sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Arterror episódio 3- Maldições noturnas

A Seguir, Três Malditos 
Contos  Noturnos...
Pro Santo
 Baltazar caminhava pelas ruas de cascalhos, arrastando o menino com seus chinelos de dedo. O pivete de sete anos tentava acompanhar os passos largos do pai apressado, doido pra chegar ao boteco e dar uma bela talagada num copo de cachaça.
 O menino tinha outros planos e ambições, acompanhava o pai no simples intuito de ganhar uma paçoca ou um suspiro de cereja...
 Chegaram ao bar de tabuas velhas, onde os caboclos de botina e chinelo de dedo bebiam suas pingas brabas. Baltazar sorriu pro botequeiro, um barbudo invocado que mal o conhecia:
— Bota uma marvada pra mim ai, amigo!
— Bota eu boto até duas. Quero saber se ocê tem dinheiro pra pagar. Sem ofensas, “amigo”, mas aqui a gente serve em cima do pedido, e recebe no ato, sem conversa fiada!
 Baltazar enfiou a mão no bolso, enquanto o moleque lambia os beiços olhando os doces na prateleira, indeciso se imploraria pela paçoca ou pelo suspiro, talvez até pelo canudo frito que estava ao lado da Maria-mole.
 O pai ignorando os desejos do filho e concentrado no seu, arrancou do bolso três moedas, jogando  no balcão sujo.
 O barbudo coçou o queixo com fiapos falhos, pegou o litro de água ardente e serviu um pouco pra baixo da metade do copo:
— Leva a mal não, mas com essa mixaria ai, só da pra bota isso!
 Baltazar olhou pro pequeno e sem se lamentar, bebeu a cachaça em uma golada, limpou o beiço seco e puxou o menino pra fora da espelunca:
— Sim´bora, Otacílio!
— Pai... Quero o doce...
 Baltazar olhou para o botequeiro, olhou para o menino e disse sem rumo:
— Tenho dinheiro não. Vamo simbora que semana que vem compro cinco doces proce!
 O menino engoliu o choro e foi arrastado pelo caipira egoísta, que parou na porta do boteco, admirando um esfarrapado abrir um litro de cachaça e ameaçar beber. Baltazar encarou o estranho maltrapilho, olhou em seus olhos, desejando a cachaça farta que preenchia sua mão dentro do litro cristalino. O homem que bem conhecia a inveja e o desejo alheio, sorriu faltando três dentes na frente, derramou um bom gole da cachaça no chão e disse antes de beber:
— Pro Santo!
 Baltazar olhou babando todo aquele “desperdício”... Viu o homem dar uma longa golada e sair aos risos:
— Sim´bora pai – Disse o pequeno puxando a camisa surrada do homem, que encarava o chão sujo, este, ainda preservava uma pequena poça da cachaça.
 Baltazar olhou pros lados, não vendo testemunhas a não ser o filho, se ajoelhou e caiu de boca na cachaça ofertada ao Santo. O pequeno Otacílio indignado olhou para o pai e o lembrou:
— O moço disse que era do Santo pai!
 Baltazar, tirando da boca a sujeira que veio junto com a cachaça, se levantou, olhou pro menino e respondeu:
— O Santo que arrume outra poça pra ele, porque esta eu já bebi! Sim´bora que sua mãe deve de tá com a janta pronta!
 Chegaram em casa e Mariza já olhou feio pro marido, percebendo sua embriagada cara de bobo:
— Comprô o doce pro menino com as moedas que te dei Baltazar?
 Otacílio olhou para o pai, que sem mostrar um pingo de vergonha na cara respondeu:
— Comprei sim, né fio? Um suspiro de cereja, do jeito que ele queria.
 A mãe desconfiada olhou pro menino, que pra não ver a casa cair, consentiu:
— Comprou sim, mãe.

 A noite na hora de ir se deitar, como de costume a mulher se ajoelhou diante do santo de gesso, com sua batina marrom e a pomba branca no ombro. Ela fez suas rezas, enquanto o homem deitado do seu lado reclamava:
— Que diacho de tanta reza é essa mulé?
 Ela pausou a “Ave Maria”, olhou raivosa para o cretino e respondeu:
— Nem todo mundo é ateu feito tú, homi! E eu tou é rezando por mim e por ocê, que só pensa em alimentar essa sua goela ai!
— Ara! Se reza valesse de alguma coisa nóis tava era rico, graças à oce!
 Ela ignorou a arrogância do esposo, terminou as rezas e se deitou, antes de fechar os olhos orou de novo:
— “Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a proteção de Jesus e do Espirito Santo amem”!
— Eita que tô virando é corno! – Respondeu ele em risos – A mulher em vez de se deitar comigo deita é com Deus! E ainda se levanta co atrevido!
 Ela mais uma vez fez vista grossa e dormiu o sono cheio de bons sonhos, enquanto os pesadelos noturnos dominavam os dele.
 Baltazar em seus sonhos, se viu em um riacho feito da mais pura cachaça. Mergulhava e se embriagava aos risos, nadando em meio ao álcool primoroso. Eis que ao longe, na margem do riacho, viu um homem tal qual o boneco do Santo que a mulher rezava, com seu manto marrom e a cabeça raspada na tampa. O Santo lhe sorriu e acenou gentil. Baltazar acenou respondendo, então viu o Santo levantar a batina, arrancar o pinto pra fora e urinar fartamente no riacho.
 Baltazar não entendia tudo aquilo, tentava nadar na direção do Santo para reclamar, pois era insano sujar uma água tão “saborosa”! Mas tão bêbado estava, que não saia do lugar! O Santo urinava e coçava a barriga branca, gargalhando profano. Baltazar olhou a sua volta e viu um monte de Santos urinando em cima dele, percebeu que os danados urinavam cachaça pura! Louco de pedra, se viu em um mar de urina alcoólica!
 Gritou desesperado tentando sair da “Privada Sagrada”, eis que o dragão de São Jorge surgiu no barranco, os Santos sorriram aplaudindo o gigante, que baforou labaredas infernais sobre as águas do riacho, este, devido ao álcool puro, foi coberto pelo mar de fogo.
 Lá no meio Baltazar gritava em desespero, sentindo a pele queimar e em agonia, passava a mão no corpo em chamas claras, arrancava o próprio couro cozido com as unhas grossas. Os santos riam desgraçadamente, enquanto o pobre homem cozinhava como uma lagosta nas chamas infernais.
 Acordou gritando, com a pele grossa ainda ardendo. A mulher agarrada com o rosário, lhe encarou com medo:
— O que que foi homi?
 Baltazar ainda em choque respondeu:
— O Santo! O Santo mulé! Eu me queimei na urina do Santo!
 Escutaram então os gritos felizes do menino, correram em desespero no quarto pequeno e tosco, viram então a cama farta de doces.
 O pequeno Otacílio com a boca lambuzada, olhou pro pai e disse, sem parar de mastigar:
— Cosme e Damião estiveram aqui! Me encheram de doces pai!
 O homem em choque olhou para a mulher católica fervorosa, que deu um tapa em sua cabeça e disse cheia da razão:
— Não falei procê que os Santos existiam? Seu ateu de merda!
 Escutaram um barulho vindo lá de fora. Baltazar pegou sua espingarda e saiu no terreiro, mirando pra todos os lados. Surgiu diante dele o Santo, com sua batina marrom escura. Sem pestanejar, Baltazar disparou contra o peito do sagrado, que deu um paço pra trás com suas chinelas de couro. Sem se importar com o ferimento, disse, enquanto uma pomba branca posava em seu ombro:
— Carece disso não, Baltazar! Só vim buscar o que foi ofertado a mim e você tomou!
 Baltazar arrancou o pigarro da garganta, escarrou o catarro no chão e ofertou:
— Pro Santo. Pode pegar!
 O Santo desconcertado caiu no chão, obediente, lambeu a escarrada do homem e se levantou em ódio:
— Ateu desgraçado! Eu quero é a cachaça que o homem me ofereceu naquele bar!
 Baltazar mirou a arma novamente e disparou, na cabeça do Santo. A pomba assustada levantou voo. O Santo em ira, são e salvo, correu em direção ao homem e apertou seu pescoço.
