segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Um rascunho encontrado nas gavetas da vida ( Uma história de Elen House)

"Nas mãos o amor, não o destino"




Meu querido, será que deveria te chamar de querido? meu amigo? Como chamar alguém que está apenas aqui dentro, misturado comigo?
Não consigo dormir, talvez se soltar todas essas palavras eu me livre de tudo, tenha um pouco de descanso.

Faz tantos anos. Acho que foi uma vida e um pouco mais.
Quando foi a última vez que nos vimos?
Na cozinha, casa da tua mãe... Do teu sorriso aberto, entusiasmado, descrevendo como havia comprado aquela passagem de navio. Meu coração te ouvia alegre e triste, nunca imaginei que seria a última vez.

Hoje foi o casamento da minha neta.
Sabe, eu tenho três filhas maravilhosas. Dizem que se parecem comigo. Mas são altas como o pai. Ele é um homem muito bom, você iria gostar dele...
Minha neta estava linda, felicíssima. Via o amor nos olhos. Hoje em dia, todas tão independentes, por que se casariam se não amassem os companheiros, certo?
Conversei com a tua irmã, fiquei muito feliz por ela ter aceito o convite e mesmo morando longe, ter dado um jeito de comparecer à cerimônia. Foi uma conversa rápida, não te mencionei, eu nunca menciono você.
Mesmo assim, ela comentou por alto que você pretendia me visitar na última vez que voltou, mas que houve algum imprevisto - não entendi direito... Apenas em pensar, tremi.
Sabe, acho que nunca estarei pronta para te rever.
O que faríamos? Te dar um abraço como velhos amigos?
Eu com certeza estaria constrangida em mostrar o tempo no meu rosto, no meu corpo. Meu Deus...acho que seria desesperador...
Seríamos educados, diríamos palavras felizes, cheios de contentamentos,  o que eu sentia,  sinto...a verdade é que nada o que disséssemos  mudaria a realidade de nós dois. Trocaríamos os telefones e endereços, e daí???
Você foi embora. Fazer a vida. Sei que as coisas estavam ruins por aqui. As raras cartas...passei anos vivendo pelas cartas, centrei minha vida esperando uma folha de papel!
Ficava contente apenas por ouvir alguma coisa sobre os teus feitos... Lia tudo sobre essa terra nova, com tantas esperanças...
Até me sentir  patética, estúpida...deixando a minha vida escorrer.
Eu amo meu marido de verdade, minhas filhas, meus netos. Amo a minha vida sim. Me esqueço de você por anos a fio, mas quando volta...
Não consigo te bloquear!
A recepção de hoje estava fantástica, mas após o diálogo com a tua irmã, todos os meus movimentos, todos os meus sorrisos estavam acompanhados...
Se alguém lesse essas palavras me julgaria, com certeza todos me julgariam. E sabe o que mais, nem me importo mais com o que pensam.
Só eu sei...
Longos foram os meus dias, infinitas as minhas noites, mas como se controla os próprios pensamentos?

Estou cansada.


(O que poderia ser uma resposta para o conto "Uma história de amor").

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