sábado, 15 de agosto de 2015

Volte para a vida real

titanic
A menina cresceu assistindo comédias românticas cheias de amores improváveis. Filmes iguais. Sempre com a mesma premissa clichê: o rapaz, que não por acaso é lindo, forte, alto e rico, nunca se envolveu profundamente com ninguém até conhecer a mocinha e se apaixonar perdidamente por ela. Ela, por sua vez, esnoba o moço por já ter sofrido no passado, mas depois de tanto ele insistir e correr atrás, finalmente consegue quebrar o gelo com demonstrações públicas e grandiosas de afeto e eles podem enfim viver uma linda, eterna, perfeita, sem erros e extremamente mentirosa história de amor.
Sendo assim, a menina que cresceu com essa visão de amor ideal, conhece um garoto e resolve pôr em prática tudo o que anos de Hollywood a ensinaram. O rapaz tenta se aproximar e ela o esnoba. Ele vira as costas e convida a vizinha pra sair que aceita de imediato o convite, por que ela já aprendeu que se fazer de difícil é trabalhoso, chato e não leva ninguém a lugar nenhum, muito menos ao cinema, ao parque e a Campos de Jordão.
A menina quebra a cara e se questiona: se sempre dá certo com aquelas pessoas dos filmes, porque comigo não?
Ora bolas, minha amiga, muito simples: por que a vida não é um filme.
Se você projetar a sua vida em pessoas irreais, com histórias irreais e amores irreais, saiba que essa é uma receita infalível para a frustração. 
Aquele amor que você vê no filme não existe. Aquelas pessoas, logo após a cena do beijo, pegam seus generosos cachês e cada um vai para a sua casa brigar com seus conjugues reais sobre a toalha em cima da cama ou a má vontade em ir pro almoço na casa da sogra.
Aquelas pessoas vão para seus relacionamentos onde nem sempre tudo é lindo e cheira a campo florido. Muitas vezes relacionamentos passam por fases feias, mal cheirosas e dolorosas.
Por que o amor às vezes machuca.
Aquelas pessoas talvez tenham a sorte grande de morrerem bem velhinhas ao lado de seus respectivos pares, mas talvez não.
Talvez elas tenham seus namoros e casamentos estampados nas revistas de fofoca com letras garrafais de “FIM” e “DIVÓRCIO”.
Por que o amor às vezes acaba.
Sim. Aceite. Amor não precisa durar para sempre para ser de verdade.
Se tudo o que conhecemos está fadado a ter um início, um meio e um fim, inclusive nós mesmos, por que você acha que com o amor é diferente?
Pra quê colocar o amor num pedestal tão alto e inalcançável quando ele pode estar mais perto do que você imagina?
A vida pode não ser tão glamourosa e na maior parte do tempo extremamente entediante, mas ela é a única realidade.
Nos filmes não há espaço para a realidade. Ninguém quer ver um filme cheio de personagens falhos, defeituosos e incompletos.
Enquanto que na vida, sem roteiros, cortes, diretores ou dublês, esses mesmos erros, falhas e defeitos são o que constroem as histórias mais lindas.
E que são lindas não por serem perfeitas, mas justamente por serem reais.
Se você sonha com um amor verdadeiro, saiba que acordar é o primeiro passo para a realização.
Não peça que a outra pessoa corra atrás de você depois de ser esnobada.
Isso não deveria ser visto como ideal de ninguém. É pura humilhação e nada mais.
Amor também vira as costas.
Não peça que a outra pessoa espere por você. Ninguém deveria esperar por ninguém.
Não existe pior castigo do que viver preso a uma espera que talvez nem aconteça.
Amor também segue a vida.
Não peça que a outra pessoa sempre faça as pazes depois de cada briga desnecessária que você começar.
Todo mundo tem um limite. E não existe pessoa tão paciente que uma hora não desista diante de tanta instabilidade e imaturidade.
Amor também desiste.
Não peça atitudes grandiosas como prova de amor.
O amor não tem nada a ver com vaidade. Ele se prova na banalidade da rotina.
Amor também é dia a dia.
Não espere fantasias da vida real.
Não jogue nas costas de outra pessoa a missão de suprir suas carências e sonhos adolescentes.
Ame com toda a força que puder, mas não exija metas impossíveis de serem cumpridas.
Pois o amor real nasce da boa vontade mútua de fazer dar certo.
Quanto ao coração, minha amiga, ele só serve para bombear sangue pelo seu corpo.
O coração nada tem a ver com o amor.

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