 Baltazar sem defesas ficou mole e caiu em choque. O Santo decidido, enfiou a mão na goela do homem impuro e procurou o que era dele, enquanto dizia:
— Se eu não encontrar eu te bebo, ateu desgraçado!
 Baltazar com o rosto em lagrimas, sentia a mão sagrada lhe invadir a garganta, lhe revirando por dentro. A mulher inconformad depois de escutar a verdade da boca do filho, saiu pra fora e gritou ao Santo:
— Eita que este desaforado deu uma bela de uma mijada antes de se deitar, lá no mictório dos fundos!
 O milagreiro inconformado largou o pobre homem, que vomitava sangue e medo. Caminhou até o mictório e despencou lá dentro, nadando em meio à merda e a urina, procurando o que era dele.


 Em tempos melhores, Baltazar caminhava com seu filho, rindo do passado feio. Parou no boteco, pediu uma pinga. Pagou adiantado, enquanto o menino escolhia os doces que tinha vontade. O botequeiro encheu o copo, Baltazar foi pra fora, encheu a boca de cachaça, fez gargarejo e cuspiu no chão de terra, dizendo com tom de sarcasmo:
— Pro Santo!


 
Verme Intestinal
(descaradamente inspirado em “A Maldição do Cigano”, do Stephen King)

 Caruso era gordo e falho. Andava a engordar ainda mais, comendo desvairado, tentando de boca cheia dietas e regimes sem sucesso algum.
 A namorada Camille, jovem e bela estudante de filosofia, se incomodava com a aparência cansada do namorado, mas não conseguia ajuda-lo a manter o corpo em forma.
 Caruso já não muito se incomodava. Estava se adaptando a gordura, ao porte redondo e as papas no queixo. Se entregou despudorado aos prazeres da gula e vibrou intenso em cima de tortas, bolos, mousses e pudins.
 Foi em uma partida de futebol com os amigos da empresa que Caruso descobriu que era um gordo inútil. Suava feito um porco, perdendo o prestigio e sendo vaiado pelos parceiros de camisa...
 A humilhação foi maior quando suando feito um leitão, decidiu ir para o time dos sem camisa e se livrou da peça ensopada. Os amigos o olharam bestificados, suas banhas soltas e fartas enchiam seus olhos indignados. Ele os flagrou lhe encarando, envergonhado foi embora cansado e inconformado.
 Em casa, um banho e um compromisso... Era aniversario de namoro com Camille. Camille estava linda dentro de seu vestido de moça comportada. O suor ainda corrompia o terno cinza de Caruso, ele pediu comida leve, pra não passar mais vergonha...
 O estomago roncava de fome enquanto degustava a leve salada de rúcula com tomate seco e o empanado de peito de frango. A namorada feliz lhe anunciou:
 — Fiz reservas naquele motel. Aquele que fomos em nossa primeira vez, lembra?
 Ele com a boca cheia de rúcula balançou a cabeça, dizendo que lembrava. Não resistiu, a fome medonha lhe corrompeu e pediu um glorioso e suculento macarrão a bolonhesa. Olhou para Camille, sorriu, pediu também lasanha e comeu como o porco gordo que era.
 E no motel, em meio a preliminares e ao desespero de mais uma vez não chegar as vias de fato, Caruso se desesperou... Tentava inutilmente uma ereção, então pensava na gordura obstruindo seus nervos, pensava maluquices insanas e acabou por ir embora sem satisfazer a namorada na noite mais especial do ano.
 Chorou sozinho, no banheiro, defecando enquanto segurava uma coxa de frango assado:
 — Preciso emagrecer – Se disse convencido, enxugando as lagrimas.
 Continuou com as dietas escabrosas e inúteis. Mas desta vez foi mais firme, mais forte em sua odisseia em se livrar dele mesmo.
 Em um dia de mais surpresas seu mundo terminou de desabar. Sem avisar decidiu buscar a namorada na faculdade. Seu coração envolto de banha a viu entrando no carro de um amigo, forte e belo, possivelmente um jogador de futebol... Mulher carente é foda!
 Seu mundo desabou, se olhou com as papas gordas pelo retrovisor do carro e se viu monstro, monstro gordo porco, com o coração dilacerado.
