segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Ela

Quando a vi pela primeira vez estava encostada em um banco no corredor da escola, tentei procurar os olhos, mas eles estavam tão distantes que nem correndo conseguiria alcançar. Ela enrolava os cabelos nos dedos e quando soltava formavam-se cachos. Senti vontade de chegar mais perto.
Na segunda vez ela estava de pé e conversava com os amigos, notei como as mãos eram ligeiras e como ela sorria mais forte do que podia suportar, o que eu via eram bochechas pressionando grande parte do rosto, trazendo o riso maior do mundo para fora. Se sorrisse o resto do dia, se durante todo ele apenas o fizesse eu entenderia cada palavra sem que ela precisasse pronunciar uma sequer. Dentro das gavetas tenho uma pilha de folhas, são diários sobre ela, o tom deles varia conforme meu humor, por vezes são agressivos outrora entusiasmados, alguns são desesperados, e nunca desapaixonados. Todos eles. Cada linha, ponta a ponta da folha que escrevo frente e verso sempre que me deparo com aquela que pobremente sei descrever.
Eu queria colocar no papel o brilho que irradia quando no escuro, toca. Quando entra em contato com a solidão negra que é a minha vida e dois terços do meu coração. Vagamente sei falar sobre o amor que sinto, a vida toda foi assim, tropecei nas palavras, padeci num buraco de silabas, frases e versos, me perdi num labirinto de rimas e textos, muitos textos quando conheci a menina e hoje não quero mais sair. Mentiria se dissesse que quero e não posso, ela me mostra um leque de opções cada vez que passa por mim com o olhar correndo e custa a me perceber. Sei lá. Ás vezes sinto que posso correr na mesma velocidade que os olhos dela, correr não sei para aonde, para qualquer lugar que seja longe do amor que sinto por ela. Mas o que eu sinto me persegue, ando sentindo dores e posso jurar que o amor me bate, os hematomas são terrivelmente de um roxo azulado que se assemelham com o céu da madrugada nos dias de inverno, não há de ser outra coisa. Meu peito pulsa ardido e barulhento, creio eu que sejam gritos de desespero por assistir a menina passar as mãos pelos cabelos e calar o resto do mundo com uma risada.
Cada parágrafo dramático faz com que eu tenha vontade de me desmembrar, eu sinto constante vontade de me deixar. Queria que meus membros se soltassem e despencassem, melhor que fosse do céu, mais parecido com chuva. Eu queria ser chuva e chuviscar o amor que sinto em cima dela.

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