terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A lenda da garota do pescoço quebrado

— Está com medo? – perguntou Luisa para Angélica. As duas estavam diante do computador. Era meia noite e quinze. Angélica pensou duas vezes. Será que deveria apertar o “play”.
— Não é nada demais, é só uma lenda idiota – comentou Luisa, querendo encorajar sua amiga.
— Mas e se for verdade?
— Fique sossegada, não existe nenhuma garota do pescoço quebrado.
Angélica apertou o “play”. O vídeo mostrou a cena de uma garota prestes a ser enforcada por um homem. Assim que o vídeo terminou, Angélica olhou para o lado e viu que Luisa estava com os olhos tampados com as mãos.
— Por que não assistiu?
— Eu fiquei com medo.
— Sua bobona – debochou Angélica – é só um vídeo tosco.
— Vamos esquecer esse negócio de lendas urbanas. Estou com sono – respondeu Luiza indo para sua cama.
— O que é mesmo que acontece com a pessoa que assiste esse vídeo?
— Dizem que a garota do pescoço quebrado vem atrás de você.
— Mas quem é essa garota do pescoço quebrado?
— Ouvi dizer que é a garota que aparece no vídeo. Parece que ela foi enforcada de verdade. Seu espírito vingativo mata qualquer pessoa que assiste o filme.
— Igual o filme Chamado?
— Só que você não tem sete dias antes de morrer.
— E para não morrer você deve mostrar o vídeo para outra pessoa?
— Acho que sim.
— Que bobagem, é melhor a gente dormir – disse Angélica, não querendo saber mais detalhes daquela lenda. Ela desligou o computador e foi deitar-se.
Quando o dia amanheceu, Luisa arrumou suas coisas para ir embora.
— Por que vai embora? – perguntou Angélica, surpresa – meus pais foram viajar e só voltam amanhã, temos a casa inteira só pra gente.
— Esqueci que hoje tenho consulta no médico.
Rapidamente, Luisa ajeitou sua mochila e se despediu de Angélica. Assim que botou os pés na calçada, saiu correndo, como se fugisse de alguma coisa.
— Garota estranha! – comentou Angélica, vendo o comportamento da amiga.
Não era nem nove horas da manhã. O dia estava ensolarado e sem nuvens. Angélica foi para a cozinha preparar seu café. Sentou-se a mesa e serviu-se de pão com manteiga. Ao dar a primeira mordida, sentiu um gosto estranho. Olhou para seu pão e viu que estava manchado de vermelho. Parecia ketchup. A garota abriu o pão e percebeu que o recheio era minhocas vivas. Angélica cuspiu o pedaço que havia mordido e jogou o pão no lixo. Tomou um copo d’água para tirar o gosto amargo da boca. Com isso, Angélica perdeu a fome.
Ela foi para seu quarto, mas a porta estava trancada. Angélica podia ouvir passos de alguém andando ali dentro. A porta destrancou-se sozinha. Desconfiada, Angélica girou a maçaneta. Abriu a porta bem devagarzinho. O quarto era só escuridão, pois a janela estava fechada. Ela ligou o interruptor. Aparentemente, não havia ninguém no quarto. Seria bom olhar debaixo da cama, pensou Angélica. Ajoelhou-se e ergueu a aba do lençol. Vazio. Também não encontrou nada de anormal no guarda-roupa.
Abriu a janela e deixou a claridade penetrar no quarto. Lá fora, perto do portão, havia uma garota loira. Sua cabeça pendia para o lado, como se o seu pescoço estivesse quebrado. Ela olhava para a janela, olhava para Angélica
No susto, Angélica fechou a janela. Era apenas uma ilusão, não existia nenhuma garota do pescoço quebrado, pensou Angélica. Ela entrou no banheiro para tomar um banho. Ligou o chuveiro e deixou a água cair. Ao terminar seu banho, a garota desligou o chuveiro e saiu do box para pegar a toalha. Em meio ao vapor de água, ela viu a silhueta de uma pessoa. Angélica voltou para dentro do box e fechou a porta de vidro, pensando que assim ficaria protegida. A pessoa aproximou-se. Era a garota do pescoço quebrado. Seus olhos eram cinzas e esbugalhados. A pele branca de sua face era repleta de veias negras. A sua boca desdentada estava aberta em um sorriso asqueroso. O rosto da garota não tinha expressão, era o rosto de uma pessoa morta.
— Socorro! – gritou Angélica ao ver a garota transpassar a porta de vidro do box.

Arrependida e preocupada, Luisa voltou a casa de Angélica. Não devia ter mostrado o vídeo. Mas se não fizesse isso, ela é quem seria a vitima da garota do pescoço quebrado.
Luisa iria pedir para Angélica passar o vídeo para alguém, antes que as coisas pudessem piorar.
Não adiantou tocar a campainha, ninguém atendia a porta. Mas Luisa podia ouvir o barulho do chuveiro ligado. Ela experimentou a janela da sala. Estava aberta. Entrou por ali.
— Angélica – chamou na porta do banheiro. Sem resposta, ela abriu a porta e foi engolida por uma onda de vapor.
— Angélica, você está aí? – perguntou. Nada. Luisa entrou no banheiro. O box estava fechado e vazio. Luisa desligou o registro do chuveiro e saiu dali. Foi até o quarto de Angélica. Pela fresta da porta, viu que sua amiga estava sentada diante do computador.
— Ei, como você está? – perguntou Luisa, entrando no quarto. Angélica não respondeu. Aproximando-se, Luisa notou que ela estava assistindo o vídeo da garota enforcada.
— Se eu fosse você, não ficaria assistindo essa merda – avisou Luisa e bateu no ombro de Angélica. A cabeça da garota caiu para o lado, como se o seu pescoço estivesse quebrado. A cadeira girou sozinha e Luisa viu o rosto sem expressão de Angélica – seus olhos estavam brancos e sua boca escancarada em um sorriso asqueroso.

Cuidado com o que você deseja ( Primeiro de 2014)

1

Sentado no banco da praça, Ralf fumava e esperava por alguém que precisava de ajuda. Mas a praça estava vazia, por isso levantou e seguiu caminho para casa.

Logo que dobrou a esquina viu um homem parado em frente a sua casa. Vestia terno branco, um chapéu e apoiava-se em uma bengala. O velho encarou Ralf, tinha um olhar medonho.

Ralf se aproximou e quase congelou ao ouvir a voz do homem.

— Precisamos conversar, filho.

— Quem é o senhor ?

O estranho, com um belo sorriso, respondeu:

— Sou aquele que vai lhe contar a verdade.

— Que verdade?

—  Quem você é e porque você faz isso com as pessoas.

— Mas você não pode me ajudar. Eu só falo com as pessoas quando elas procuram por mim.

— Não é bem assim, a muito tempo atrás você fez um pedido. A trinta anos atrás. Disse que queria ser conhecido, nunca ser esquecido. — Ralf estava perplexo — Feche os olhos — concluiu o velho.

Ouvindo a serena voz, Ralf não resistiu e fechou os olhos.

—Agora — Dizia o estranho  — lhe mostrarei sua  melhor lembrança.

Um filme passou na cabeça de Ralf, os protagonistas eram o pequeno Rafael e o velho de terno branco. A lembrança se solidificou, era como se nunca tivesse esquecido.


— Garoto — dizia o homem, dando uma longa baforada no cigarro — E agora, você lembra de mim ?

— Eu não entendo — Respondeu Ralf enquanto abria os olhos.

— Lembra o ultimo livro que leu ? Lembra como você se sentiu a cada palavra que lia e a cada página que virava ? — Comentou o velho.

O rapaz novamente fechou os olhos e pareceu sonhar.

— Sim, eu me lembro.

— E quantas vezes você se sentiu daquela maneira durante toda vida ?

—  Algumas.

— E o que torna sua vida, ainda que por menor que seja, significante ?

— Acho que são meus livros.

Ralf perdia o medo do homem após determinado momento da
conversa.

A lembrança explodiu na mente de Ralf novamente.

— Porque você não mostra a todos que um homem, apenas usando lápis e papel, faz mundos e pessoas, da mesma maneira que Deus fez a terra ? — dizia o velho.

 O garoto o fitava, sem conseguir tirar os olhos do sorriso do homem.

— Você crê em Deus, garoto ?

— Sim — Respondeu,  sem entender a pergunta.

