O
equilibrista rasgou suas calças de seda colorida ao subir no muro alto.
Olhou as ruas vazias e cantou esganado sobre o amor. Segurava um buque
de flores recém-colhidas, totalmente confiante naquilo tudo que
declamava... Sua voz rouca e sincera ecoou pelas ruas curtas, chegando
até as casas simples e toscas. Os moradores boquiabertos saíram de seus
lares para acompanharem o tolo homem cantar um sentimento tão profundo,
que para desgraça do destino, eles tão pouco conheciam:
— É só o amor que conhece o que é verdade! O amor é bom, não quer o mal, não sente inveja e nem se envaidece...
A moça de vestido
azul lhe sorriu contente, e ele enfim pode entender o significado das
palavras que tão bem dizia. Apertou o buque nas mãos, á encarou com os
olhos cheios de amor, de esperança e de alegria, desceu do muro alto,
caminhou até ela em meio à multidão fascinada com seus dizeres, e fez
uma doce declaração à moça de azul, declaração esta, inspirada no amor a
primeira vista:
— Amor meu, moça bela
de azul... Eu que acreditava apenas nas mentiras que me contavam, pude
agora entender o verdadeiro significado... Olhando em seus olhos e sendo
presenteado com seu doce sorriso, pude compreender o que realmente é o
amor... Não sou mais um tolo, moça de azul, seus olhos não mentem pra
mim! Não sou mais um tolo, pois agora vago neles, eles me presentearam
com seu sorriso – lhe estendeu o buque de flores bonitas e continuou a
dizer – Lhe trago estas flores, pois á partir de hoje, quero enfeitar
todos os seus dias!
O povo aplaudiu
quando a moça de vestido azul pegou o buque. Ela, que nunca havia sido
amada por ninguém, aceitou a proposta do romântico equilibrista.
Todos os dias antes
de subir ao trapézio, enfeitava o equilibrista os dias da moça de azul,
conforme o prometido. Ela em orgulho extremo andava florida pelas ruas,
enquanto todos a aplaudiam por tão bem querer. Os rapazes a olhavam
fascinados e apaixonados, a cortejando e lhe dando toda a essência da
luxuria. Ela passou a ser o centro das atenções na cidade miúda. O
equilibrista ainda não contente, mandou que pintassem todas as casas por
onde a moça passava, para que sua beleza atingisse á tudo em sua volta.
E a cidade colorida passou a ser mais feliz, tendo como rei o
equilibrista e como rainha a moça de azul.
Em um dia triste, o
equilibrista despencou de suas cordas bambas... Caiu inerte no chão do
circo, em meio ao lotado espetáculo. Se calou em uma cama, sem poder se
mover, sem poder andar e gritar sobre o amor.
As pessoas vinham lhe
visitar e lamentavam sua sorte, ele chorou quando viu sua amada de
azul, que o olhou triste e saiu sem dizer uma única palavra de
esperança.
Logo o tempo lhe
condenou, as visitas diminuíam a cada dia, e ele foi abandonado,
esquecido por todos... Agonizava o tolo equilibrista em sua cama
pequena, com o nobre coração doendo mais do que o próprio corpo,
gritando pelo amor traído.
A moça deixou tudo
para trás, continuou sorrindo feliz em todos os seus dias abençoados,
namorando outros rapazes e deixando as tristes lembranças no peito do
amado.
O desgosto enfim
cobriu o homem romântico. Sua ultima vontade, o tumulo pintado de
intenso azul, em meio aos outros desfocados. Nele brotou uma flor também
azul.
Á quem diga que esta
flor era o coração dele, que subiu no muro alto rasgando as vestes, na
esperança de um dia, receber a visita do grande amor de sua vida...
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