 Coxas de frango e costelinha de porco não curavam sua tristeza... Apelou em tudo que pode, as dietas não surgiam efeitos desejáveis e ele se viu ainda mais gordo.
 Correndo em volta do parque, teve o começo de um ataque cardíaco e se sentou no banco... Foi acudido por uma velha cigana cega de um olho. Esta, sentiu pena do pobre porco gordo. Ele a olhou triste e disse cansado:
 — Preciso emagrecer.
 A velha caolha lhe sorriu, eram estranhos mas ousou lhe dizer:
 — Hoje é seu dia de sorte meu rapaz.
 O destino é algo fascinante. Dizem que é fácil se encontrar com o diabo... Ele pode estar na esquina, na padaria, na próxima curva a lhe esperar... Ou também pode estar na zona, na prostituta suja que você invade...
 Mas não foi em nenhum desses lugares que Caruso o encontrou, ele o encontrou no acampamento dos ciganos, na barraca da velha bruxa, dentro de uma garrafa pequena.
 Ele cheirou a boca da garrafa, tinha cheiro de cachaça... Olhou ao fundo uma linha de quatro centímetros, fina e inanimada.
 — Uma bicha – Disse a cigana velha – Isto é uma bicha, ou uma lombriga, verme, parasita... Como você quiser chamar.
 Ele olhou a linha curta e disse curioso:
 — Não entendo como isto pode me ajudar.
 A velha sorriu:
 — Ela pode ser bebida por você, pode ficar dentro de seu intestino e peneirar tudo que você engole... Ela pode transformar as porcarias que você come em fontes de proteína e te fazer emagrecer em um tempo muito curto.
 Ele a olhou. Olhou para o vidro, o chacoalhou, mas a linha não se mexia. Sorriu como que se debochasse da cigana velha. Esta lhe encarou com raiva, despejou a linha em um copo junto com a cachaça e disse segura:
 — Ela não precisa dançar pra você! Pois engula e verá que esta linha que julga morta pode ser algo que ira arrancar de você esta aparência tosca, devorara sua banha e te deixara magro!
 Ele olhou para o copo com a linha imóvel. Sorriu e perguntou:
 — Quanto vai me custar?
 A cigana velha sem cerimônias o olhou e disse:
 — De agora nada. Mas se ao beber e emagrecer 80 quilos ou mais em um mês, comendo feito o porco que é, você volta aqui e me da 20 mil.
 Ele a olhou desafiador e sorriu:
 — Eu pagaria 20 mil para me ver mais magro.
 Ela segura do futuro feito disse com a boca banguela:
 — Pois pagara! Volte satisfeito e me pague!
 Caruso olhou para o copo. Encarou a cigana e engoliu. Sentiu então uma peniqueira na garganta, a linha se debatia dentro de sua goela, caindo por dentro dele, desaforada e desesperada. A velha cigana gargalhou, ele saiu da barraca, e quando estava no terreiro, a ouviu gritar:
 — Pois me traga meus 20 mil!
 — Se em um mês eu perder os 80 quilos eu o farei!
 Os dias correram ligeiros, e a geladeira do homem se enchia e se esvaziava... Caruso se pesava na balança e se via cada vez mais magro, a banha parecia se dissolver dentro dele, que satisfeito enfim se viu mais leve.
 Passou o mês, os 80 quilos prometidos sairão de dentro do corpo. Lembrou da cigana, sorriu e disse besta:
 — Velha desgraçada! Como conseguiu isto?
 Dirigiu até o acampamento dos ciganos... Entrou na barraca da velha e disse contente:
 — Deu certo mesmo! A senhora é danada! Perdi os malditos 80 quilos.
 A velha sorriu, lhe estendeu a mão esperando pelos 20 mil. Caruso enfiou a mão fofa no bolso, arrancou duas notas de 100 e lhe entregou.
 A cigana o olhou com a cara fechada e indagou voraz:
 — O combinado era 20 mil seu cretino imundo!
 Caruso gargalhou, quando parou de rir da velha, disse:
 — 200 reais ainda é muito por um vermezinho miúdo daquele.
 A velha compreendendo a ignorância do gordo, cuspiu em sua cara, rasgou as notas de 100 e disse voraz:
 — Miúdo, não é? Pois espero que ele cresça voraz dentro de você só para valer dos 20 mil que me deve! Agora saia daqui porco imundo!