— E no Diabo ?

— Sim.

— E porque é que você acredita neles ?

O menino sem pensar respondeu:

— Porque esta na bíblia.

— E sabe quem a escreveu ?

— Não, eu não sei.

— Foi um homem — falou o velho. Levou a mão até o ombro do garoto e os dois começaram a caminhar.

— Você entende? Um homem consegue mover o mundo apenas com palavras! Eu lhe dar tudo que quiser ter, mas você precisa fazer algo.

— O que, diga-me?

— Escreva uma estória pra mim!

2

Ralf de volta a realidade, começou a ouvir o estranho homem

— Então eu lhe disse que no dia seguinte estaria aqui tudo que precisava para escrever a minha história e poderia ser e ter o que quisesse. No dia seguinte você veio e pegou a caixa que deixei. Nela continha lápis, papel e uma chave.  Você pegou a caixa, chegou em casa e começou a escrever, escreveu durante os cinco dias. E no quinto dia veio até mim.
— Veja — disse o homem de terno, e tocou novamente a testa de Ralf.
 — Minha história esta feita, leia-a — dizia o mesmo garoto da visão anterior.

O estranho homem leu a estória, era sobre um garoto que tinha um sonho estranho. E deu um sorriso.

— Ótima estória garoto — disse o estranho homem de terno — O que você tanto deseja ?

O garoto sorriu...

 3

Ralf voltou a realidade, com muitas perguntas a fazer.
— Quem é você ? E quem era aquele garoto ?
— Aquele era você Ralf
— E quem é você ?

O homem apenas sorriu.

— Não entendo — disse Ralf.

Dando uma baforada no cigarro o homem continuou:
—Lembra—se quando me chamou e disse que queria ser conhecido, eu lhe pedi para escrever uma estória e disse que lhe daria qualquer coisa, lembra ? Eu lhe mostrei agora mesmo.
— Mas e como ele pode ser eu, e porque me fez escrever aquela história  ?
— Aquela é a sua história, Ralf, você apenas escreveu o que se tornou.
— E como não consigo me lembrar de nada ?

Com lágrimas no rosto, Ralf, tentava entender.

— Ralf, você escreveu, fez o mundo ler sua estória e acreditar em você, ao contrário, fez o mundo acreditar que você não existia. Só não lembra qual foi seu pedido. E vou lhe contar agora.
— Primeiro, você pediu pra esquecer tudo que tinha vivido até aquele momento.
— Porque ?
— Não sei, eu apenas realizei o que pediu, como tínhamos combinado.
E qual foi o outro ?
— Você pediu pra fazer o que eu faço, ser quem eu sou, e poder ver como vejo mas sem saber quem é.

Ainda sem entender, Ralf perguntou:

— Eu não entendo, quem sou eu ?

Sorrindo, o estranho homem de branco lhe respondeu:
—Você é o Diabo, meu filho.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Final de uma vida, testando limites ( Ultima postagem do blog)

Há um certo clichê nisso. Toda essa coisa de cansar, desistir, parar, tem me enchido o saco. Nunca interpretei essas palavrinhas na forma literal do termo. Nunca desisti de verdade de te amar mais que tudo, porque nunca conseguiria fazer isso. Eu juro, ando tentando fazer muita coisa pra essa angústia passar, enquanto a vida olha na minha cara e começa a rir, no maior tom de ironia possível. Odeio ela na maior parte do dia, mas quando a saudade aperta, eu sei exatamente para onde quero voltar. Por que você nunca se importa com isso? Sério, eu faria qualquer coisa pra te ver sofrer agora, esperneando pela minha falta como uma criancinha mimada que foi pra escola e quer voltar para os braços da mãe. Mas você não é criança, e não sou sua mãe. E não sinto também que queira lutar por mim, esse detalhe é importante nessa minha tentativa estúpida de arrumar um jeito para que você sinta que preciso desse seu amor pela metade, já que por completo eu não conseguiria lidar. Volta aqui, finge que sou sua mãe e pede meu colo, depois que você sentir que é o meu corpo ali, deixo você deitar a cabeça no meu peito e te dou o livre arbítrio de fazer o que bem entender comigo.
Há alguma coisa em mim que não consigo controlar. Nunca passo por alguma ponte ou avenida  sem pensar em suicídio. Quero dizer, não fico pensando nisso. Mas passa pela minha cabeça: suicídio. Como uma luz que pisca. No escuro. Alguma coisa que faz você continuar. Saca? De outra forma, seria apenas loucura. E não é engraçado, colega. E cada vez que escrevo um bom poema, é mais uma muleta que me fazer seguir em frente. Não sei quanto às outras pessoas, mas quando me abaixo para colocar os sapatos de manhã, penso, Deus Todo-Poderoso, o que mais agora? A vida me fode, não nos damos bem. Tenho que comê-la pelas beiradas, não tudo de uma vez só. É como engolir baldes de merda. Não me surpreende que os hospícios e as cadeias estejam cheios e que as ruas estejam cheias. Gosto de olhar os meus gatos. Eles me acalmam. Eles me fazem sentir bem. Mas não me coloque em uma sala cheia de humanos. Nunca faça isso comigo. Especialmente numa festa. Não faça isso.
Se você pensa em suicídio assim como eu? bom, vá em frente, mas antes, tente fazer isso - roube chocolate no walmart, prove sorvete de tangerina, dirija à 220 km por hora em uma rodovia, grite o mais alto que puder dentro de um túnel, zere Sonic, Pacman e Super Mario, almoce com um policial, pule de bang-jump, escale uma montanha, leia trinta livros, vá ao show da sua banda favorita, faça uma tatuagem, apaixone pessoas que você não vai amar até descobrir que na brincadeira se apaixonou mesmo, aprenda a tocar um instrumento, escreva uma poesia, visite um parente distante e finja que as conversas da família te interessam, segure o ar por dois minutos sem soltar (não morra tentando essa parte), escreva seu texto favorito nas paredes do seu quarto, beba até vomitar, chore em um lugar público pra ver se alguém irá te consolar, piche uma frase de efeito em um muro, coma até não aguentar mais, ande de bicicleta sem as mãos, encoste a língua no nariz, cante no ventilador, abrace um mendigo, invoque satã com um tabuleiro de ouija e fique com o cu na mão. Depois de tentar tudo isso, faça o que achar melhor, que a vida é uma merda ninguém pode negar, mas algumas loucuras tornam tudo mais suportável....
 Eu falhei em tudo. Falhei em tudo na minha vida. Mas principalmente falhei comigo mesmo. Veja a que ponto eu cheguei. Estou desistindo de tudo. Estou aqui escrevendo uma espécie de ''despedida'', pelo fato de que não posso dizer a todos que eu desisti. Talvez alguém tentaria impedir, e eu não quero. E eu rezo pra que ninguém sinta culpa, pra que ninguém sofra por mim assim como eu estou sofrendo e venho sofrendo a cerca de 7 anos. Eu não mereço nenhuma lágrima. A culpa é minha. Eu fiz isso comigo. Eu que deixei as coisas chegarem a esse nível. Eu que me caminhei até a beira de um abismo, e eu, sozinho, decidi que é melhor pular. Eu já estava cansado de tudo, cansado de estar sempre só. Cansado de fingir estar bem sempre. De carregar tanta dor. Cansado de me maltratar. Como eu já disse, eu falhei comigo mesmo. Eu acabei me importando demais com os outros e esqueci de mim mesmo, eu tentei me importar com quem eu amava, mas de uma forma ou de outra elas arrumavam alguma coisa para me fazer sentir culpado de algo que não fiz. Eu fui tentando ser melhor pros outros e esqueci de me sentir bem. Fui querendo ser bom o bastante pra todos, e acabei não sendo nada pra mim mesmo. E quando eu percebi já era tarde. Eu me perdi. Eu deixei meu antigo eu desaparecer. E comecei a odiar o que havia me tornado. Só Deus sabe o quanto eu me odiava. Não gostava de nada em mim. Tinha nojo de quem eu era agora. E essa raiva foi virando dor. E, mesmo depois de eu ter feito tudo por elas, as pessoas que disseram que estariam sempre ali comigo, de repente sumiram. Eu estava sozinho. E estava me odiando. Comecei a descontar toda a raiva e a dor em mim mesmo. Eu excedi os limites. Agora minhas únicas companheiras eras as lâminas, mas mesmo assim eu temia das marcas, não queria chamar atenção de ninguém. As lágrimas foram substituídas por gotas de sangue. Mas eu não me importava. Escondi de todos. Ninguém precisava ficar sabendo. O tempo foi passando, e as coisas foram piorando. Estava difícil não me importar com o que estava havendo. Eu não consegui controlar. Passei as madrugadas molhando o travesseiro com lágrimas, mas ninguém via. Cada vez mais sozinho, me sentindo pior e me odiando cada dia mais por ser tão fraco, tão estúpido. Conheci pessoas novas, mas fui machucado novamente. Me tornei frio. No final só sobraram duas pessoas que realmente se importavam. Meus verdadeiros amigos. Meus anjos. Eles tentaram me ajudar. Mesmo distantes. Mas eu via que isso estava acabando com eles. A cada corte que eu fazia sabia que também estava ferindo a eles. Tentei parar. Mas eu fui fraco. Não consegui suportar a vontade de sentir o sangue escorrer. E lá estava eu me maltratando novamente. Fui me afastando. Era melhor pra eles ficarem sem mim. Só que eles não entendiam isso. Eu não queria mais magoá-los. Então percebi que desistir era a melhor solução. Tudo ia morrer comigo. E aqueles que se importavam logo iriam esquecer. Eu iria me tornar só mais uma lembrança, as vezes boas, outras vezes ruins. Desistir não foi uma decisão fácil. Mas foi a que me pareceu ser melhor pra eles, e principalmente pra mim. Então, desculpe mas eu estou desistindo. Adeus.

