terça-feira, 2 de julho de 2013

A dama de vermelho

  “Seu desejo por vingança aumenta a cada dia mais.”

   Marcos estava a caminhar por uma rua extremamente escura e bastante nebulosa. Ele teve que sair de casa após sua mulher ter descoberto uma traição entre ele e uma vizinha que morava ao lado da casa deles, então resolvera procurar outro lugar para morar ou até as coisas acalmarem. Marcos estava estranhando o fato de a rua estar totalmente deserta, sem nenhum carro ou movimento qualquer. Seus pés já estavam ficando cansados, aquela rua de paralelepípedos machucava-os bastante e a cada pisada naquele chão ele sentia uma dor imensa.
      O céu naquela noite tinha uma cor azul bastante escura, não havia estrelas. O vento gélido batia nos telhados das casas que havia ali. A cada vez que o vento passava pelas fendas de cada casa um barulho horripilante era escutado. O frio castigava a pele de Marcos  fazendo-o estremecer.
     Ele chegou até o final da rua, onde havia uma praça com pouca iluminação. Os únicos postes de luz que haviam ali estavam estragados, apenas um ainda gerava luz e esse estava piscando.
Marcos resolveu se sentar em um banco que havia ali, naquela sombria praça. Por um momento, pensou ter ouvido passos de alguém se aproximando, porém ignorou. A sua vida inteira estava passando diante de seus olhos, cada ato seu estava vindo à tona.

  - Sou um idiota, troquei minha esposa por uma mulher que havia acabado de conhecer – dizia ele, enquanto olhava para algumas folhas que surgiam da escuridão sendo arrastadas pelo vento.

    Enquanto olhava para a escuridão, o poste da praça, a única fonte de luz, acabou. Tudo se tornara escuro, todas as casas dos vizinhos estavam  com as luzes apagadas. Marcos começou a ouvir passos e ao olhar para  frente percebeu que alguém se aproximava. Era uma mulher. Seu vestido vermelho  brilhava na escuridão, seus olhos pareciam brilhar e ela carregava alguma coisa em suas mãos. Ela sorria para ele e Marcos retribuiu o sorriso. Aquela mulher andava lentamente em sua direção, seus cabelos escuros balançavam junto com o vento.

  - Olá, Marcos! – disse ela.
  - Desculpe, mas como me conhece?
  -  É uma longa história, mas isso não importa. Temos a noite inteira para conversar. Ninguém para nos atrapalhar, estamos sozinhos aqui – disse ela, ajeitando o decote de seu vestido.
  - Acho melhor eu ir para casa,  já arrumei encrenca demais. Boa Noite!

  Marcos começou a caminhar. Aquela mulher tinha algo de incomum, algo que havia chamado sua atenção, talvez  fosse por sua beleza. Vários pensamentos corriam pela mente de marcos.

 - Por favor, fique! Estou sozinha. – gritou ela.

Ele se virou e caminhou novamente para ela. Ele a observava atentamente, seus olhos passaram pelo decote de seu vestido e aquilo despertou seu interesse.

- Tudo bem, eu fico.
- Obrigada. – Disse ela – O que você faz na rua há essa hora?
- Eu e minha mulher brigamos, ela descobriu que eu havia a traído com uma vizinha. Então eu tive que sair de casa.

  Aquela mulher se aproximou dele e o beijou. Marcos nem tentou se livrar dela, apenas correspondeu o beijo. Ele percebeu que conhecia aquele beijo, não era o beijo de sua mulher, mas ele sabia que conhecia. Marcos resolveu abrir os olhos e o que viu o assustou muito, aquela mulher jovem e bonita se transformara em uma idosa com poucos fios de cabelo em frente ao rosto, o rosto daquela mulher era cheio de rugas. De seu vestido pingava sangue.

 - Se assustou, querido? Por que você a traiu, seu canalha? Por que feriu os sentimentos dela? – disse a velha com uma voz alta e extremamente grossa, enquanto puxava uma faca de trás de vestido.