 Caruso saiu de cabeça erguida. A velha ranhenta do quintal ainda disse:
 — Você é magro sim, mas não deixara de ser o porco que é!
 Caruso comia voraz e saudável dentro de um restaurante quando viu Camille e o novo namorado. Se aproximou da mesa e os cumprimentou. Camille se levantou e disse admirada:
 — Caruso? É você mesmo? Como conseguiu?
 Ele ainda mastigando costela a alho e óleo disse confiante:
 — Dieta cigana. Prazer revê-la.
 A noite enquanto dormia em seu apartamento, escutou a campainha tocar... Abriu a porta e recepcionou Camille, que já entrou lhe beijando. Caruso a levou pra cama e fez com ela o melhor dos sexos de um homem magro.
 Dia seguinte no medico, mediu sua gordura... Não mais a tinha, estava em forma e belo. O medico o elogiou e disse seguro:
 — Não sei o que fez para conseguir tão impressionante feito!
 Ele o olhou orgulhoso e respondeu:
 — Doutor. Por um acaso o senhor tem remédios pra verme?
 O doutor sorriu e lhe estendeu um frasco cheio deles.
 Em casa Caruso os tomou. Uma dor de barriga o contemplou e ele no banheiro, tentou defecar o maldito verme. A lombriga se debatia dentro de seu intestino mais não saia... Se voltou então ao frasco e tomou logo três, se condenando a uma noite de rei, sentado ao trono e cagando sem o cú saber.
 Na manhã seguinte levou Camille a faculdade e se viu morto de fome. Parou em um restaurante e pediu o rodízio. Os garçons que o conheciam como homem gordo, agora o viam belo e magro, serviram a ele variedades e mais variedades de assados, o fazendo devorar e se sentir bem. Caruso não conseguia parar de comer. Quanto mais comia, mais fome tinha. Os garçons suados de tanto ir a sua mesa não conseguiam entender tudo aquilo, ele comeu mais que dez pessoas juntas e não conseguia se saciar! Quando viu que a fome jamais acabaria, pediu a conta e foi pra casa, tentar se concentrar em outra coisa. Mas a fome não calou, ele era obrigado a mastigar e mastigar... Decidiu ser drástico, tomou todos os comprimidos do frasco e se preparou para um dia de caganeira.
 O verme se adaptou ao remédio... A fome ainda reinava e ele comia o quanto podia... Não conseguia se sustentar, já estava sem mantimentos e selvagem se acabava procurando pelo que devorar.
 Olhou a lata de açúcar, se sentou com ela na cadeira e voraz enfia a mão dentro, a trazia de volta cheia de açúcar e despejava na boca, os cristais finos desciam goela abaixo, sem perceber comeu todo o açúcar que tinha e se viu como um monstro, um selvagem...
 Diante de sua insanidade, correu para uma pizzaria e devorou tudo o que podia... Os clientes das mesas olhavam impressionados... Seu vicio por comida o fadava ao extremo fracasso... Olhou para a barriga inchada... Seu corpo magro e a barriga se mexendo, a alisou e sentiu as escamas da lombriga, que se contorcia despudorada dentro dele.
 Decidiu então que a mataria de fome, se sentou em uma cadeira e com as panelas, armários e geladeira vazios, bradou:
 — Você morrera maldito verme! Morrera nem que seja de fome, pois não comerei mais nada!
 O verme intestinal se contorcia insano dentro dele, grande e grotesco, procurando por gordura e comida...
 Caruso trancado em seu apartamento, faminto. Decidiu que se deixasse a moça entrar, perderia as redias da situação e sairia despudorado atrás do que comer... O verme em desespero lhe corroia, Camille batia na porta querendo entrar e o verme querendo sair... A moça chorosa foi embora... O verme faminto não teve outra escolha. Saiu do intestino e começou a devorar os órgãos internos de Caruso.
O pobre homem gritava de dor, sentado na cadeira de madeira, sentindo o verme navegar dentro dele, devorando tudo que via pela frente.
