quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Gritos do túmulo

Seu Antonio foi o primeiro a acordar. Edleuza, sua esposa,  abriu os olhos e perguntou
     - O que foi velho?
     - Não esta ouvindo os gritos? - disse já colocando a calça que estava em uma cadeira ao lado.
     - É verdade, agora estou ouvindo sim, parece de alguém pedindo socorro! Será que algum dos meninos que foram a festa na cidade se machucou e vem gritando?
     Quando seu Antonio chegou a porta de casa, a estrada que passava na frente já avistava algumas pessoas que moravam além de sua casa. O pequeno povoado de poucos habitantes era composto apenas de uma igrejinha, onde uma vez por mês o padre da cidade vinha realizar missa, e uma bodega onde todos costumavam se reunirem nos finais de semana para prosear e jogar sinuca. Os oiteiros, como era chamado o povoado, não tinha luz elétrica nem agua encanada, ainda viviam de lamparinas e agua de poço ou alguns açudes onde enchia com a agua da chuva. Todos viviam da roça, que uma vez por semana iam a cidade vender o que plantavam.
     - O que aconteceu? - Perguntou quase gritando ao pessoal que vendo ele na porta pararam.
     - Não sabemos Antonio, achamos que os gritos vinha de sua casa. - Respondeu Zé de Cilo, um outro roceiro que ali estava.
     - Acabei de acordar, os gritos vem  lá de cima. - Disse indicando com a mão, mais além.
     - Então vamos de encontro, talvez alguém esteja ferido lá na bodega do Paulo.
     Depois de puxar a porta e dizer a mulher que o esperasse dentro de casa, seu Antonio acompanhou o pessoal até a bodega de Paulo. Enquanto caminhavam, iam se perguntando o que poderia ter acontecido. Os gritos de socorro, continuavam em alto e bom som, eram pedidos desesperados, algumas vezes só clamava por ajuda, em outros momentos, suplicava por agua.
     Quando por fim chegaram a bodega, encontraram o velho Paulo com a esposa e seus seis filhos na porta, com um lampião na mão.
     - O que aconteceu Paulo? - Perguntou Zé de Cilo
     - Eu, que pergunto! Acordei a alguns minutos com esses gritos. Vendo daqui, parece que vem do caminho que leva a cidade. Será que algum dos meninos que foram hoje cedo para a festa de São Pedro, foi esfaqueado e os outros vem trazendo ele?
     - Deixa de ser besta homem! Se alguém fosse ferido, ficaria no hospital da cidade, porque iriam traze-lo até aqui? - Disse seu Antonio - Vamos acompanhar os gritos e ver de onde ele vem.
     Uma turma de quinze a vinte homens com suas lamparinas nas mãos se dirigiram ao encontro dos pedidos de socorro que a cada momento se intensificava, mais e mais.
     Depois de andarem por um bom tempo, chegaram a conclusão que aqueles gritos não poderia ser humano, afinal, quanto mais andavam mais ele se afastava. Quando já estavam resolvidos a voltarem, um dos integrantes do grupo opinou.
     - E se fôssemos só mais um pouco até o PAU FERRO?
     - Você ficou louco homem? Aquele PAU FERRO é mal assombrado! - indagou um outro, disposto a voltar dali mesmo.
     Mais como a curiosidade sempre foi maior que o medo, depois de uma pequena discussão resolveram seguir até o PAU FERRO.
      O Pau Ferro era uma grande encruzilhada, onde em tempos antigos, em uma noite de tempestade uma grande árvore com tronco enorme caiu em cima de alguns cavalheiros que tinham parado para se abrigar da chuva, Os corpos foram encontrados por moradores de povoados vizinhos e depois de muito esforço conseguiram retirar os homens, alguns pela metade, pois o peso da árvore era estupendo, e os pobres animais apodreceram. Com o tempo se acabaram por baixo do tronco. Por conta desse acidente, muitos juram ver animais e seus cavalheiros pedindo socorro em noites de tempestades. Pois foi justamente ali que o grupo parou com suas lamparinas e mesmo os mais corajosos não podiam deixar de sentir um calafrio, pois os pedidos de socorro agora era real, todos ouviam justamente sobre o grande tronco.
 Depois de se benzerem já se preparavam para voltarem quando seu Antonio apontou para um lugar , um pouco mais além.
     - Gente, ali adiante, vejam! Não aparece um túmulo?
     Mais uma vez a curiosidade venceu o medo e passando por sobre o tronco se encaminharam para o local indicado. Não deu outra, era realmente um túmulo, e pela altura da areia, dava para ver que tinha sido feito a pouco tempo, no maximo um ou dois dias.
    - Vocês já ouviram falar que alguém tenha sido enterrado aqui? - Voltou a perguntar seu Antonio
    - Acho que não, depois o cemitério não fica tão longe daqui.
    Os gritos continuavam sem trégua, para os homens que estavam ali, só tinha uma explicação: Alguém estava enterrado naquele túmulo e apesar dos gritos parecerem estar no ar, quem estava naquele túmulo pedia socorro.
     Dessa vez o medo falou mais alto, e todos de comum acordo voltaram para o povoado e suas famílias. Durante toda a madrugada os gritos ainda persistiram, não deixando os moradores de toda aquela redondeza dormir. No dia seguinte, o silencio era total, nada lembrava a noite anterior. As autoridades da cidade foi chamada. de inicio o delegado não deu muito credito aqueles caipiras da roça, mais depois de muita insistência, resolveu averiguar o tal túmulo que chorava. Não demorou a descobrir que era verdade, tinha um túmulo naquele local, considerado por muitos como mal assombrado, e depois de cavado, foi encontrado uma família inteira, composta de pai, mãe e três filhos pequenos, que pela expressão dos rostos tinham sido enterrados vivos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário