domingo, 13 de outubro de 2013

Falando Sério

 
              Quando olhei para ela, pensei que o amor era algo distante, que todos contam mentiras sobre o amor, que eu tinha mais pecados que poderia suportar, mas ela moveu o corpo, deixando o lençol sobre a cama, levantando em um ato discreto,então me senti pleno, como homem, ao mesmo tempo recebi o perdão de Deus.
                Petrificado diante do seu corpo, confuso, me torturava, pois não era o deus que poderia satisfazer qualquer desejo dela.
               O travesseiro, livre testemunha do amor, não falava nada, ele não vai esquecer.  Eu vou esquecer, pois haverá outro momento, nem sempre romântico, nem sempre selvagem, porém sempre ao lado dela, nem melhor nem pior, apenas um novo momento, que vai superar aquele de qualquer jeito. Pois é e aquele foi. Sei que o tempo não é nada, pois nada podemos fazer nele.
        
      A tristeza invade qualquer um, até mesmo a pessoa mais feliz do mundo, algum dia acorda triste. Pensei que fosse infeliz, até ela chegar com seus cabelos soltos, sorrindo, falando, alterando tudo a sua volta.
                O mito do amor, as flores do dia regado a sua presença. Nunca aprendo, pois sou criança, nem sei se tudo isso é verdade, ou obra de um santo, um anjo, que fez da minha vida um enigma.
               Sei que ela me ensina a ser bom, tal qual Nietzsche queria, sem hesitação, dono de meu destino.
               -Vem para cama – disse, olhando nos meus olhos, como sempre faz.
               -Agora – respondi. Queria pensar mais, ela queria o repouso à luz de um pequeno abajur, pois as crianças dormem em um quarto de brinquedo, em um reino dourado, escondido do mal e eu preciso ficar de guarda, há tantos perigos!
               -Sinto frio, já é tão tarde! – coloquei o meu corpo pesado ao seu lado, senti o perfume, algo que me libertava, levitei em uma nuvem de lá vi o mundo.
               -Vou dormir. – Ela disse, ajeitando o corpo pequeno ao meu.
               Ficaria vigiando, era o meu dever, diante de todos os anjos, nada poderia fazer só observar, o medo que me atinge é o medo do tempo, que arrasta para o novo dia.
               A marca do amor é na alma, muitas pessoas não acreditam, outros duvidam escondidos e fingem, pois são céticos, discípulos de Hume, para o qual nada é pior que o homem, no entanto o que sabemos?
               Talvez sabemos só o que sentimos, o raciocínio, a matemática das elucubrações metafísicas de nada adianta, somos pessoas castigadas pelo medo, alguns admitem, outros nada dizem, em outros arde esse medo de forma definitiva.
               Levanto para tomar água, sinto os pés no chão, limites de um abismo, ao mesmo tempo extraordinário e assustador de estar vivo.
               Tenho um amor e uma saudade imensa dela, me sufoca, me liberta e me faz entender que nada é maior que esse sentimento.
               Quando volto à cama ela dorme, sei que tudo pode ser uma grande ilusão, que tudo pode desmoronar em um único dia, que todos esses anos juntos nada vão representar quando o tempo levar tudo, ou quando um furacão derrubar essas sólidas bases.
               A vida com ela é a minha solução, procuro viver essa gigantesca força que costumamos chamar algumas vezes de amor, difícil de cuidar, difícil de achar e fácil de perder.

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