Foi bom estar com vocês, mas já que a vida sempre da um jeito de rir da minha cara, vou deixar que ela sofra um pouco, quem sabe do outro lado da vida, exista algo de bom me esperando ?

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Os maiores mistérios de 2013

O planeta impossível

kepler
Com um conhecimento avançado em física, a humanidade consegue calcular muitas coisas e determinar o que pode ou não acontecer no Universo, só que, de vez em quando, algo muito estranho acontece e nós ficamos em um beco sem saída.
Em 2013, o planeta Kepler-78b foi um dos responsáveis por nos fazer repensar algumas coisas, pois, segundo os cálculos, ele não pode existir! Esse pequeno planeta fica tão perto de sua estrela, que faz a volta completa em apenas 8,5 horas, ou seja, um ano por lá passa mais rápido do que seu expediente de trabalho!
Essa proximidade deveria impossibilitar a formação do planeta, pois a estrela local absorveria sua massa. Por isso, a existência do Kepler-78b é um mistério para todos nós.

Zumbido misterioso

mysterious-hum-660
Desde 1950, vários relatos sobre um estranho barulho vindo do nada, que aumenta de noite e aparece, principalmente, em zonas rurais, tem intrigado os cientistas.
Em 2013, o estranho som ganhou um grande destaque e muitos estudos sobre ele foram feitos, porém não houve nenhum resultado conclusivo até agora. Esse barulho, conhecido como Hum, simplesmente acontece e some, sem deixar vestígios.

Os verdadeiros descobridores da América

Christian-krohg-leiv eriksson discover America
Já faz algum tempo que estudos geológicos desmentiram uma importante parte de nossa história: Cristóvão Colombo não descobriu a América! Evidências comprovaram que os vikings estiveram por aqui muito antes do famoso genovês. E agora, um novo estudo revelou algo muito interessante: Os vikings também perderam essa corrida!
Alguns cientistas descobriram evidências de que Europeus estiveram aqui 300 anos antes de Colombo, entretanto o problema é que ninguém sabe e nem imagina quem foram eles e porque estavam aqui. Muito menos, sabe-se como eles descobriram o caminho para a América.

O cone gigante

stone-structure-2013-660
Enquanto faziam uma varredura de sonar no Mar da Galileia, os cientistas encontraram uma estranha formação na rocha. A primeira vista parecia apenas um círculo, mas, quando estudada mais a fundo, eles descobriram ser um cone, com o diâmetro de 70 metros e uma altura de 10 metros.
O estranho é que a composição da pedra é diferente de tudo por perto e seu formato bizarro desperta muitas dúvidas. Ninguém sabe se aquilo pode ter sido feito por um fenômeno natural ou se "alguém" o colocou por lá.

A torre da Amazônia

ku-xlarge
Durante uma pesquisa na Amazônia Peruana, os cientistas se depararam com uma das coisas mais estranhas já vistas na natureza. A estrutura, que parece uma torre cercada por uma muralha, parecia “engenhosa demais” para ser natural, mas, no final das contas, ela era!
Durante muito tempo eles ficaram debatendo sobre o que poderia ser aquilo, até que a estrutura resolveu se revelar e de lá saíram aranhas! Isso mesmo, essa torre era na verdade um ovo, muito bem camuflado, de uma espécie de aranha que vive na floresta.

Hazel


Um grito habilmente abafado. Foi assim que acordei. Tremia um pouco, mas não era de frio. De qualquer forma puxei o cobertor tentando acalmar o corpo agitado. Como o de costume olhei para o lado, certificando-se que minha irmã ainda estava ali.
Ela estava. Dormindo tranquilamente. Alheia a tudo que acontecia quase todas as noites.
Não queria olhar o relógio, pois já sabia que horas eram. Três da manhã. Não se precisa de muito para entender o que isso significa. Eu já sabia, só não queria lembrar.
Isso não era recente. Na verdade, estava presente nas minhas memórias de infância tão bem como o sorriso da minha mãe.
Quando eu gritava e chorava, o tempo inteiro, dizendo que não queria dormir, não era bem verdade. Eu não queria sonhar. Sabia muito bem o que acontecia nos meus sonhos. Não queria voltar para lá. Foi quando insisti para minha irmã passar a dormir em um ponto onde eu pudesse vê-la. Era o que me acalmava quando eu acordava sem voz e em pânico. Ela parecia ser mais forte, e eu sempre acreditei que ela me protegeria.
Depois de um tempo, fui obrigada a parar de insistir em não ir para cama. Parar de correr para a cama da minha mãe quando era pesado demais para voltar a dormir. Mas os sonhos não paravam. Eles nunca param. Também acabei com a ilusão que ter a minha irmã por perto mudaria algo, mas ainda a olhava quando acordava, só por costume.
Dessa vez era apenas uma menina. Grandes olhos castanhos. Parecia tímida atrás do escorregador do parquinho. Eu sorri para ela enquanto esticava e dobrava as pernas no balanço.
- Olá princesa. – Disse e sorri vendo ela se esconder mais ainda. – Qual o seu nome? Ela não respondeu, mas saiu de trás do escorregador.
- Eu nunca te vi por aqui. Senta aqui comigo. – Eu disse e ela se sentou. Balançamos juntas por alguns minutos até que ela resolveu falar.
- Você que está no lugar errado.
- O que? – perguntei confusa.
-Você nunca me viu aqui, mas na verdade você que não deveria estar aqui.
-Sou muito grande para um parquinho? – Perguntei sorrindo, mas ela não respondeu.
Ficou em silêncio mais alguns segundos. Finalmente resolveu falar:
- Diga a ela que é um lindo nome.
- O que? Dizer a quem? – Perguntei.
- Ela me chama de “minha Hazel”. Demorou muito tempo para escolher. Diga que eu gostaria de ser chamada Hazel.
Parei o balanço. A menina falava como alguém muito mais velho.
Olhei para a menina. As correntes que suas pequenas mãos seguravam sujaram-se de vermelho. Era sangue. Ela encarou como se já esperasse.
- Suas mãos! – Eu gritei e saltei de onde estava para ajuda-la.
Uma forte dor no estômago me forcou a dobrar-me para frente. Na verdade não parecia ser no estômago. Abracei a barriga com os olhos fechados. Tentando conter a dor.
O cabelo completamente jogado pra frente enquanto eu soltava um grito agudo de dor, caída em frente ao balanço da menina Hazel.
Recuperei o ar. Olhei para frente. Ela havia sumido. No balanço estava uma borboleta amarela, que voou tranquilamente, atravessando a rua, parando na pista onde pessoas andavam tranquilamente.A dor foi tão real que me acordou. E o sonho passava em minha mente mais uma vez, enquanto eu encarava minha sonolenta irmã.O dia se passou normalmente.
O tédio inevitável do domingo não me surpreendia mais. Se me perguntassem se eu queria sair ou ficar em casa, provavelmente eu aumentaria o volume dos fones de ouvido e pediria para me deixarem em paz no meu quarto.
Estava perto de anoitecer novamente, o crepúsculo pintava o céu de um jeito bonito quando minha mãe pediu para comprar o pão. A chuva já tinha terminado, mas o delicioso vento frio ainda corria pelas ruas da cidade. Peguei com gosto meu casaco de capuz e sai.
No caminho encontrei várias crianças brincando, e até mesmo discutindo, o que me fez rir um pouco. Caminhava junto com muitas outras pessoas que iam e vinham de todos os lugares possíveis. Apesar do fluxo de pessoas, o barulho não incomodava.Velhinhos correndo, adolescentes conversando e um lindo casal de mãos dadas.
A mulher estava andando devagar, o homem que a acompanhava estava claramente carregando-a. Eles pararam poucos metros a minha frente quando a mulher sentou-se no chão, chorando.
O marido puxou o telefone e eu estava perto o suficiente quando a mulher começou a gritar. O homem se desesperou e parecia gritar também com a pessoa do outro lado da linha. Provavelmente pedindo ajuda.
Vários rostos curiosos começaram a se reunir em volta da cena. Eu me abaixei perto da moça e segurei sua mão. Mais nenhum dos intrometidos parecia interessado em ajudar, só queriam saber do que se tratava. Uma poça de sangue começou a se formar entre as pernas da mulher que gritava rouco, com os olhos fechados.
- Meu… meu bebê. – Ela conseguiu dizer quando abriu os olhos.
Grandes olhos castanhos.
Os olhos delas me deram vertigem. Fechei os meus, tentando não desmaiar.
Voltei a olhá-la. Ela parecia um pouco melhor, agora chorava baixinho. O marido chegou perto e se abaixou. Claramente ia me expulsar quando eu sussurrei.
-Hazel…
Eu toquei a barriga da moça. Ela me encarou com os mesmo olhos castanhos que eu havia visto hoje de madrugada:
- Como… Como sabe o nome da minha Hazel?
- Ela queria… Queria que você soubesse que é um lindo nome.
A mulher me encarou, porém a dor não a deixou falar. O marido me olhou com olhos arregalados, mas desviou assim que a mulher soltou mais um suspiro.
Levantei ainda em êxtase. A situação não parecia real.
Foi quando uma borboleta amarela chegou a meu campo de visão. Ela atravessou a rua delicadamente. Do outro lado da rua estava um parquinho, esse eu conhecia, o vi diversas vezes fazendo esse caminho.
O balanço se mexia tranquilamente, porém não tinha nenhuma criança sentada ali.
-Responda! – A mulher me disse quando conseguiu um pouco de fôlego.
Eu levantei, ainda encarando o balanço que se movimentava:
-Desculpe, eu estive no lugar errado. – Disse enquanto me afastava