 Desesperado pegou uma faca e cortou a barriga. Se ajoelhou no azulejo e viu uma grande lombriga de mais de 40 centímetros sair de dentro dele... Tinha pelos grossos e centenas de patas... As duas pontas tinham bocas enormes, que latejavam de fome.
 Ela vibrava peluda no chão, Caruso caiu morto e ela o devorou aos poucos, crescendo ainda mais, se fazendo valer dos 20 mil não pagos.


 
Carne Humana
 Tadeu era forte e belo. Tinha seus 32 anos e um corpo másculo, resultado de anos e anos de academia e dietas balanceadas. Depois que o pai se separou da mãe e casou com outra, dividindo e destruindo toda a riqueza que tinha a família, Tadeu se viu longe da boa vida. Se sentiu obrigado a trabalhar para manter seus caprichos de homem alinhado.
 Seu corpo forte o ajudou a se tornar um segurança. Já sua gana por riqueza o levou a trabalhar na casa de uma velha empresaria, dona de um frigorífico.
 Ofélia tinha seus 88 anos e dois ou três quilos de maquiagem na cara velha. Mesmo na idade de matriarca, a velha senhora era sacana e esperta... Olhou o belo Tadeu e tratou de dar suas investidas no belo segurança.
 Tadeu á repudiava em nojo e desespero, mas depois do primeiro salário, quando o sapato velho apertou e as contas luxuosas lhe afogaram, ele realmente visou à vida as vistas de um pobre trabalhador...
 Se via dependente de um salário de merda, onde mal dava para se alimentar e pagar o apartamento que dividia com um amigo no centro da cidade. Olhou seu local de trabalho, a luxuosa mansão, a mesa farta posta para os convidados ilustres.
 O excelentíssimo juiz, o prefeito e o delegado sempre ceavam junto com a velha Ofélia.
 Juiz Clovis mastigava o filé de carne e dizia bestificado:
 — Seu mordomo Afle é impecável em cozinhar, madame Ofélia! Nunca comi uma carne de panela tão saborosa quanto à dele! Minha jovem esposa que me perdoe, mas nunca comi uma comida tão perfeita!
 Ofélia ria com o mordomo, enquanto o segurança Tadeu a guardava atrás de sua cadeira, os invejando por saciar de tão nobre banquete.

 Certa vez estava ele a limpar a grande piscina, só de sunga. De longe a velha Ofélia o avistou e lambeu os lábios enrugados... Se aproximou cautelosa e apertou a poupa da bunda do rapaz. Tadeu assustado deu um pulo à frente, caindo na água suja, praguejando em meio ao lodo e as folhas podres:
 — Deixe de reclamar, meu rapaz! Saia daí que eu lhe banho!
 Saiu imundo da piscina. Afle preparou a banheira na suíte da velha e olhou desconfiado o homem másculo entrar nos aposentos da patroa...
 Ofélia molhava a esponja e a corria pelos músculos de Tadeu, que fechava os olhos enojado não com o lodo que saia de seu corpo, mas sim com os apertões sacanas da velha senhora despudorada:
 — Sabe, meu filho... Existem três formas lógicas de se tornar rico... A primeira delas é nascendo tal, a segunda é ganhando em uma loteria, e a terceira é se casando... Você já perdeu uma, já a outra, esta bem longe... Lhe resta achar uma mulher rica e desposá-la, mas creio que com um corpo tão bonito desses não terá dificuldade alguma....
 Tadeu tremeu diante da indireta perigosa, o mordomo se aproximou dos dois, jogou sabão em pó na banheira e bradou com inveja:
 — Esta fedendo, segurança. Melhor ficar de molho no sabão em pó por alguns minutos. Senhora Ofélia, o juiz lhe espera para assinar alguns papéis.
 Ofélia deu uma apalpada no volume da sunga do rapaz e fechou os olhos, delirando em estase... Se levantou e foi atender o amigo juiz.
 Tadeu mergulhou na banheira, pensava em todas as suas contas, no aluguel caríssimo, na academia atrasada, na despesa do supermercado...


