quarta-feira, 24 de julho de 2013

Bicho papão

A todo tempo estamos sujeitos a enfrentar nossos maiores medos. Somos seres vulneráveis e desprotegidos de todo a espécie de mal. As vezes ignoramos, outras nem percebemos. Mas o terror existe. No exterior, ou dentro de nós mesmos. Já li em algum lugar, que sentimos mais medo quando crianças. Isso ocorre por que ainda pequenos usamos frequentemente uma das forças mais poderosas que o homem tem, a imaginação. Outro momento onde o medo sempre nasce, é a noite. Não preciso nem explicar o porquê certo?

Esta estória é uma fusão disso. Um pequeno recorte ficcional que apresenta o poder dos nossos pensamentos em uma noite fria de sexta-feira. Nosso personagem, um menino de dez anos. Que infelizmente vai sofrer muito enquanto a noite durar.

Leia, lembre-se de sua infância, volte a ser criança... Mas cuidado, aqui tudo é possível.

Fernando deveria estar dormindo. Pelo menos foi isso que sua mãe ordenou. Mas em vez de obedecer, o garoto de dez anos escolheu ficar acordado e assistir à um filme, o qual ele havia visto a propaganda poucos dias atrás. Se chamava "O Bicho Papão e estaria no ar a meia-noite daquela sexta-feira.

Quando chegou a hora, Fernando correu para baixo de seus cobertores, ligou a TV e começou a assistir ao filme.

O Bicho-Papão era uma produção barata, e o que não conseguia fazer no sentido de efeitos especiais com o monstro, recompensava os fãs de terror pelo seu suspense e pelas macabras mortes das crianças. O filme era horrível, em todos os sentidos.

Fernando nunca havia visto tanto sangue e tantas mortes violentas como aquelas do filme. Na maioria delas o Bichão Papão saia debaixo da cama e devorava as criancinhas. O menino já assustado demais, decidiu que o melhor era desligar a TV. Mas não precisou fazer isso, pois quando se aprontava para pegar o controle remoto, o televisor desligou sozinho. Então a escuridão predominou no quarto e o medo do garoto começou a aumentar. Seu corpo paralisou o quarto foi tomado pela escuridão.

Para piorar a situação, um barulho veio debaixo da cama. Fernando começou a chorar, sentiu algo puxando seus cobertores e quando estava prestes a dar um grito, um par de garras agarraram seu pescoço.

Não conseguiu se libertar, estava sendo sufocado pelo monstro. Foi uma questão de segundos para que sua vista começasse a escurecer. Um blackout e depois, a queda. Caiu em um abismo e o choque contra a cama lhe acordou. Quando abriu os olhos, a TV ainda estava ligada.

Tudo não passara de um pesadelo...

Fernando acabou dormindo em determinada parte do filme e depois sonhou com o que estava assistindo. Consequências normais para uma criança que não está acostumada a ver filmes de terror.

Olhou para a TV e viu que o filme ainda passava. Arrumou seus cobertores e desligou o aparelho. Não queria ver mais nenhum minuto daquele filme nojento.

Para não ficar totalmente no escuro Fernando acendeu seu abajur.

Respirou fundo e fechou os olhos. Tentou dormir, mas o medo não havia ido embora, não era tão fácil assim esquecer do monstro do filme, esquecer do pesadelo. Fechou os olhos e procurou pelo sono.

Minutos se passaram e o barulho, aquele que ele havia ouvido no sonho, começa a lhe atormentar novamente. Imagine como o pequeno

Fernando ficou nesse momento. Tudo era medo, seu corpo paralisou e ele não tinha coragem de gritar. Para piorar a luz do abajur se apagou e o quarto ficou todo escuro. O garotinho continuou a ouvir o barulho debaixo da cama, como se algo estive se arrastando, se preparando para sair. Era o bicho-papão, só podia ser ele. De novo.

Então o medonho som cessou e Fernando sentiu a presença de mais alguém no quarto. Passou a ouvir uma respiração. Ofegante e lenta. No ar, um estranho odor predominava e algo parecia estar se aproximando.

Lágrimas escorreram do rosto do menino e ele começou a rezar. Sua mãe havia lhe ensinado que para espantar o medo e os monstros bastava rezar. Mas ele nunca havia rezado para espantar monstros, nunca tinha sentido a presença de um em seu quarto.
Mesmo assim rezou, rezou torcendo para que aquelas palavras tivessem efeitos no Bicho Papão.

- Santo anjo do Senhor...  A respiração ficava cada vez mais próxima.

- ...meu zeloso guardador... Fernando fechou os olhos e rezou com mais fé.

- ...se a ti me confiou a piedade divina... Agora o garoto escutava passos!

- ... sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine.... O monstro parecia estar bem ao seu lado!

Nesse momento, Fernando sentiu uma mão em seu ombro esquerdo e seu amém se transformou em um longo grito de pavor.

- AMÉEEEEEEEEEEEEEM!

A calça ficou molhada. Pela primeira vez, ele urinou na cama.

- Calma, calma meu filho. É o papai, por que você está chorando?

Olhou para o pai, ainda com medo de que tudo fosse outra peça do Bicho-Papão, ainda com medo de estar preso em algum tipo de pesadelo.

- Vem aqui comigo, aposto que você viu algum desses filmes idiotas.
Vamos, vem dormir comigo e sua mãe. Disse Ricardo, pai de Fernando, enquanto pegava o filho no colo.

Ao sair do quarto, do colo de seu pai, Fernando olhou para baixo de sua cama e viu dois olhos amarelos o encarando. Morrendo de medo ele colocou a cabeça no ombro de Ricardo e começou a chorar.

O menininho sabia que naquela noite ele estaria seguro, mas e na próxima, como faria?

Resolveu falar para o pai e entre soluços comentou:

- O monstro tá debaixo da cama pai...

Ricardo voltou até o quarto, acendeu a luz e falou:

- Olha lá Fernando, não há nada!

O garoto deu uma espiada e confirmou sua primeira visão. Debaixo da sua cama morava um monstro. O mesmo do filme.

A criatura sorria para o garoto, invisível aos olhos do pai.

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