A Noiva Cadáver de Carl Von Cosel

Arrebatado por uma paixão avassaladora, Carl procurou cuidar de sua amada até a sua morte. Carl conheceu seu amor, a bela Elena, quando trabalhava em um hospital dos EUA. Ela se encontrava fragilizada pela tuberculose que insistia em lhe sorver vida. Elena não resiste à doença e falece causando mudanças de hábito em Carl. Obcecado e sentindo-se frustrado por não conseguir salvar a vida do seu amor platônico, fez de tudo para conservar seu corpo – mantendo, inclusive, relações sexuais com sua “noiva” cadáver.

Elena morreu três meses após iniciar o tratamento, em 25 de outubro de 1931, com apenas 22 anos. Quando por ocasião do seu enterro, Carl convenceu a família da jovem a construir um mausoléu. O cadáver foi depositado em um caixão metálico que continha dutos para o fornecimento de formol e outras substâncias. Carl passou a visitar o mausoléu todas as noites até que um dia parou. Ele havia levado o cadáver da jovem para sua casa.

Durante os seguintes sete anos, Carl Von Cosel fez tudo de humanamente possível para manter a sua amada próxima dele; em corpo e alma. Amarrou os ossos com cordas de piano, preencheu seus órgãos desidratados com trapos empapados em líquido embalsamador e canela chinesa. Parte por parte, foi fortalecendo sua pele com trechos de cera e seda, construindo uma máscara de sua face que lhe servia de molde nas manutenções. Tratava regularmente sua pele com loções, poções e eletro-terapia mediante a bobina de Tesla. Substituiu sua podridão com olhos de vidro, e fabricou uma peruca com os cabelos que perdeu durante tanto tempo. Vestiu-a com um traje de casamento, véu de renda branco, tiara e alianças e, depois de perfumá-la com azeites, ninava-a em sua cama com as melodias que tocava no órgão de fabricação caseira. Carl também introduziu um canal para simular a vagina e ser possível saciar seu apelo sexual fúnebre.


Quando a doentia história foi descoberta, Carl foi preso. A história do obsessivo Carl Von Cosel e sua “boneca cadáver” – como ficou conhecida – gerou horror e compaixão na sociedade. Quando preso, dois admiradores pagaram a fiança de 1.000 dólares e Cosel foi libertado para responder ao processo em liberdade. A funerária para onde o corpo de Elena foi levado tornou-se “ponto turístico”. O resto do cadáver foi exibido por três dias e mais de 6.000 visitaram-no.

Muita gente se sensibilizou com o radiologista, afirmando que ele tinha feito algo demasiadamente romântico. Os fãs levaram presentes e apoio. Também teria recebido a oferta de um grupo de prostitutas cubanas – os serviços seriam gratuitos.

Apesar da prisão, o delito de Carl prescreveu e ele foi posto em liberdade. Estranhamente, foi declarado sensato. O amor de Carl por Elena foi interminável e assim permaneceu, inquebrantável. Em 3 de julho de 1952 Carl foi encontrado morto abraçado a uma efígie de cera de tamanho natural de sua amada.

Cego por sua obsessão, Carl perdeu sua personalidade e virou marionete dos seus sentimentos e alucinações. Uma mórbida história de um amor que se iniciou onde os demais findam. Amor impossível entre um cadáver e seu raptor.

Elena Hoyos
Placa do túmulo de Elena.

