quinta-feira, 25 de julho de 2013

Ex namorado

 Eu contemplava o sangue pingando na pia do banheiro enquanto a dor me consumia. Abri a torneira e limpei o aparelho de barbear, em seguida meus pulsos, sentindo uma dor pior do que a de antes, mas ainda assim menor do que a que eu sentia por dentro.
 Joguei o aparelho na bolsa e me sentei no chão. Ainda não podia acreditar que ele havia me deixado. Uma semana, uma semana de namoro! E então ele me trocou por aquela idiota, depois de tudo o que me disse, de tudo que me prometeu. A pior parte era que eu sabia, lá no fundo, que ainda o amava. Desgraçado.
 Lágrimas pingavam em minha camiseta. Foi quando tomei uma decisão, resolveria tudo isso do meu jeito. Enxuguei as lágrimas e saí do banheiro do hotel, pegando antes um pacote que jurei a mim mesma que nunca usaria, mas agora era necessário.
 Fui até o shopping, pois sabia que ele e sua namorada tosca estariam ali, assim como eu e ele há 3 semanas. As lembranças que cada canto daquele lugar me traziam eram quase insuportáveis, mas eu não podia chorar, não agora. Procurei pelo shopping todo, até encontrar ele e sua namoradinha sentados num banco. O mesmo banco onde demos nosso primeiro beijo e ele me disse que ninguém me tiraria dele. Promessas vazias, é claro.
 Me aproximei, respirando fundo e colocando aquele maldito sorriso falso no rosto. Não queria que ele soubesse o quanto sentia sua falta, ou o quanto fiquei triste quando ele se foi.
 - Pedro? - eu disse, parecendo surpresa.
 Ele ergueu seus olhos castanhos, olhando para mim. Segundos depois sorriu, como se fôssemos velhos amigos, mas não se levantou.
 - Clara? Sim, quanto tempo! O que faz aqui? - perguntou-me.
 - Estava apenas procurando um presente para minha mãe. Você sabe, amanhã é aniversário dela. E vocês?
 - Só... namorando - respondeu sua namorada idiota, com um sorriso. Eles se beijaram, e reuni toda as minhas forças para não desabar ali mesmo, e dizer tudo o que Pedro precisava ouvir. Tinha de ser forte, logo isso acabaria.
 Sorri, e disse:
 - Desculpa interromper, mas Ana, posso trocar umas palavrinhas com você?
 - Uhum. Já volto, amor - disse ela.
 Acenei para Pedro e segui com Ana para o banheiro, conversando como quem não quer nada. O banheiro estava vazio, ótimo.
 Tranquei a porta e tratei de cobrir todas as câmeras que encontrei. Ana me olhou, intrigada.
 - Por que está fazendo isso? - perguntou.
 - É uma conversa particular, não quero que ninguém saiba.
 Quando tirei o pacote de minha bolsa, Ana afastou-se, e eu pude ver o medo em seus olhos. Sorri e tirei a arma do tal pacote, colocando luvas antes. Ana tentou gritar, mas fui mais rápida e tapei sua boca com minha mão.
 - Quieta, vadia - bati nela com a arma, ela caiu inconsciente em meus braços. - Eu amava Pedro, e ainda amo. Tínhamos uma bela vida pela frente, mas você, sua idiota, estragou tudo dizendo a ele que ainda o amava. Ele acreditou, é claro, e me trocou por você. Mas agora isso vai acabar, e Pedro será meu de novo.
 Ela recobrou a consciência, e tentou se desvencilhar de meus braços. Tarde demais, atirei em sua cabeça, estourando seus miolos. Sorri e guardei a arma, tirei um vidro de acetona de minha bolsa e espalhei pelo banheiro, acendendo um fósforo em seguida e jogando-o sobre o corpo de Ana. Destranquei a porta e dei a volta no shopping, para que Pedro pensasse que vim de outro lugar. Algo desnecessário, já que várias pessoas corriam em direção à saída.
 O fogo havia se espalhado rapidamente, e todos estavam em pânico. Corri também, como se não soubesse de nada, e lá fora encontrei Pedro, aos prantos.
 - Cadê a Ana? - gritou, desesperado.
 - Não sei, eu estava caminhando com ela e então o incêndio começou. perdi ela de vista, me desculpe.

 Hoje eu e Pedro somos casados, ele não desconfia de nada e vez ou outra diz que tem pesadelos com Ana, nos quais ela aparece queimada e tentando lhe dizer algo, mas tudo o que consegue é dizer meu nome. Ele entende isso como um pedido de Ana para que ele fique comigo. O shopping foi totalmente destruído pelo fogo e junto com Ana, mais de 100 pessoas se foram. Hoje o local é um terreno vazio, que todos dizem ter medo por ouvir vozes pedindo ajuda. Não me arrependo de nada do que fiz, e é por isso que hoje ajudo casais como eu e Pedro uma vez fomos, matando quem faz sofrer as ex-namoradas dos rapazes. Alguns voltam, outros não, e então tenho de acabar com todos os envolvidos na história. Pedro não desconfia de nada, acha que sou apenas uma dona de casa inocente. Melhor assim.

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