quinta-feira, 26 de junho de 2014

O que é saudade ?

Essas coisas matam sim, você não sabe porque não te ensinaram. Essas coisas, essas mesmo, em conjunto perfeito, assustadoramente harmoniosas, matam qualquer um, com consentimento da vítima ou não. Mas que coisas? Esse silêncio e essa confusão que mora aí, entre esses espaços de tempo que não percebemos passar por nós. Passando. Passando porque ainda passa; e se não passasse, não haveria porquê escrever – já que o meu ato de escrever depende da noção do movimento, do dinamismo, da velocidade com que as coisas vão ou ficam. A lentidão com que se esvazia em dias de poucas palavras é só um prelúdio do que virá depois, em noites que não são tão noites; em madrugadas que não são madrugadas; em dias que não parecem esses mesmos dias que se vê com os olhos, mas sim com o eterno ontem que nunca ousou e nunca ousará passar. Esse silêncio e essa confusão que paira sobre os cantos do quarto e do mundo – meu mundo, talvez nosso – não precisariam de explicação, isso se não passassem aqui, agora, enquanto olho para essa alma morta, jogada por sobre as palavras escritas que só são escritas devido a minha ânsia de explicar o que nem eu mesmo entendo. Me embaraço, porque isso tudo é paradoxal demais para minha consciência. Me calo, porque não sei o que fazer, mesmo sabendo que as palavras não ditas pela boca me matarão. Esse silêncio mata. Essa confusão mata também, rapaz. Só que ninguém vê essas duas coisas juntas matando alguém por aí, porque elas também passam. E se não passassem, isso tudo não seria assassinato; seria suicídio, esse que a gente já conhece e realiza o tempo todo, em vida, nessa vida que só se chama vida e é vivida porque também passa.
Mas, o que é saudade ? um amor que passou pela sua vida ? uma dorzinha que dá quando alguém que você tanto ama está a quilometros de você ? ou até então uma dor muito forte que mata aos poucos por dentro de alguém que está do outro lado do mundo ? NÃO.
Saudades é isso que vou te falar agora, sei que você aparenta ser forte assim por fora, mas sei que por dentro existe um ser tão frágil quanto um algodão, que também chora escondido sem ninguém ver, então vamos lá.
 Eu com os meus 10 anos de idade, você com os seus 7, duas crianças mimadas que viviam correndo pra lá e pra cá no quintal de casa, passávamos o dia todo brigando, e no finalzinho da tarde voltávamos a nos falar normalmente, porque criança é assim mesmo, eu pegava todos os meus brinquedos do street fighter, e alguns geloucos, batia na sua porta e o seu pai abria a porta e me mandava entrar, e ai se deixasse virávamos a noite brincando, naquela época não tínhamos ideia do quanto isso era legal.
 Nos dias de semana, teu pai me chamava pra ir com vocês de bicicleta na casa da sua irmã, e eu todo alegre pegava minha bicicleta e ia, caralho como isso faz falta.
 Falando um pouco de mim também, todos os sábados minha mãe esperava eu acordar, ia para a ginástica dela, que ela tanto gostava, e quando chegava, vinha até mim, me dava um beijo de bom dia, e perguntava se eu queria ia para o shopping, e eu todo alegre levantava da cama e me arrumava para ir, era só pegar o tremzinho e chegava lá rapidinho, ela me levava direto para o mc'donalds, gastava o dinheirinho que ela lutava pra ganhar comigo, coitada..... as vezes ela não tinha dinheiro, mas ainda sim me levava, e eu ficava admirando as vitrines, aquelas coisas caras que eu sabia que não eram pra mim, meus deus, quanta falta isso faz...
 O seu pai, sempre dando o que você pedia, como aquele Playstation 1 lembra ? você insistiu tanto, mais tanto, que um dia ele te chamou e foi lá comprar ele pra você, tudo pra te ver feliz, era sempre assim, mesmo brigando com você, falando coisas que fazia você chorar, ele sempre acabava cedendo, porque te amava mais do que tudo, você era tudo pra ele.
 Quanta coisa não ? isso sem contar as idas ao mercado, quando voltávamos de pirua lembra ? e também quando alugávamos vários filmes para assistir juntos, ou ir para a casa do piscinão, onde pagávamos 2 reais para entrar, as lutinhas com os bonecos, as queimadas na rua, alerta, esconde-esconde, ou aquelas brincadeiras que fazíamos no papel, para ver com quem iríamos namorar, lembra ?
 É prima, essa é a definição da saudade, saudade é a minha mãe, saudade é o seu pai, saudade é tudo aquilo que fazíamos antes e era chato, mas que agora..... como faz falta...
Não temos mais eles presentes aqui conosco, nossa semana se define agora em ficar dentro de casa para mim, ou se dedicar aos estudos como você, meus sábados agora não tem mais shopping, muito menos beijinho da mãe ao acordar, nem se quer a presença dela, as brincadeiras com os bonecos e a correria pra lá e pra cá, foram substituídas por ir para a casa do namorado, pra você, e pra mim, foi substituída por escrever em um blog super parado, chorar mais do que tudo longe de todos, por cortes no braço por me achar mais inútil do que tudo, não tem mais filme reunido, muito menos família reunida, não restou quase nada para chamarmos de familia.. Temos um ao outro, temos sim muita coisa para fazer, inúmeras na verdade, mas cara....... jamais teremos aqueles tempos de volta, nossa vida nunca mais será tão feliz igual antes, porque sabemos, que metade da nossa vida foi enterrada em um caixão a 7 palmos do chão, juntamente com a saudade, que fica aqui, e dói a cada dia mais..

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