Ele e Ela

Ele estava andando pela estrada. Tinha comido uma quantidade até boa de carne, legumes e comia não mais por prazer, mas sim porque sabia que era importante se manter preparado. Cada passo que dava, era um episódio já vivido, uma repulsa, ou uma saudade. O tempo está muito quente, ele não vê árvores pela frente, somente plantações de soja. Ele pensa em deitar entre elas, mas não pode fazê-lo. A disciplina é importante e ele sabe que tem que respeitar suas regras e uma delas é não parar antes do seu objetivo. Ele precisa chegar à próxima cidade antes do anoitecer e ele sabe que a vida nunca foi muito legal com ele. E ele reconhece que ousou demais contra ela, a vida. Fica pensativo e absorto em seus devaneios quando pensa nas pessoas que passaram por sua vida, na sua família, nos amores vividos, nas noites de luar na beira da praia, quando tocava com sua banda de garagem underground, das professoras, das descobertas e infelizmente, das decepções, rejeições sofridas, perdas e oportunidades que na época pareciam tão ruins, sem graça.
Continua sua caminhada e sorri quando pensa nela. Ela que é uma mistura de delicadeza e ao mesmo tempo algo desastroso.  Eles sempre foram apaixonados, como nos filmes de romance, ela na janela do apartamento e ele com um violão lá em baixo. O tempo passou, ela partiu.
Passa um carro e buzina várias vezes, vai diminuindo a velocidade e dá ré, ele acena negativamente, como quem não quer conversar e muito menos companhia, uma carona. Ele decidiu seguir a pé. Ele está de férias, tem seu apartamento, seu carro, um Jipe da Segunda Guerra Mundial, sua vida tá tranquila, ele só quer seguir andando. O carro alinha-se com ele. O motorista sorri e pergunta ao de cabelos estranhos para qual lugar ele está indo. Ele diz a cidade e o motorista sorri, sua esposa faz um gesto de concordância, e os dois respondem como uníssono que estão indo para lá também. Eles dão gargalhadas, o motorista e sua esposa, pois sempre acontece de os dois pensarem a mesma coisa e falarem ao mesmo tempo, eles amam isso, passam dezenas de anos e sempre acontece, mas quem se importa? O viajante explica que precisa andar só, que precisa pensar um pouco, ter esse momento, que agradece a gentileza, mas não poderá aceitar o convite. Eles partem tristes, sem entender o motivo desta peregrinação solitária e cansativa se tinham o privilégio de ter companhia tão agradável como à deles. Simplesmente não entendem. O casal segue, escutando Frank Sinatra.
Ele continua a sua caminhada e lembra-se daquele sorrisão novamente, de guria levada, dos momentos que tiveram de saírem juntos, fazerem planos, fazerem amor, tudo ser tão perfeito, tanta sintonia, e como todas às vezes, quando pensa nela a tristeza vem. Naquela época ele era uma pessoa inconstante, indisciplinada, um louco buscando atenção e paz, querendo acertar, mas dando passos errados, se drogando para anestesiar sua dor. Ele para a caminhada. Retira uma foto dela e chora.
Ele passou diversas vezes em frente à casa dela, a observava, de longe. Às vezes arriscava-se chegar mais perto, para contemplá-la melhor, fazia isso por horas. Ela e seu marido, assistindo TV e o filho no quarto jogando um game com fones de ouvido, cabelos perfeitos, parecia um anjo.
Ele estava solteiro ainda, era feliz dentro do que se pode dizer de felicidade. Mas quando ele a olhava falando e gesticulando para seu marido, ele sabia que o que tinha não era nada comparado àquilo.
Ele está quase chegando à entrada da cidade, algumas pessoas ali sabem quem ele é, mas chegando a pé, de mochilão, barba e cabelos grandes, ninguém o reconhecerá. Ele entra no hotel Gade, sabe que o hotel não é muito bom, mas o café de lá é perfeito, forte e em quantidade. Isso vale muito para ele. Paga as duas diárias antecipadamente, reserva seu café para às seis da manhã, e pede para a recepcionista mandar alguém preparar a banheira e solicita as chaves da academia. Quer malhar até a exaustão, tentar dormir bem.
Quando chega ao seu quarto, suado, exausto, vai à banheira que está numa temperatura perfeita, entra devagar, encosta sua cabeça e cobre os olhos com uma toalha molhada morna. Ele sabe que amanhã terá que encontrá-la, terá que aparecer de novo em sua vida, ouvir mais uma vez a sua voz, mesmo que seja a última vez e saber se ela está bem. Só assim ele poderá ficar em paz, definitivamente. Não que ele estivesse ruim, ou qualquer adjetivo que faça alusão antagônica ao que ele observara da vida dela, que era feliz (ao menos observando dava-se essa impressão, muito claro isso), ele estava na melhor fase da vida, sua independência, patrimônio, conforto, o emprego que gosta, estava bem resolvido. Mas como fazia planos (ele sempre faz planos, mania de planejar), ele queria seguir em frente em relação a sua vida amorosa. Há anos que namora por períodos até longos e depois decide ficar só, depois namora de novo por mais um tempo e quer ficar só de novo. Um espaço que não pode ser preenchido por ninguém desde que a conheceu. Mas ela parece estar feliz. Está sim. Agora ele quer se casar também, mas ele sabe que só vai conseguir fazê-lo se fechar esta porta que ficou tão aberta em seu coração. Ele quer seguir em frente como ela seguiu. Só isso, ter 'dignidade'.
Sai da banheira, se enxuga com uma toalha muito felpuda, gostosa, se olha no espelho e vê sinais do tempo em seu rosto. Faz a barba e conversa com ele mesmo olhando-se no espelho (ele gostava de fazer isso quando fumava Skank, ou bebia uns drinks). Ele diz para si mesmo que amanhã irá encontrar a mais bela de todas as criaturas, a sua garota, ou melhor, a garota que fora sua. Fica triste de novo, vai para o quarto, nem liga a TV, confere as mensagens em seu celular e uma chata insiste em forçar a barra, mesmo depois de tantos foras, ele ignora, apaga as mensagens, e, quando ia desligar o celular, ele toca, era o filho dele dando boa noite e dizendo que estava com saudades, desejando um bom descanso. Ele ri. Pensa que tem muita sorte em ter um filho adulto que liga para ele todas as noites. O filho dele é um bom 'garoto', raro. Ele adormece, estava exausto. Não sonha com nada.
Ele acordou muito cedo, disposto, desceu ao restaurante onde fora servido um café colonial. Comeu algumas torradas, salame, queijo e, por mais que soubesse que o ideal seria um iogurte, ou um suco natural, ele sempre os trai com o café, forte, dose dupla, o velho e bom café do Hotel Gade.
Na noite anterior dormiu pensando nela e da mesma forma acordou. Hoje ele precisa criar uma oportunidade de falar com ela pessoalmente.
Se arruma, veste uma calça folgada, uma blusa preta e um blusão xadrez por cima. Ele gosta de andar grunge. Usa um pouco do perfume que mais gosta, One e conversa com ele mesmo no espelho. Percebe que está um pouco ansioso, mas mesmo assim sorri, treina algumas falas. Ele se acha estranho, mas já se acostumou. Tranca a porta do quarto e,  percebe que esqueceu a sua palheta. Ele não vai tocar em lugar nenhum, mas se acostumou a andar sempre com ela. Volta. Pega sua velha palheta, fica em ‘paz’. Vai até a recepcionista, lhe entrega a chave e diz que não sabe a hora em que irá voltar. Sorri para a moça e ela lhe retribui graciosamente, um sorriso bom, honesto.
Ele pega seu celular, que estava no silencioso (ele nunca deixa seu celular com toque sonoro), tinha mensagens da garota de ontem, ele faz cara de desdém, liga para o número do taxi que pegou na recepção.
