Madrugada.
"Gritos", a luz do abajur do quarto do casal é acesa, em um sobressalto Charles emite aquele assustador som.
“O
que houve? Você sabe que fomos dormir tarde ontem e precisamos acordar
logo cedo, se não dormir, amanhã ficara sonolento durante o trabalho", o
repreende a esposa, muito irritada.
"Tive um sonho horrível, pesadelo muito estranho e assustador", disse Charles, ainda impressionado..
“Lembro-me
que estava em um descampado, havia uma cama, onde eu estava deitado, o
móvel possuía algumas características peculiares, a cabeceira e sua
estrutura, de madeira, entalhada com temáticas e características
artísticas barrocas, a sua dimensão era maior que a nossa, sobre ela um
forro de ceda, muito deliciosa e aconchegante, eu me movimentava de
forma muito espaçada, para melhor me aconchegar.
Outro fator que
chamava a atenção era o céu, possuía uma tonalidade que se dividiam
entre uma cor laranja e vermelho, as nuvens moviam-se continuamente,
pétalas de flores deslocava-se quase que em todas as dimensões e
direções do espaço.
Surgiu a minha frente um ser estranho: humanoide,
com mãos e pés com enormes garras, e ficou sobre mim, eu continuava
deitado, a face sendo uma mistura de gato , olhos e orelhas, com
cobra que caracterizava a boca e a língua que movia-se sem parar. Pele
parecia como de um sapo, cor verde acinzentadas, possuía algumas manches
e feridas como um leproso, feridas as quais vazavam continuamente, a
forma que se moviam , retorciam-se de forma estranha, lembrava muito
filmes asiáticos de terror, ou a garota do filme exorcista.
Enquanto a
criatura movia-se a minha frente surgiram inúmeros seres, com as mesmas
características do ser, os humanoides dançavam ao redor da cama como se
fosse um ritual. O monstro começou passando a unha em meu peito, eu vi
meu tórax sangrando, certa hora ficou extremamente agitado e aumentou a
velocidade das ações, cravou profundamente as garras em meus braços, um
de cada vez, girou o abdômen e repetiu a violência, agora em minhas
pernas uma por vez, quase dilacerou meus membros inferiores. As demais
criaturas continuavam a dançar ao redor da cama, o céu e o mundo dos
sonhos começam a girar, tive a mesma impressão que temos quando estamos
bêbados.
O céu deixou a tonalidade laranja e tornou-se completamente
vermelho, escarlate, ao mesmo tempo em que aquele demônio volta o corpo
para frente e posiciona-se com uma das enormes garras em minha garganta,
sabia que desfecharia um golpe mortal, ”gargalha”, era só um sonho. E
foi nesse momento em que acordei soltando aquele berro, parecia tão real
e extremamente assustador.
Ela, a esposa, não prestou muito atenção
no que o marido a relatou, o indagou novamente para voltar a dormir, o
fez de forma mais carinhosa. Preparou-se para relaxar, porem antes
resolveu lhe dar um beijo, e assim o fez. Após o carinho encostou uma
das mãos no colchão, sentiu que a cama estava molhada, líquido e meio
viscoso, olhou a sua mão umedecida, não acreditou no que estava vendo.
Resolveu ligar a luz, pois a luz do abajur era muito pouca para
tirar-lhe a duvida. Levantou, ligou o interruptor do quarto e olhou para
o esposo novamente. “sangue”, indagou em pensamento, por instinto fixou
o olhar na cama onde o marido a estava esperando.
A cena era
desesperadora, a cama estava quase que inundada pelo líquido
avermelhado, o marido possuía cortes nos mesmos locais os quais havia
relatado esse relacionado ao sonho que teve: braços, pernas, um risco no
peito e uma pequena cicatriz do lado direito de sua garganta, os
forros, antes brancos, quase que em sua totalidade mudam de cor, a
esposa treme, sente ânsias ao ver aquilo, ele tenta se olhar, não
consegue, motivo, alguns tendões do corpo estão cortados, ela coloca as
mãos sobre a face, o rosto remete-se a uma expressão apavorada.
O
grito se repete porem, muda de lábios, Antônia emite aquele horrendo e
estridente som, quase em choque ela repete o assustador urro do marido.
Imediatamente
entra em contato com a emergência do hospital, na manhã seguinte ele é
operado, procedimentos médicos tiveram como objetivo o ligamento dos
tendões, que haviam sido cortados durante a noite.
Na semana
seguinte, enquanto se recuperava ocorre outro fato. A sexta noite de
recuperação, as características da noite pouco pareciam com a do dia
fatídico, e o pesadelo também era extremamente diferente, mas o
resultado foi o mesmo. Charles foi internado com cortes em outros
lugares, o terror se repetiu.
Iniciou-se uma jornada, um calvário. O
marido passou por inúmeros exames, o casal passava dias em hospitais e
clinicas, o desespero e o horror os tomavam. Hospital, pesadelos,
hospital, assim era resumido o momento dos dois.
