Há muitos e muitos anos perdidos, em um tempo que o homem ainda temia o
desconhecido, escondido no meio da floresta existia um casebre antigo
onde ninguém ousava chegar perto, pois haviam boatos de gritos
horripilantes de dor e choros agonizantes ecoavam de lá. Junto com essas
histórias também era comumente vista indo para o casebre uma mulher
vestida em um capuz vermelho, carregando uma cesta, na qual juravam ter
visto dedos e outras partes do corpo humano.
Todos diziam que bruxas
vindas dos infernos moravam lá e evitavam se perder na floresta ou caçar
por perto do território delas, pois caso isso acontecesse nunca mais
voltavam para casa.
Entretanto existia um jovem rapaz filho do
moleiro, que era dos poucos que se aventurava a caçar até mais fundo na
floresta. Educado, corajoso e adorado por todos da aldeia. Este se
gabava entre os amigos de ser corajoso e dizia que aquelas histórias
eram apenas fantasias do medo deles.
Certo dia, vindo do povoado
vizinho já tarde da noite, o jovem caçador foi apanhado por uma chuva
torrencial e o único lugar onde poderia se abrigar era o casebre perdido
no fundo da floresta. Sem pensar duas vezes cavalgou até lá e bateu na
porta no exato momento que um dos raios cortou o céu negro, abafando os
gemidos agonizantes que saiam da casa.
-Quem está aí. – perguntou uma voz feminina.
-Um
homem faminto e com frio, que busca abrigo até passar esse temporal. –
seguiu-se certo silêncio e depois o barulho da chave na porta.
Pela
fresta ele visualizou um pedaço do rosto, a cabeça coberta pelo capuz
vermelho, entretanto não foi isso que chamou sua atenção e sim o rosto
desfigurado da mulher. O que acontecera a ela?
-Vejam só. – dizia ela, olhando para o rosto enojado do rapaz. – não preciso caçar essa semana.
Ele
não percebera o que aquelas palavras significavam até já ser tarde de
mais, um alçapão abriu debaixo de seus pés e ele bateu a cabeça no chão,
desmaiando de dor.
A mulher fechou a porta animada, foi até um canto
e alimentou a fogueira, encheu um caldeirão com água e colocou a
ferver. Então desceu por uma escada velha e mofada, chegou até onde
estava o caçador, agarrou-o pelos pés e o arrastou até uma mesa.
Começou
a despi-lo, amarrou seus braços e pernas e virou-se para amolar suas
facas. Sentia suas entranhas tremerem de fome, quando fora a última vez
que comera? Estava velha e cansada de mais para caçar, pelo menos teria
uma semana para recuperar suas forças.
Nesse meio tempo ele acordou,
sentiu o cheiro acre de sangue e podridão colado nas paredes do galpão.
Quando olhou para o lado e viu o capuz vermelho seu coração bateu
descompassado lembrando do que acontecera a pouco.
-Por favor,
senhora. O que quer de mim? – ela não respondeu a pergunta aflita e
continuou amolando seus instrumentos. Quando terminou virou-se para ele e
sorriu com aquela boca torta e os dentes podres. Ele vendo aquilo na
mão dela começou a se desesperar. Como fora parar ali?
Ela
aproximou-se dele e ele sentiu o fedor de carne humana decrépita e podre
vindo dela. Calmamente a mulher do capuz vermelho debruçou-se e com a
ponta de sua faca começou a abri-lo do peito ao baixo ventre. Ele gritou
de dor e involuntariamente suas lágrimas saíram e de debaixo de suas
pernas um líquido quente de medo escorreu.
Devagar, com muito
cuidado, ela enfiou a mão na fressura aberta e começou a vasculhar
procurando seu rim. Ele sentia seu sangue sair, seus órgãos latejarem e a
dor era tão intensa que já não fazia parte mais do real. Via-se de
cima, observava ela retirar de dentro seus pulmões enquanto seu corpo
dava pequenos espasmos de dor, e finalmente o seu último grito foi
sufocado pelo negro véu da morte.
Depois de limpá-lo como a um
frango, com um facão cortou na junta dos ossos, picando em pequenas
partes e separando em baldes para preparar a comida que a alimentaria
durante aquela semana.
Durante alguns dias, a família do jovem
caçador gastou todo seu esforço procurando o jovem rapaz, mas tudo em
vão. Então juntaram-se todos os outros caçadores e embrenharam-se
floresta adentro a procura dele. Ao chegarem próximo do casebre
encontraram o cavalo. Revoltados com o que poderia ter acontecido,
chamaram todos os homens da cidade e no outro dia invadiram o casebre da
mulher do capuz vermelho.
Com tochas e espadas incendiaram o
miserável casebre, derrubaram nas cinzas e para o horror maior
encontraram o porão banhado em sangue, repleto de caveiras, ossos e
vísceras humanas. Em vão vasculharam cada canto do lugar e da floresta,
mas não se viu vestígio da mulher.
Os anos se passaram e com o tempo
as gerações seguintes esqueceram-se do que acontecera. A única coisa que
permaneceu viva foi a história inocente de uma menina de capuz vermelho
que não deveria tomar o caminho errado ou conversar com estranhos, pois
no meio da floresta existia um malvado lobo mau que iria devorá-los.
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