sábado, 17 de maio de 2014

Oh, Merda 17/05

Lembrei-me de uma história que eu tinha lido uma vez em ‘Programa de Corridas’ sobre um garanhão que ninguém conseguia fazer com que acasalasse com éguas. Trouxeram as éguas mais bonitas que puderam encontrar, mas o garanhão as refutava. Então alguém, que sabia das coisas teve uma ideia. Cobriu de lama uma das belas éguas, e o garanhão imediatamente a montou. A teoria era de que o garanhão se sentia inferior a toda aquela beleza, mas que, diante da fêmea enlameada, pôde ao menos se sentir em pé de igualdade, quando não superior a ela, e assim funcionar. A mente dos cavalos e dos homens pode ser muito parecida.
Precisamos de humanidade nos olhos já que nossa voz falha por causa do orgulho. E nossos pés andam para trás porque não suportam o peso do mundo sobre eles. Sobre a pequeneza de quem não tem nada a ver com a culpa. Sobre quem gritou de fome e apertou os punhos para não sucumbir à morte. O corpo não suporta mais a leveza da poesia, que corta as mãos e as letras escondem-se de quem não lê com o peito ferido. Porque a vida não dá as mãos e não pede fôlego para ser vivida, para ser sentida. E os pulmões também encolhem de solidão. Também se tornam menores que o convencional por causa do ar que-não-respiro. É preciso humanidade na hora de aceitar a dor porque se não fosse assim não haveria riso e os abraços acabariam antes mesmo de começar. A humanidade de meus olhos, que gritam sem sufocar a voz.
Não me desculpo, eu precisava fazer, não importava o quanto fosse doer, me dá uma fissura, eu tinha de fazer. Cada santo dia daquele ano que você ficou-ficando com aquele mentecapto, prometi a mim mesmo que na primeira oportunidade eu morderia sua bunda. Bem forte. Pra deixar marcas róseas de dente e resquícios de saliva. Uma mordida de boca cheia, pra você sentir em dez segundos a fração de dor que eu sentia cada vez que via ele parafusar o antebraço na sua cintura, e não eu.

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