O dialogo entre um especialista e Charles, isso ocorreu durante uma das consultas em que esteve:
“Já
fizemos tudo o que é possível, todos os exames conhecidos, não temos
explicação lógica para as ocorrências de fraturas durante os pesadelos”,
relata o médico.
“Mas tem que ter alguma explicação”, esbraveja Charles.
Após alguns segundos de silencio o médico diz:
“Charles.
Sei que não é normal de um profissional da saúde lhe dizer isso, mas eu
acho que deve procurar alternativa a medicina convencional”.
Investigações
policiais ocorreram, certa vez fora colocado uma filmadora gravando-os
durante a noite. A gravação travou por alguns minutos, quando voltou a
gravar ele já estava ferido.
O sonhador era um homem que praticava
exercícios físicos continuamente, era forte, não exagerado, loiro,
mantinha a barba feita, gostava de vestir bem, estilo garotão, apesar de
seus quarenta anos, media um metro e oitenta noventa quilos de massa
muscular, a barriga de cerveja era a única coisa que o exercício
continuo não conseguia consumir.
A aparência dele semanas depois, ele
mais magro, olheiras profundas, a barba muito mal feita, se vestia com a
mesma roupa há dias algo que antes não acontecia, arrastava-se ao
andar, irreconhecível, quanto menos dormia mais doente ficava, quando
dormia os pesadelos quase o matavam.
Independente de crenças,
religiosas ou científicas, quando não vemos saída buscamos todo tipo de
ajuda. A dupla de amantes inicialmente relutou muito, o dia em que
decidiram procurar ajuda, extra medicinal, era data dos namorados, a
decisão foi tomada após Charles ter relatado que pensava
desesperadamente e sinceramente em suicídio, ela sempre ao seu lado
confrontou-lhe nessa decisão, agindo de forma positiva, segura e
apaixonada.
“Sem você, minha amada, não sei se aguentaria”, ele desabafa para Antônia, ela era a pessoa que estava sempre ao seu lado.
Na
mesma semana procuraram diversos curandeiros, médicos de quintais,
religiosos, ciganos... E nenhuma solução, até que certo dia encontrou um
homem que dizia ser um grande pajé, o encontraram em uma aldeia
indígena próxima da cidade, a qual estava mais para uma favela ou
acampamento de movimentos populares.
Charles sentado ao chão da velha
casa de madeira. Entra no local aquele velho magricela de calção de
futebol da década de setenta e uma mascara muito da ridícula, “ridículo,
mas já passamos por tanta coisa” pensamentos do doente, o velho fumava
um cigarro de palha, entre as dancinhas esquisitas, que lembrava as
danças dos demônios do primeiro sonho, ele baforava na face de Charles a
fumaça daquele fétido cigarro, a consulta durou cerca de meia hora.
Naquela
noite Charles já esperava mais um pesadelo que o machucaria, a correria
para hospital e todo aquele stress que já se tornara quase que
cotidiano, alta madrugada, até que finalmente o marido conseguiu pregar
os olhos, já havia ficado dias sem dormir, porem essa tática o deixava
mais debilitado. “Acorda” novamente, vê um vulto vindo em sua direção,
quando a sombra chega mais próxima a ele a forma da criatura fica mais
bem definida, rosto humano, feminino, assim como um corpo humanoide,
possuía a pele com escamas assim como um peixe, lembrava muito o monstro
do filme de Francis Ford Coppolaolhos faminto, o demônio arma aquelas
enormes asas, na ponta de cada uma, asas, possuía uma espécie de lamina,
a qual começa a desfechar no peito de Charles.” tudo de novo” fala em
quanto dorme, de repente o sonho muda.
È relembrado o ritual com xamã
indígena que ocorreu a tarde, vem a mente dele as danças, as roupas
simples, a mascara, a fumaça sendo expelida em sua face pelo velho
charlatão, por alguns segundos a criatura volta a seu sonho, mas como um
efeito cinematográfico, o ser começa a se desintegrar , evaporar e
some em segundos.
A criatura que esta sobre ele agora era uma bela
mulher, vestia uma lingerie clara e movia aquela faca em sentido
vertical, mais precisamente de cima para baixo, realizava a ação com
tanta velocidade e força que nas primeiras estacadas no peito de Charles
abriu a caixa torácica, a facada fulminante, com o coração já visível,
foi tão precisa que atravessou o órgão de ponta a ponta.
Após
assassinar Charles, seu marido, Antônia deslocou-se até a cozinha, andou
pela casa sem esbarrar ou tropeçar em nada, esse fato era estranho,
pois não havia nenhum grau de iluminação no local, quando chega ela
limpa e guarda a faca, segundos depois retorna ao quarto do casal, deita
ao lado de seu marido morto e dorme.
A esposa era sonâmbula, e
quando estava nesse estado, sem explicação, o atacava com o objetivo de
matá-lo, o cérebro do esposo tentava o defender dos ataques dela
gerando-lhe pesadelos.
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