quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Desfecho Fatal

“Eu sou a tua morte, vim conversar contigo, vim te pedir abrigo... Preciso do teu calor... Eu sou... Eu sou... A lembrança do terror...”
Renato Russo, La Maison Dieu



 Acordei no desespero da noite. Não vi seu corpo junto ao meu e tola que sou, me assustei. Imaginei que você não viria, como das outras vezes que prometeu e também não cumpriu.
 Alcancei o castiçal apagado e acendi as três velas. Levantei-me de meu leito vazio e vaguei pela casa grande.
Era eu e a solidão novamente. Bernardo... Lembra-se quando as coisas davam certo para nós dois? Se lembra da tarde no parque,o vestido azul e a banda que tocava desafinada? Fui tão fácil... Seu sorriso tinha tão pouco a me oferecer e mesmo assim eu me encantei.
 Sempre me prometeu a eternidade, mas nunca se fez presente por mais que alguns minutos... Chorei com suas promessas, com seus medos e sua maldita covardia... Sua incerteza...
O pequeno frasco de veneno é meu ultimo conforto, nunca imaginei que teria coragem para tal feito. Você me fez crer que nada vale apena... Não me importo com as consequências, Bernardo... É triste viver assim, na expectativa da sua boa vontade, de sua passagem meteórica que esquenta meu leito e de súbito o faz frio novamente. Você se satisfaz e se vai, como um sonho bom que aconteceu e tenho que me esquecer.
 Eu bebo em um único gole. Não é a decadência, nem desespero ou falta de amor próprio. É apenas solidão e solução.
 Meu corpo esfria junto ao chão. Ele esta gelado como seu coração, que nunca foi meu. Tão indiferente... Tão livre de promessas e façanhas. É assim mesmo Bernardo... As noites cortam os dias, as promessas são esquecidas... E o calor, o calor do seu corpo, jamais ira esquentar o meu, como outrora prometestes.


Depois do Começo
Legião Urbana

            Vamos deixar as janelas abertas
           E deixar o equilíbrio ir embora
           Cair como um saxofone na calçada
           Amarrar um fio de cobre no pescoço
           Acender o intervalo pelo filtro
           Usar um extintor como lençol
           Jogar pólo-aquático na cama
           Ficar deslizando pelo teto

           Da nossa casa cega e medieval
           Cantar canções em línguas estranhas
           Retalhar as cortinas desarmadas
           Com a faca surda que a fé sujou
           Desarmar os brinquedos indecentes
           E a indecência pura dos retratos no salão
           Vamos beber livros e mastigar tapetes
           Catar pontas de cigarros nas paredes

           Abrir a geladeira e deixar o vento sair
           Cuspir um dia qualquer no futuro
           De quem já desapareceu
           Deus, Deus, somos todos ateus
           Vamos cortar os cabelos do príncipe
           E entregá-los a um deus plebeu

           E depois do começo
           O que vier vai começar a ser o fim
           E depois do começo
           O que vier vai começar a ser o fim
           E depois do começo
           O que vier vai começar a ser o fim
           E depois do começo
           O que vier vai começar a ser...

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