma sensação de solidão misturada
com a dificuldade de respirar, fizeram com que o garoto paralisasse.
De
repente, um barulho veio de baixo da cama. Foi nesse momento que
Fernando urinou nas calças. Começou a chorar e quando estava prestes a
dar um grito, duas garras agarraram seu pescoço.
A criatura era
forte e sufocava Fernando com raiva. Fernando sentiu seu pescoço sendo
perfurado, sua garganta sendo estourada. Uma dor inexplicável.
O grito silencioso não teve efeito. Seu corpo desabou e o choque contra a cama foi monstruoso.
Quando abriu os olhos, a TV ainda estava ligada.
Tudo não passara de um pesadelo.
Fernando
acabou dormindo em determinada parte do filme e depois sonhou com o que
estava assistindo. Consequências normais para uma criança que não está
acostumada a ver filmes de horror.
Após despertar, olhou para a
TV e viu que O Bicho-Papão ainda passava. Arrumou seus cobertores e
desligou o aparelho. Não queria ver mais nenhum minuto daquele filme
nojento.
Para não ficar totalmente no escuro Fernando acendeu seu abajur, que ficava ao lado de sua cama.
Respirou fundo e fechou os olhos.
Tentou dormir, mas o medo não havia ido embora. Não era tão fácil assim esquecer do monstro do filme. Então o pior aconteceu.
O barulho em baixo da cama, aquele que ele havia ouvido no sonho, agora era real. Imaginem como o pequeno Fernando ficou.
Seu corpo congelou e ele não tinha forças para gritar.
A
luz do abajur se apagou e o garotinho continuou a ouvir o barulho
embaixo da cama, como se algo estive se arrastando ali em baixo, se
preparando para sair, cada vez mais perto.
Fernando sentiu a presença de mais alguém no quarto. Passou a ouviu uma respiração, era ofegante e lenta.
Lágrimas
escorriam do rosto do menino. Na tentativa de acabar com todo aquele
inferno ele começou a rezar. Era isso que sua mãe havia lhe ensinado,
que para espantar o medo e os monstros bastava rezar. Mas ele nunca
havia rezado para espantar monstros, nunca tinha sentido a presença de
um em seu quarto.
Mesmo assim rezou, rezou torcendo para que aquelas palavras tivessem efeitos no Bicho Papão.
— Santo anjo do Senhor...
A respiração cada vez mais próxima.
— ...meu zeloso guardador...
Fernando fechou os olhos e rezou com mais fé.
— ...Se a ti me confiou a piedade divina...
Agora o garoto escutava pesados passos.
— Sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine....
O monstro parecia estar bem ao seu lado.
Fernando sentiu uma mão em seu ombro esquerdo e seu amém se transformou em um longo grito de pavor.
— AMÉEEEEEEEEEEEEEM!
A calça ficou molhada, dessa vez de verdade. Desespero total.
— Calma, calma meu filho. É o papai, por que você está chorando?
Fernando olhou para o pai, ainda com medo de que tudo fosse outra peça do Bicho-Papão.
—
Vem aqui comigo, aposto que você viu algum desses filmes idiotas.
Vamos, vem dormir comigo e sua mãe. — Disse Ricardo, pai de Fernando,
enquanto pegava o filho no colo.
Ao sair do quarto, no colo de seu pai, Fernando olhou para baixo de sua cama e viu dois olhos amarelos o encarando.
Morrendo de medo ele colocou a cabeça no ombro de Ricardo e começou a chorar, outra vez.
O menininho sabia que naquela noite ele estaria seguro, mas e na próxima, como faria?
Pensou rápido, e decidiu que o melhor era falar para o seu pai.
Em meio a soluços comentou:
— O monstro tá embaixo da cama pai.
Ricardo para tirar o medo do filho, voltou até o quarto, acendeu a luz e falou enquanto apontava para o lugar vazio.
— Olhe lá Fernando, não há nada.
O garoto espiou novamente, afastando a cabeça do ombro de seu pai.
Debaixo de sua cama, viu um monstro horrível. A criatura lhe encarava, sorrindo
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