sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Para sempre Meu grande amor




“Se você quiser alguem pra ser só seu, é só não se esquecer, eu estarei aqui...”
 Era tarde da noite quando acordei de um sonho bom. Me vi sereno em meu leito, eu tão pálido e suado, ao abrir os olhos me deparei com o emaranhado de tubos e fios cravados em meu corpo. 
 Vendo o soro me alimentar, voltei a mim e me lembrei de minha condição, o câncer ainda me assolava o estomago. Eu tinha sede, apertei com dificuldade o interruptor e ela me veio. Leila com um lenço, enxugou minha face, cantou suavemente a musica que eu tanto gostava e me deu agua com uma colher.
 Eu, um moribundo aos 17 anos, esperando a morte me levar, tinha o nobre luxo de ser cuidado por tão bondosa menina. Fechei novamente os olhos, tentando suportar a febre, ouvindo aquela musica que soava tão bem aos lábios de minha amada... Me lembrando do que meu amigo Wellington Ventura me disse:
 -O pior não é a morte, o pior é você morrer sem ter tido tempo de pedir perdão a Deus pelos seus pecados...
 Sim, eu tinha tempo de sobra pra pedir a Deus pelo perdão de meus pecados simples. Pecados de uma vida curta e que agora estava ali, se acabando lentamente...
 Eu queria me esquecer do que o Ventura me disse... Queria não ter tido tempo para pedir perdão e morrido logo, pra parar de dar trabalho a Leila e a minha mãe:
 -Quando você melhorar, iremos nos casar, Fábio...
 Quando eu melhorar... Eu estava desenganado pelos médicos, é absurdo a auto-piedade, mas eu não queria isto, só queria descansar em paz, morrer de uma vez... Deixar de vegetar pelos restos de meses e dias.

 A quimioterapia era uma tortura terrível. Os medicamentos me faziam mal e eu vomitava o que não tinha no estomago. Era desastroso eles me olhando com piedade... Meu pai, homem forte e sem emoções... Pelo o menos era isto que eu achava, antes de ver ele derramar seus prantos em meu leito:
 -Você não ira morrer, meu filho! Sairá daqui e iremos pescar, como quando você era menino... Você se lembra?
 Sim... Eu me lembrava. Alias este foi o sonho bom que eu tive, eu pescando ao lado de meu pai.
 Leila era a mais forte de todos. Era mais velha que eu, tinha 18 anos, mas tinha a força e a coragem de uma mulher mas velha.
 Só faziam quatro meses que estávamos namorando quando fui diagnosticado do câncer. Ela não me abandonou, e aquelas doces palavras sempre me confortavam, bem mais que os remédios para dores dados pelo meu medico:
 -Quando você melhorar, iremos nos casar, Fábio...
 Meu medico já haviam me desenganado em Outubro de 1986. Minha mãe e Lura oravam aos pés de meu leito. Eu, com o pouco de consciência que tinha, pedi perdão a Deus pelos pecados que eu ainda não tinha, conforme o Wellington me falou.

 De repente eu abri os olhos incandescente. Um mal subto me veio e eu piorei. Arregalei os olhos olhando o céu se abrir de dentro do meu quarto, pronto a me abraçar.
 Senti o toque de Deus me crivar a testa suada. Olhei o brilho subto de sua compaixão e acordei, regenerado por sua piedade.
 Duas semanas depois eu sai do hospital, e após dois meses de recuperação em casa, fui pescar com o meu pai e com o Wellington.
 Sim, eu me casei com Leila. Um mês antes de completar 18 anos eu me casei com ela, na igreja que ela e minha mãe freqüentaram, aos pés de Deus.
 Era Agosto de 1991, uma visita corriqueira ao medico, para ver se o tumor realmente havia sido extinto, que Leila sentiu enjôo. Ela sorriu em contentamento extremo, pensando na possibilidade de estar gravida.
 Nos preparamos para a confirmação da boa noticia, meu medico chego com sorrisos largos, me comprimentando:
 -Tens uma vida milagrosa, meu rapaz! Sua esposa e você estão grávidos de gêmeos!
 Não me contive, me ajoelhei e chorei agradecendo a Deus por aquele maravilhoso presente.

“Quem esta agora ao seu lado? Quem para sempre esta? Quem para sempre estará?”
 A gravides transcorria em tom de perfeição... Nosso amor que já era tão intenso, se tornou ainda mais forte. Leila sempre chorava de felicidade, vendo as coisinhas dos bebes... Era uma espera contagiante que tardava a vir, mas que curtíamos a cada momento de nossos dias.
 Nossos dias. Nossos últimos dias... Meu Deus... Quisera eu entender o porque de suas decisões, o porque de todo este absurdo de tirar a felicidade de alguem que tanto sonha com ela...

“Vai ser difícil sem você, por que você esta comigo o tempo todo...”
 Era uma tarde calma, um domingo após o almoço, eu, meu pai, minha mãe e Leila, reunidos na varanda, depois de uma manhã perfeita... Conversando sobre a vinda dos bebes. Leila estava de oito meses quando um subto mal lhe correu o corpo. Me desesperei e lhe acudi, junto com meu pai. Minha mãe chamou a ambulância... Foi tudo tão rápido...
 Leila antes de entrar para a cirurgia, me alisou o rosto choroso e disse já quase sem voz:
 -Para Sempre, Meu Grande Amor...

 Me ajoelhei e pedi pra Deus não a levar... Não levar meus filhos e meu grande amor...
 A noticia de sua morte me veio junto com as lagrimas de meu medico:
 -Conseguimos salvar um dos bebes... Ela pediu que você... Lhe desse o nome de Leila...
 Eu ainda velo por ela em meus pensamentos. A menina Leila já esta na faculdade, esta noiva de um bom rapaz. E é tão bela e tão cheia de ternura quanto a mãe... Meu único pesar é o de não estar ao lado de Leila quando ela se foi...
 As veze eu me pegava chorando, olhando nossas fotos de casamento, esperando em um dia qualquer o câncer me levar a ela, o mesmo câncer que me ensinou a ama-la e que tanto fortaleceu nossa união. 
 O meu medico já me diagnosticou sobre o retorno do câncer. Estranhou quando eu sorri em lagrimas, mas acho que ele entendeu.

 Hoje, minha filha cuida de mim, como sua mãe um dia fez. Eu já abençoei sua união com o moço e já me entreguei a doença. Minha mãe e meu pai entendem minha decisão de aceitação, prometeram que enquanto viverem, cuidaram da menina Leila.
 É outra noite fria, eu acordo suando de um sonho bom com Leila. Abro os olhos chorados e sinto alguem me enxugar a testa suada... Leila... Ela me canta aquela canção que eu tanto gostava... Meu Deus... Como é mesmo aquela canção? Há, sim... “Não digo nada, espero o vendaval passar, por enquanto eu não sei o que você me falou... Me fez rir e pensar porque estou tão preocupado por estar tão preocupado assim... Mesmo que eu cantasse, todas as canções... Todas as cancões... Todas as cancões...Todas as canções do mundo... Sou bicho do mato... Mas... Se você quiser alguem pra ser só seu, é só não se esquecer, eu estarei aqui...”

 Já é noite, lá embaixo o véu fino da morte me cobre a face, mas aqui de cima estou eu com Leila, valorizando nossa promessa de “Para Sempre”.

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