O taxista pergunta ao homem o endereço, ele o diz com a voz embargada e a boca um pouco seca.
Chega ao endereço, mas não desce do carro, diz para o motorista esperar, ele a vê, parece que vai sair e casa. Ela conversa algo com o seu filho, ele responde alto que não quer sair com ela, que vai encontrar seus amigos mais tarde. Ela diz que não, mas ele insiste, fica um pouco nervoso e ela cede. Ela o beija e sai de casa, entra no seu carro, ajusta os espelhos, retoca a maquiagem, sorri para ela mesma (ele percebe isso de longe, no taxi e ri, lembra que eles sempre foram parecidos demais, admite isso com um sorriso espontâneo, descontrai um pouco). O motorista do taxi percebe a movimentação e faz uma feição de detetive, está tentando concatenar tudo que percebe e vê.
Ela dá a partida, sai. Está linda.
Ele diz ao motorista para seguir aquele carro de longe. O motorista responde que já sabia que deveria fazê-lo, o motorista estava satisfeito com a ‘missão’. Isso era atípico e ele estava levando isso a sério, uma aventura de investigação.
Andaram alguns quarteirões, o bairro dela é muito bonito, o dia estava lindo e ele tenso.
Ela entra no estacionamento de um supermercado, estaciona o carro, olha de novo o espelho, faz umas bocas, espreme os olhos, sai do carro. Linda, vestido azul, óculos escuros, bolsa bege, adereços prateados, perfeita. Ele repara que ela ainda usa o chaveirinho de guitarra que, há dez anos ele lhe deu, uma guitarrinha preta estilo Ramones.
Ele agradece ao motorista, lhe dá uma gorjeta além da corrida. O motorista lhe deseja boa sorte.
Ele procura um banheiro. Surge um na entrada do supermercado, ele precisa do banheiro, manias, repetições. Entra, lava o rosto, as mãos, seca-se e, conversa mais um pouco com ele mesmo, a tal ‘coisa’ dos espelhos, sai.
Ele pega o carrinho de compras e, rapidamente coloca alguns itens dentro, itens para a sua viagem de volta, coisas enlatadas, isotônicos, cereais, mel e chocolates (gosta muito de chocolates, Twix, Lollo), tudo para abastecer o seu mochilão.
Ele a localiza e vai chegando perto, cada vez mais. Ele a acha linda demais. Os anos passaram, mas ela tem o ‘poder’ de ser bela. Ela afronta os anos sem ofendê-los. Ele decide esbarrar no carrinho dela com indelicadeza, ela faz uma cara de brava, mas nem se dá ao trabalho de olhá-lo.
Ele ri.
Ele agora bate no carrinho dela com muita força e ela fica super enraivecida e fala para ele ter mais cuidado e resmunga a palavra droga, ou melhor, que droga! Ela o olha, demora um pouco, fica sem ação por uns segundos e sorri, enche os olhos d’água e o abraça. Que abraço bom, demorado. Eles não falaram nada, somente ficaram abraçados, quase que dançando, movimento quase imperceptível, dando carinho. Ele mexia nos cabelos dela e ela acariciava seu pescoço, seus braços.
Eles se olham. Ambos, os olhos mareados.
Ele disse que a estava seguindo, que esse esbarrão não foi um acidente. Que por várias vezes tinha estado em frente ao estacionamento de sua casa longo desses anos, que a observava sempre. Quando ele fica eufórico age assim, derramando um monte de palavras, informações ao mesmo tempo.
De súbito ela deu um tapa em seu rosto, um tapa forte, estalado. Ela baixou a cabeça e, chorou, soluçando. Ele a abraçou e disse que lamentava.
Eles sempre se amaram muito. Eles sabem disso. Mas a vida tem desses desatinos, falta de esperança, falta de fé, ingredientes que destroem sonhos.
Eles conversam. Ela fala sobre a sua vida, seu trabalho, seu marido, igreja, ministério. Fala sobre algumas viagens que fez para o exterior. Ele a escuta e fica ‘feliz’ de ela estar tão bem. Ele fala um pouco sobre ele. Sobre as aulas que dá, seus livros e a luta para alinhar-se com uma editora, sobre a superação da doença, sobre sua disciplina. Fala um pouco sobre as suas músicas, sobre as trilhas que gosta de fazer, de viagens de mochila que planeja e faz sozinho, uma espécie de desafio, fala do seu melhor ‘amigo’, seu Jipão velho. Os olhos dela brilham, ela vê que ele está bem e que conquistou seus sonhos.
Ela faz esse comentário com ele, mas ele responde: “– Quase todos os sonhos”. Ela entendeu bem o que ele disse. Ela não foi até o fim, ela achou que era o fim. Preferiu um caminho ‘melhor’, mais seguro. A culpa não foi dela, ninguém tinha mais esperança nele. Ele não demonstrava capacidade de sair do buraco, de ser independente, marido, pai, sóbrio. Ele caíra várias vezes, sempre caía.
Ela ia dizer perdão, mas ele disse primeiro. Eles deram as mãos, ele chorou. Falaram um pouco sobre os filhos e ele disse que gostaria de se casar, assim como ela fez. Ela fica em silêncio, morde o canto do lábio, suspira, olha para baixo. Ele diz que ela continua linda, e, diz que precisa ir. Ela diz que entende, pergunta se ele aparecerá novamente, pede seu telefone. Ele diz que não sabe se voltarão a se ver, mas que ela sempre estará em seu coração, mas que ele precisava seguir em frente. Não quis dar o telefone para ela.
Ela fica sem palavras e ele também. Ele a puxa para si a beija no rosto e na boca ao mesmo tempo, tipo um beijo de adolescente, roubado. Os lábios se tocaram, os sentimentos entram em erupção, ferormônios.
Ele se despede, ela o segura mais uma vez e se beijam como se isso não fosse proibido. Àquele bom e velho beijo que deram em várias épocas da vida, quando crianças, noivos e agora nessa condição estranha e desconcertante. Isso aconteceu, mas eles sabem que é proibido. Ela ama e respeita seu marido. Isso jamais acontecerá de novo. E ele é um homem íntegro e não permitirá isso novamente. Eles estão com o coração batendo forte, mãos dormentes, molhados em sua sensualidade. Se compõem, ela ajeita o vestido, ele passa a mão no rosto, faz isso sempre que está sem saber o que dizer, suspiram. Dizem adeus. Ele, antes de se virar, diz para ela ficar bem. Ela diz idem.
Ele volta para o hotel, vai para a piscina e nada por horas, aquele beijo não sai da sua cabeça, está perturbado e, ao mesmo tempo aliviado, cumpriu o que tinha planejado, ficar ‘livre’ como ela decidiu ficar. Quer ter um relacionamento sério, uma família, envelhecer com alguém que um dia tem esperança de encontrar. Mas quando já se encontrou e perdeu, se encontra de novo? Ele duvida. Mas tem que seguir em frente, ela seguiu e ele sabe que ela o amava, mas teve que seguir. E ele a ama, mas vai ter que seguir também.
Ela nem passou as compras no caixa. Saiu do supermercado torpe, pegou seu carro e andou a esmo pelas ruas da cidade, caiu em si, voltou para casa. Seu marido perguntou sobre as compras, viu que ela não estava bem, perguntou o que tinha acontecido e ela disse que não estava se sentindo bem, que queria se deitar. Ele a respeita, pergunta se ela quer algo. Ela diz que não, que só quer se deitar, ficar um pouco só. Ela pensa nele, seu beijo, braços fortes, seu cheiro. Suspira longamente e chora quietinha, encolhida. Ela agradece a Deus por ele estar bem, sua saúde, sua vida resolvida, sóbrio. Isso a conforta e ela descansa, dorme.
Ele paga a despesa do hotel, sorri para a recepcionista, agradece. Ela pergunta se precisa chamar um taxi. Ele diz que voltará para casa a pé. Ela não entendeu, mas desejou boa viagem.
Assim ele seguiu seu caminho, sentindo-se incompleto, mas sabe que fez o que era correto. A vida é feita de escolhas. Ele escolheu mal no passado, a decepcionou várias vezes. Ela fez a sua escolha em função dos erros dele. Escolhas e caminhos diferentes, mas, o mesmo amor. Isso ninguém poderá tirar-lhes, se amam, mais do que imaginam.