  Aquela faca perfurou a barriga de Marcos. Ele caiu no chão agonizando de dor.

 - Quem é você? O que quer de mim? – disse ele.

 - Sou alguém que você desejaria nunca ter conhecido – disse ela, enquanto ria.

   Marcos estava sentindo uma dor que nunca havia sentido em toda a sua vida, aquela faca estava cravada em sua barriga e ele não conseguia tirá-la. Aquela velha horrenda ria enquanto ele sofria  de dor.

- Você vai se arrepender, seu canalha!

    A luz daquela praça voltou de uma hora para a outra e a mulher havia sumido, aquela faca não estava mais em sua barriga e por incrível que pareça ele não estava mais sentindo dor. Será que tudo não passara de uma alucinação? Aquilo foi real demais, ele sabia.
    Assustado ele se levantou rapidamente e saiu daquela praça, se dependesse dele nunca mais voltaria ali. Marcos estava pensando para onde deveria ir, pois ele não podia voltar para sua casa. De uma hora para outra, ele se lembrou que havia a casa de um amigo dele que morava naquela mesma rua.  Após ter caminhado até lá, ele bateu na porta. Infelizmente, ele não foi atendido.
     Depois de muitas tentativas, ele resolveu andar pela cidade a procura de algum lugar para dormir. Até que avistou uma espécie de cabana em um canto da rua. Correu até lá e quando viu que não havia ninguém, entrou e resolveu passar a noite ali. Não era o lugar mais confortável do mundo, mas era melhor do que nada. Ele ainda estava assustado com o que havia acontecido naquela praça. Quem seria aquela mulher? Essa era uma pergunta que Marcos não estava conseguindo responder. Marcos, por fim, resolveu pesquisar em seu celular por uma mulher que usava vestido um vermelho.  Ele se surpreendeu com a quantidade de lendas que apareciam em torno dessa tal mulher.
       Marcos estava quase desistindo de pesquisar quando uma coisa chamou sua atenção. Um site contava a lenda de uma mulher chamada Patrícia que foi vítima de uma traição do marido com outra mulher e quando ela descobriu Patrícia se matou. Desde então, muitas lendas giram em torno da morte dessa mulher, muitos dizem que ela anda por ai a procura de homens infiéis para matá-los.
      Marcos estava totalmente assustado, seu coração estava acelerado e ele não sabia o que fazer. Uma ideia veio em sua mente, ele resolveu sair daquela cabana e ir até sua mulher pedir desculpas. Quando saiu da cabana, as luzes daquele local começaram a piscar, até que se apagaram. O medo tomou conta de Marcos novamente. Ele olhou ao redor e não viu ninguém, até que foi surpreendido por uma facada em seu rosto.

 - Pensou que iria fugir de mim por muito tempo? Ninguém foge de mim.  Todos estão mortos. Aqueles iguais a você  estão mortos. Se lembra daquela vizinha, aquela com quem você traiu sua mulher? Era eu, seu idiota. Eu queria saber se você era infiel ou não e você caiu direitinho. Agora você vai morrer igual ao meu ex-marido. –  disse ela – Aquilo que você sentiu antes era só uma alucinação, mas agora é real. – Ela fincou aquela faca no coração de Marcos.

   Marcos estava agonizando de dor caído no chão daquela praça. Ele podia ver seu sangue escorrendo entre aqueles paralelepípedos. Aquela velha estava parada em sua frente rindo de sua agonia. Ela parecia estar cada vez mais forte vendo a dor  de Marcos.
   De um momento para o outro ela se transformou novamente naquela jovem bonita e sumiu junto com a escuridão. Marcos agonizou até a morte.
 
  Dizem, eu não sei se é verdade, que ela continua por ai, a vagar, procurando homens infiéis para que possa matar. Seu instinto por vingança está cada vez mais forte. Então, pense duas vezes antes de trair alguém que ama. A não ser que também queria agonizar até a morte.

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