 Aos pés do altar, tendo o juiz e o prefeito da cidade como testemunhas, Tadeu se casou com a velha nefasta. O contrato de casamento dizia que em caso de separação, sairia ele com a roupa do corpo. Mas em caso de viuvez, sairia ele rico, herdando tudo que a velha possuía. Isso acalmava sua alma... A decrépita tinha alem da gana sexual, vários problemas de saúde... Talvez um pouco mais de açúcar no cafezinho ou mais gordura na carne de panela de Afle resolveria o caso...
 Passou a ter uma vida boa, no entanto era monitorado e ameaçado pelo juiz e o prefeito... Esses lhe repreendiam e o reduziam dentro de sua insignificância.
 A velha estava no frigorífico quando Afle entrou sorrateiro no quarto do casal. Alisou o peito forte do jovem patrão e suspirou fundo... Tadeu sentiu as mãos do mordomo lhe correr, mas fechou os olhos para ver onde aquilo chegaria. Afle olhou para os lados, não viu ninguém e alisou o membro do rapaz. Era o bastante, Tadeu abriu os olhos e xingou o abusado! Afle envergonhado se levantou e tentou se explicar, o vendo indefeso e fraco, os olhos seguros de Tadeu brilharam, e ele se deu a maquinar o plano fatal da prematura viúves.
 Afle sorriu com a proposta. Disse que o ajudaria se tivesse a mesma atenção que a velha... Tadeu, que já estava num “sexual mar de lama”, cuspiu no chão e pensou confiante:
 — Se encaro uma velha decrépita para ter boa vida, nada me custa comer um mordomo para assegurá-la!
 Os dois tinham um acordo, Tadeu fazia seu trabalho sujo de agradar os dois... Já o mordomo e a velha tinham farta vida sexual, tal qual queriam.


 Mas na surdina da noite, os pesadelos grotescos dominavam o sono do pobre rapaz... Este se via na piscina suja, no mar de lodo, se afogando em desespero... Duas mãos lhe eram estendidas, a do mordomo e a da velha, ele indeciso entre as duas, se deixava levar pela água suja e acordava molhado de suor, ao lado da velha e sua dentadura dentro de uma taça de cristal.
 Três tiros foram ouvidos por Tadeu, que malhava na academia da mansão. Ele assustado voltou à vista para a porta, Afle caminhou seguro em direção ao patrão... A arma esfumaçava e ele em posse dela bradou:
 — Esta feito, senhor... A maldita velha está morta!
 Tadeu passou a mão no cabelo e caminhou até o quarto... Viu a esposa velha morta, com três balaços no peito... Sorriu ao mordomo e o ouviu dizer:
 — Um ladrão adentrou aqui, atirou na senhora Ofélia e pegou todas as joias do cofre. O patrão estava malhando, o latrocida entrou e... Bam! Bam! Dois balaços no senhor!
 — Dois balaços em mim? – perguntou Tadeu, não entendendo o súbito plano do mordomo.
 — Sim. Eu vi tudo, tentei socorrer a patroa, tarde demais pra ela, mas não para o senhor!
 Afle mirou a arma para Tadeu, que tremulo indagou:
 — Calma lá Afle! Tem que haver outro jeito!
 — Outro jeito deve ter patrão – Disparou dois tiros, um em cada ombro de Tadeu – Mas não há de ser convincente como este!
 Tadeu caiu desmaiado... Acordou tarde da noite, em um quarto gelado, numa cama fria. Afle entrou com uma faca grande e afiada, Tadeu se viu amarrado, tentando escapar daquilo... Olhou a sua volta e viu uma mesa de temperos e um fogão industrial, com uma velha panela de pressão em cima:
 — As pessoas me perguntam qual o segredo de minha carne de panela, meu delicioso patrão – Se aproximou com a faca amolada, dilacerou um pedaço do peito forte do rapaz e continuou a dizer diante os gritos:
 — O segredo é simples: A carne precisa ter duas qualidades, ser fresca e ser humana!
 Tadeu gritava com a lamina lhe dilacerando pedaços da carne, de repente, Ofélia entrou na cozinha e disse aos risos ao mordomo:
 — Afle meu querido... O juiz e o prefeito já chegaram! E estão famintos!
  Tadeu foi servido em meio a mesa farta, enquanto a viúva velha gargalhava ao lado do prefeito e do juiz, que mastigavam a carne muito bem cozida do bom rapaz.

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