Na floresta


Imagem: Maria Santino


A região amazônica é rica de diversas formas e no quesito, mitos e relatos fantásticos, recebe também um enorme destaque.
Sempre fico reflexiva quando ouço alguém desmerecer os causos contado por uma pessoa mais humilde e tento esquecer tudo o que vivenciei na infância, afinal, quem acredita em relatos assim?

 

     Morávamos no interior do estado do Amazonas e meu pai, que havia sido soldado da borracha, casou-se com minha mãe, teve dois filhos e depois de se aposentar, decidiu que queria plantar cupuaçu e viver do lucro que aquele fruto propiciava. Foi nesse período que nasci. Nunca fui bonita, mas quando criança a situação era quase medonha; era magra demais, joelhuda, tinha o rosto quadrado, olhos negros e grandes quase saindo das órbitas, baixinha e minha pele tinha o aspecto de queimada pelo sol. No entanto, para meus pais eu era uma criança como outra qualquer, e acho que essa é a função do amor entre pais e filhos, nos fazer parecer que somos seres dignos de amor, inseridos, normais.
     Aos seis anos de idade me despedi dos meus irmãos, que rumaram para a capital, Manaus, para estudar na faculdade federal do estado, e assim, ficamos só meus pais e eu unidos a grande plantação e os trabalhadores que vinham periodicamente fazer coleta dos frutos. O pedaço de chão onde morávamos ficava próximo a uma mata virgem e havia relatos de animais selvagens, onças, cobras e javalis, além é claro, dos contos fantásticos que os trabalhadores narravam, sobre seres misteriosos que habitam as matas, por isso, também evitávamos andar por aquele lugar.
     Passamos bons tempos naquela terra, não éramos pessoas de grandes ostentações, muito simples, frequentadores da igreja cristã. Nossa casa era pequena, de madeira, com exceção do piso que era de alvenaria, confortável e limpa. Tudo era paz e progresso em nosso lar, porém quando completei 11 anos de idade mamãe veio a falecer após ter contraído malária, e aqueles foram dias turvos onde não houve coleta de frutos e meus irmãos quiseram que vendêssemos tudo e fôssemos embora, meu pai tornou-se diferente: duro, agressivo e passou a consumir álcool dia e noite. Ele se manteve firme em decidir ficar ali e eu fiz um escândalo para não me separar dele. No entanto, tudo havia mudado; não havia mais brincadeiras, nem conversas engraçadas, só um homem distante, sisudo que estava sempre bêbado.
     Logo o cupuaçuzal foi atacado pela “vassoura de bruxa”, uma doença causada por um fungo que também ataca o cacau, fruto da mesma família do cupuaçu, esse mal afeta a extremidades da planta e brotamentos jovens os fazendo secar e dando a aparência de vassoura velha, daí o nome da doença. A safra caiu, muitos trabalhadores vieram para podar as plantas, já que esta ainda é a ação mais eficaz para combater a doença, e dessa forma os gastos foram exorbitantes.
     Após algum tempo, meu pai se entregou de vez ao álcool tornando-se recluso em casa, os trabalhadores reclamavam a falta de pagamento pelos serviços prestados aparecendo a qualquer hora do dia para fazer-lhe cobranças e xingá-lo com palavras horríveis ou o ameaçá-lo, mas sempre iam embora e diziam que papai estava “cavando a própria cova”. Em uma noite, alguns deles decidiram fazer “justiça com as próprias mãos”.
     Era Tarde, eu havia lavado as louças do jantar e meu pai estava bêbado, como já era seu costume, e deitado em uma rede para assistir ao telejornal. Naquela noite em especial ele me chamou para junto dele como há tempos não fazia, ainda escuto sua voz:
     - Émile! Venha aqui, vamos assistir o jornal.
     Passado alguns minutos, sentimos um cheiro forte de gasolina e depois vimos o clarão amarelado das chamas. Os empregados puseram fogo em nossa casa e depois riam e gritavam em regozijo pelo feito, sentindo-se vingados segundo suas leis.
     Meu coração disparou, vi meu pai pegar a arma que ficava em um armário, abrir a janela da cozinha e me mandar pular para me safar, mas assustada e sem querer deixá-lo, não conseguia obedecer, no entanto, ele me empurrou janela afora onde acabei caindo e torcendo o pé. Fiquei abaixada chorando e vendo a casa ser engolhida pelo fogo, depois ouvi tiros e pensei o pior, mas não tive nenhuma ação, pois meu pé doía muito.
     O fogo aumentou, o calor ficou insuportável e um dos empregados do meu pai me puxou pelo braço, tentei em vão desvencilhar-me, ele cheirava a álcool e cigarro, fui arrastada até a frente de casa onde meu peito infantil congelou.
     Sobre o chão com o corpo banhado pelo clarão das chamas vindas de casa, meu pai jazia morto com um tiro na cabeça. O grito não saiu, nem voz, só choro, choro sem som algum somente lágrimas que rolavam em grande fluxo. Os homens tinham o olhar de bicho e estavam cheios de ódio. Um deles deu um tiro para cima e apontou a arma em minha direção me mandando correr e que se caso parasse eles me matariam.
     Obedeci. Não havia mais pé torcido, nem pensamentos, eu só corria sem olhar para trás enquanto escutava aqueles risos altos e deixava o negrume da noite me engolir tendo o medo como mola propulsora. Adentrei na mata fechada que ficava após a plantação e seguir em frente sentindo os olhos e palavras daqueles homens cravados em mim.
     O fogo se alastrou, ao longe podia ouvir o cupuaçuzal crepitando e as folhas secas alimentando as labaredas. Já bem distante, tropecei em uma árvore caída, não era possível ver mais nada e os animais noturnos com seus barulhos aumentavam meu pavor, sentia que meu peito estava na garganta e lembranças da cena que vi, iam e vinham como um filme curto, que recomeçava e me fazia senti um forte solavanco por dentro. Chorei ali, por horas até que o sono levou embora a consciência.
*******************************************
 
     Quando o sol mal havia surgido, algo me acordou, abri os olhos após ouvi um grito muito forte que julguei ser dos macacos guariba, pois eles produzem um som rouco, altíssimo e assustador. De sobressalto me coloquei em pé, mas ao fazê-lo percebi que havia chamado a atenção de um ser perigoso que lentamente começou a vir em minha direção.
     Os galhos das árvores balançavam com o vento em prévia de chuva, derrubando as gotas acumuladas de orvalho que se misturavam as minhas lágrimas que começavam a brotar novamente devido ao medo, as folhas secas e caules mortos quebrava-se a cada passada do enorme felino todo pintado que se aproximava fitando-me e fazendo seus barulhos de fera, atrás de mim havia um grande espaço, mas como estava com o pé machucado não conseguia correr, (ainda que essa fosse minha única vontade).
     A enorme onça veio em minha direção mais rápido ao perceber meu medo e ímpeto de fuga, correu dando algumas passadas até que novamente aquele grito foi ouvido mais alto e perto. Por algum motivo ela parou e mais uma vez o som, rouco, alto e forte ecoou na selva. Coloquei minhas mãos nos ouvidos e sentei no tronco próximo a mim, me sentindo desnorteada. O felino mantinha as orelhas para trás em um movimento de alerta e via algo que eu ainda não tinha visto.
     Logo, um ser peludo de mais de dois metros de altura se colocou diante dela enquanto eu observava boquiaberta aquela curiosa aparição. De início, achei que fosse um bicho-preguiça, mas não poderia ser, ele era grande demais, seus pés e mãos eram como dois pilões sem garras só cascos grandes e redondos, a coloração dos pelos compridos, possuía um verde profundo quase negro.
     Os movimentos foram muito rápidos, aquela fera felpuda investiu contra a onça e arrancou sua cabeça num "zás-trás" mordiscando e engolindo com sofreguidão, minhas mãos não estavam mais nos ouvidos e sim, tapando minha boca para evitar o grito de pavor.
     Um trovão ecoou alto e o ser voltou-se para mim. Senti um cheiro forte de ervas e folhas verdes que me deixava enjoada, era um odor desagradável, vi que ele possuía somente um olho bem no meio da testa e a boca abria em vertical, do queixo ao umbigo, cheia de dentes pontiagudos. Gritei com todas as forças que possuía, pedi socorro alto não tendo mais controle sobre mim e sentindo que o pior estava preste a acontecer.
     Ele manteve a boca aberta por algum tempo, mas não avançou, farejou o ar e após os primeiros pingos de chuva começar a cair, andou para trás lentamente sem tirar aquele único olho redondo, da cor de folha seca, de cima de mim. Não muito distante, emitiu mais uma vez aquele bramido perturbador e rouco erguendo sua cabeça disforme para o céu e depois saiu pulando pelos troncos das árvores, bem rápido desaparecendo em seguida floresta adentro.
     Todo aquele barulho chamou a atenção dos moradores que vieram ao meu encontro mesmo com a forte chuva que caia.
     Entrei em estado de choque por alguns dias e meus irmãos cuidaram dos trâmites legais da venda de nossa fazenda, bem como puseram a polícia no encalço dos bandidos, vim para capital do estado e me recuperei em um hospital passando a morar com um de meus irmãos e sua esposa. Minha adolescência foi vulgar, sem grandes realizações e jamais contei o que vi na selva, permitindo que todos pensassem que meu jeito introvertido e assustado, fosse devido ao que aconteceu com meu pai. Às vezes acordava na madrugada aos gritos, sentindo aquele cheiro nauseante de folhas verdes, mas com o tempo, retive tais lembranças em algum lugar da mente não voltando mais a pensar nelas.
     Hoje, em idade adulta sei o que vi e afirmo, aquele na mata era ele, o mapinguari.

(mapinguarí, ser fantástico que habita a floresta amazônica devorando as cabeças daqueles que encontra. Ribeirinhos e indigenas, afirmam que suas caracteristicas são: possui mais de dois metros de altura, um olho só, emite sons altos, a boca é no umbigo ou abre em vertical do queixo ao umbigo, pele felpuda ou na idêncica a de um jacaré, não possui garras e muitos atestam que tem medo de água. Estudiosos afirmam que tal ser seria um remanescente dos grandes bichos-preguiça gigantes)

Livro de rabiscos

Olhando os livros na escrivaninha eu presenciei algo inusitado.
Um velho livro com a figura de seu Criador rabiscado na capa.
Uma folha adicionada narrava que alguns rabiscos se multiplicaram desordenadamente em milhares de figuras, de pedras, animais, árvores e pessoas que se transformaram. Pedras naturais em preciosas, árvores em frutíferas, animais selvagens em domésticos e pessoas de singelas em rudes e cruéis.
Ao folheá-lo um rabisco em forma de pessoa saltou sobre a escrivaninha. Falou para a figura da capa:
-Não me aceitaram no mundo dos rabiscos por eu ser terna, suave, diferente.
Comovido tentei recolocá-la em diversas páginas, mas em nenhuma fora aceita. Percebi que muitas outras estavam sendo expulsas. Um verdadeiro rebuliço. Uma balburdia no mundo dos traços.
Diante disto a sensível figura pegou uma borracha na escrivaninha e começou a se apagar e antes de pedir que eu terminasse falou para a figura do Criador:
- Se fizer outro livro de rabiscos, mundo, por favor, cuide para que as coisas não saiam do seu controle. Creio que garatujas ainda não têm capacidade para usufruir do livre-arbítrio.
Esvanecendo perguntou se Ele teria coragem de criar um novo livro de rabiscos e se tinha se arrependido de ter rascunhado este velho esboço

Benção ou Pesadelo ?

