sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A felicidade enterrada a 5 palmos do chão.

Você, meu caro leitor, como se sentiria se alguém que você tanto ama fosse embora sem ao menos dizer adeus? dolorido só de pensar, não?
Agora mais além, o que você faria se perdesse tudo que você mais ama? pai, mãe.. ?
Pois é, quem olha as coisas que escrevo, associam as lindas palavras com uma ''linda'' vida, mas estão enganados, a dor me faz escrever coisas que surpreendem até a mim mesmo, não sou feliz, apenas sobrevivo um dia de cada vez, a cada dia que passa, é um dia a menos da minha vida, o tempo passa, passa pra todos, mas enquanto uns aproveitam cada dia, os meus apenas passam, e eu não vejo a hora que ele acabe, pois pra mim a vida perdeu a graça, não tem sentido, as pessoas em que eu mais podia confiar se foram, a felicidade já não existe, foi enterrada a 5 palmos do chão.
 É, me lembro perfeitamente do dia em que ela morreu, queria que tudo que eu fosse dizer aqui agora não fosse verdade, que fosse só mais uma escrita, mas não é, infelizmente não é...
A vida é muito estranha, hoje você está bem, rindo, feliz, fazendo brincadeiras, falando com todo mundo, já no outro, assim do nada, ela faz você ter um AVC (Acidente Vascular Cerebral).... Logo uma pessoa que nunca teve esses tipos de problemas, é inexplicável, uma pessoa saudável em um dia, e no outro precisa da sua ajuda pra sobreviver.
Passei 1 mês dentro de um hospital, tendo que ver meu pai naquele estado, sempre chegava na sala da UTI, abria aquela porta de vidro, e avistava meu pai deitado em uma cama, cheio de aparelhos, comendo com ajuda de sondas, desacordado, aquilo tudo me doía muito, com um curativo na cabeça, pois tinha sido operado, e operações no cérebro são sempre de risco, eu sabia que se ele se recuperasse, ficariam sequelas, e que precisaria de muita ajuda pra voltar a ter uma vida normal, mas isso seria um prazer, pois meu pai cuidou de mim a vida toda, seria minha hora de fazer o mesmo por ele, não ser um filho ingrato.
 Com o passar dos dias, ele foi acordando aos poucos, quando você tem um AVC, geralmente perde um pouco da memória, e exige tempo para se recuperar, e logo de cara meu pai me reconheceu..... e pra minha surpresa, a primeira coisa que ele me disse foi ''Você tá se alimentando bem? quem está fazendo a comida?''
e na hora eu não me segurei, uma lágrima escorreu dos meus olhos, até no hospital ele se preocupou primeiramente comigo, pra depois se preocupar com a saúde dele..
 Mais um tempo se passou, e recebi uma notícia boa do médico, que meu pai sairia da UTI e iria para o quarto, e quando uma pessoa vai para o quarto, é um passo para sair do hospital, e ir para casa, e meu pai sempre me falava ''Quero ir pra casa, hospital não é um lugar bom'', e eu sempre dizia que logo ele iria, e que tudo voltaria ao normal.....
Certo dia, cheguei no hospital, e vi meu pai com os dois braços amarrados na cama, e os pés amarrados, uma situação que ninguém gostaria de estar, e ele queria que eu soltasse, e me disse que a médica estava batendo nele, pois ele estava se mexendo muito, e disse que a médica lhe falou que quem mandava ali era ela... Na hora não acreditei, porque a mente dele estava meio confusa ainda.
Cheguei a ouvir da médica, que alguém da família teria que ficar no hospital desde cedo, até 20:00, porque não tinha como as enfermeiras ficarem olhando ele o tempo todo, vê se pode isso?
 Foi quando numa sexta feira eu fui vê-lo, entrei na sala como todas as outras vezes, mas dessa vez meu pai estava dormindo, e eu teria que acordar ele pra dar comida, eu chamei, toquei nele, mas ele não acordou, pois o efeito do remédio estava forte, quando deu 15:30 eu fui embora, mas antes disso, eu segurei a mão do meu pai, e disse ''Estou indo, fica bem, viu?'' e nessa hora mesmo dormindo, ele apertou a minha mão forte, e ali eu senti que era uma despedida......
 Sábado, as 10:00 da manhã, alguém bate na minha porta chamando meu nome, gritando meu nome, eu acordo, e vejo minha prima e minha tia, chamo elas para entrar, e elas disseram que precisavam falar comigo, sobre meu pai...... e ali eu já estava preparado pra notícia...... ''Seu pai, ele faleceu'' !..

E foi assim, ali minha felicidade morreu, no domingo ela foi enterrada, juntamente com o meu pai, e agora estou aqui, sozinho, escrevendo isso com o rosto inchado de tanto chorar, mesmo escrevendo tudo isso, não consigo expressar a dor que sinto nesse momento, palavras não conseguem passar nem metade da dor que sinto, e o pior, algumas pessoas se aproximaram de mim, me consolaram, e depois acharam ''Ah, ele já está bem, não precisa mais de mim'' e assim foram embora de novo, mas eu precisava, preciso... mas entendo, ninguém é obrigado a ouvir o outro falar sobre a sua dor, porém, sempre estarei aqui, caso um dia se sinta mal, desolado, quando ninguém quiser te ouvir, te ignorar, eu estarei aqui..... Eu poderia te prometer aquelas doces mentiras sinceras “Nunca vou te deixar”, “não-sei-o-que-seria-da-minha-vida-sem-você” ou todo esse tipo de porcaria que a gente diz no calor da hora. As pessoas são assim, dizem que não seriam capazes de te deixar. Depois aprendem e esquecem de comemorar contigo. E deixam vazio o lugar que sempre será delas. Eu não, simplesmente estou aqui. De vez em quando sujo, entediado, agressivo, mal-humorado, triste, acabado, sem motivos para sorrir, calado e chato..... Mas aqui.


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