quarta-feira, 15 de julho de 2015

Ficção

Mas ela diz que me ama. Ela chega de fininho como quem não quer nada, pega minha mão, toca no meu cabelo e depois a ouço dizer coisas como - “Ah, não vai embora, tá cedo”. Mas eu não dou ouvido, quer dizer, bem que tento. A verdade é que ela não sabe falar coisas bonitas, não sabe como fazer eu me sentir realmente desejado e quando tenta parecer uma garota normal, acaba parecendo um daqueles pepinos estragados que não mudam de cor, sabe? Eles são verdes de qualquer jeito. Certo dia ela tentou me matar, digo, falar que me ama, pode isso? Nos conhecemos há anos, nos pegávamos sempre que tínhamos chance e essa vadia resolveu estragar tudo falando do seu amor por mim - fiquei triste é claro – mas dei um sorriso forçado e fingi que não havia escutado. O silêncio foi nossa conversa pelos próximos 5 minutos, tudo bem, ela sempre faz isso, pensei. Ela sempre gostou de me fazer chegar ao céu e em seguida me jogar lá de cima sabendo que eu nunca aguento o impacto. Eu perguntei se ela sabia o que acabara de me contar e ela me responde que sim, com uma cara de quem na verdade não sabe nem se comeu. O fato é que a gente se meteu numa confusão, eu sei e você sabe também que, você nunca sabe o que diz nem o que quer. O que está acontecendo? – pergunto – Você tá carente? Você não conseguiu pegar o cara que planejava pegar na noitada? Porque se for, pode ir parando. – ela responde com um sentimentalismo barato, diz que sou um idiota e que sou só mais um garoto como os que ela pega nas noites da “vida” – que seja. Na semana seguinte à minha morte, eu a vejo novamente com um vestidinho até os joelhos e uma blusa com uma estampa “floral”, (uma espécie de estampa com flores). Ela me parecia um pouco diferente do normal, não só pela delicadeza que a blusa transmitia, mas pelo penteado que normalmente não é penteado e sim só uma “passada de mão”, como eu costumo chamar. Eu nunca fui uma pessoa boa em puxar conversa, muito menos quando preciso conversar. Nunca fui bom em pedir desculpas e sempre achei que meu orgulho nada mais era que minha falta de jeito com esse tipo de coisa. Tudo bem, eu precisava, não queria perder alguém que por mais cretina que fosse, - às vezes, quase sempre – era meu ponto de paz. – Bem, não sei como dizer isso, acho que eu acabei exagerando no outro dia e queria pedir desculpas. – ela não me olha, sabe que na verdade eu não to muito afim de fazer isso. Pedir desculpa, tem coisa mais complicada? – não, pensei – Sabe, Yasmin, você não pode falar que me ama e em seguida me deixar no silêncio, caramba. Você sabe o poder que tem sobre mim e abusa da minha insegurança comigo mesmo pra falar coisas do tipo. Você pensa que eu não saquei, né, mas eu saquei. Você vem segurando minha mão e depois toca no meu cabelo achando que isso vai me fazer querer que você faça carinho, pois bem, eu não quero. Tá, talvez eu queira… Talvez seja legal segurar tua mão enquanto tu pega no meu cabelo com a outra. Droga, eu não queria me apaixonar, não de novo. A gente já passou por isso antes, não? Você vai me fazer voar e depois cortar minhas asas, é sempre assim. – ela me olha com um sorriso e me pergunta o que eu tenho contra o amor correspondido – bom, esses são os piores, não? É o tipo de amor que te mata e depois te faz viver de verdade.

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