Alguns chamam de bênção, eu chamo de maldição. A eternidade é uma besta tão feroz quanto aquela que carregamos dentro de nós. O que nos move também é o que nos impede de nos mover e o que é belo e bom dura tão pouco quanto se pode lembrar, mas o que é feio e retorcido, tão terrível quanto seja possível de se imaginar, esse, é inesquecível.
Nem sempre fui assim, não, não. A noite me fez como sou, nem mesmo o mais antigo dos amaldiçoados conhece a escuridão tão bem quanto eu. Vivendo nos cantos apodrecidos e desprezados de uma metrópole imponente, nada mais digno e merecido por um ser tão asqueroso e indesejável. Quando vivo nunca fui lá tão belo, mas eu tinha a quem amar e ser amado. Seu nome não importa, não faz mais diferença, se passou tanto tempo. O que lhe aconteceu, ou melhor o que eu lhe fiz é algo que jamais poderei esquecer. Dizem que a primeira gota de sangue fica marcada na alma decaída de um de nós.
Era uma noite calma, tranquila, típica noite londrina, caminhávamos pelas ruelas da cidade as gargalhadas, sempre era assim, sorrisos, felicidade. Senti que éramos observados, um imortal sabe como preparar sua caça, o medo é o combustível. Eu vi algo, meus sentidos simplesmente se desligaram, era tão horrível, não sei nem ao menos dizer o que foi, minha compreensão humana até então não foi capaz de assimilar. Vermelho, tudo ficou vermelho. Quando me dei conta, estava deitado em nossa cama, coberto de sangue. Ela estava ao meu lado, sem vida, bem, algumas partes dela estavam ao meu lado, o resto, espalhado pelo quarto. Aquela cena não me incomodou, levantei-me como sempre, troquei minhas roupas e nunca mais coloquei meus pés naquele lugar, era a besta falando, não eu. Por muito tempo continuei agindo por instinto, o horror que causei não ficou desapercebido e fui proibido de viver na cidade por ameaçar o véu que nos esconde do mundo humano.
Passei a viver nos esgotos e nos cantos esquecidos, me alimentando de animais e drogados que infestam essa região podre da cidade. Eu causo problemas, não sou como os outros, aqueles que tem duas presas e são misticamente belos e envolventes. Não mesmo, eu sou um monstro, um monstro disforme de feições chacais, como se pincelado pelo próprio diabo e consumido pelo ódio daquele que me criou. Quem em mim coloca seus olhos, enlouquece. A compreensão humana é muito vaga e reduzida para entender que seres existem nas sombras que tanto temem. Um velho me viu fora de sua janela, em um beco escuro enquanto eu me alimentava de uma jovem meretriz, apenas um relance de meu olhar foi o que deixei que avistasse, dias depois aquele homem era velado em sua casa. Se matou dizendo ter visto o demônio. Quando me alimento, não é belo como nos filmes, e de gracioso nada tem, eu destroço o pescoço da presa . Sem controle a morte é rápida e extremamente dolorosa. A marca do trauma sofrido pelo corpo permanece no olhar. Olhar tal que permanece marcado em minha memória, não tem como fechar os meus olhos sem ver na escuridão do meu consciente, todos aqueles olhos amedrontados me fitando, se perguntando, por quê?

Hoje vago pelas sombras, pelos cantos mais nojentos e merecidos por mim. Vago em uma busca vã por meus iguais. Talvez seja apenas uma procura desenfreada por algo que desejo encontrar e não por algo que esteja ali para ser encontrado. Talvez não exista um criador, talvez eu não seja um amaldiçoado como todos que encontrei. Posso apenas ser, do diabo mais um capataz

Meu sonho bom

É noite fria
O céu escuro esconde a beleza da lua
Mesmo assim me vejo abençoado
Imaginando você ao meu lado

Sim, eu não passo de um charlatão
O rapaz que sonhou em amar
Sim, eu não passo de um sonho ruim
Alguém que ouso te buscar

Os ponteiros atropelam afiados
Eu me vejo em seus dias
Quero apenas uma lembrança do seu olhar
Quero apenas te ter e ver que é real
Quero que seja minha estrela

Eu só quero que venha comigo
Que ouse
Que acredite
Que me siga

Sim, eu sou um charlatão
Perambulo errante nas avenidas
Faço magicas e me escondo
Me escondo dos outros olhares

Mas é só quando seus olhos buscam os meus
É só quando sou banhado por seu despertar
É ai que vejo
É ai que me vejo
Você é minha estrela

Durma comigo meu amor
Seja a lua do meu céu
A estrela cadente que cai em mim
Siga comigo
Seja errante em meus passos
Contente-se com meu versejar
Seja minha, tão somente minha
Meu sonho bom...
Minha menina
Meu sonho bom...
Meu amor

A chave

À noite, eu procuro suas mãos... vasculho a cama e não as sinto.
À noite, eu procuro seus pés... bagunço tudo e não os encontro.
Sabe, meu quebra cabeça anda incompleto desde que eu perdi algumas peças. Perdi nossas mãos juntas, perdi nossos pés entrelaçados, perdi nossos corpos juntos, perdi nossa respiração ofegante, perdi minha cabeça no seu peito, perdi nossos narizes juntos, perdi você dizendo que me amava.
Esse quadro na minha parede ficou tão irreconhecível, todos costumavam elogiar, agora, tudo o que, nele se encontra, é um velho homem com um coração-peça faltando.

O amor e a razão


 
 Ela me disse que a vida é séria. Eu disse que não se pode levar a vida a sério, porque ela não é tão firme e segura o quanto queremos. Eu dei um porque, ela o negou e ousou questionar:
  —  Amor, a vida tem que ser vista de todos os pontos, as situações devem ser melhor administradas para depois não dizermos isto!
  —  Isto o que? – Perguntei inconformado com sua negação.
  —  Isto que você disse a pouco: “Não se pode levar a vida tão a serio, porque ela não é tão firme e segura o quanto queremos.”
 Ela poderia estar certa, e eu como sempre, poderia e devia estar errado. Estava. Eu nunca planejava nada, fazia as coisas “nas cochas”. Vivia de momentos e estes novos momentos felizes que eu vivia ao lado dela, sempre eram mal administrados e até mesmo mal aproveitados.
 Antes dela eu tinha uma filosofia diferente e distorcida da vida e do amor. Caminhava com meus próprios passos rumo ao nada, ao desconcertante pesar... Depois que deixei de viver as custas de meus pais, acabei por escalar o mundo e arrancar dele meu sustento e meus dias comuns. Dias comuns... A partir do momento que ela entrou em minha vida meus dias nunca mais foram comuns! Eram sinfonias perfeitas, passos apressados e lentos, que seguiam as batidas do meu desacostumado coração.
 Antes  dela eu não sabia ouvir estas sinfonias perfeitas. Eu desconhecia acordes e notas, o barulho ensurdecedor das orquestras fenomenais me talhava a moleira, e o que chegava ao meu subconsciente era um barulho incomodo e dolorido, barulho este que eu já havia me adaptado em meu desespero. Mas isto antes dela, antes de ouvir suas palavras e viver em sua calmaria.
 Eu descobri com ela que eu tinha amor, mais nunca tive a razão. Ela me emprestou livros, li os que podia e os que suportei.... É difícil para uma cabeça velha administrar novas ideias e conceitos! Ela me sorriu, eu beijei seus lábios ardentes e disse antes de me deitar:
  —  Eu concordo, meu amor... Temos que administrar melhor nossos dias, boa noite.
 Muito aprendi com ela, muito aprendi comigo, como todo mundo, ousei de erros tolos e bobos, mas agora que tinha amor, e as sabias palavras da razão, tinha também o dom supremo de torná-la a razão de todo meu amor.