quarta-feira, 8 de julho de 2015

Gatilho

Segurou a arma e engatilhou.
A palavra “viva” e “esperança” ecoava na sua cabeça, ele as repetia com fervor, seus lábios esbranquiçados se movimentam como se fizesse frio. Estava quente lá fora, mas seu interior era frio. Seu corpo não circulava sangue como deveria. Ele olhava pela janela do segundo andar e via as pessoas andando de um lado para o outro, sorrindo, pulando, alegres, vivendo. E a mão dele suava, e o corpo todo suava na mesma intensidade. O vento balançava as cortinas da janela e seu interior balançava junto. O coração acelerado, querendo desprender-se de um corpo semi morto. Viva, há esperança! Seu consciente gritava e ele tentava tapar os ouvidos, mas a voz vinha de dentro da sua existência, nada era capaz de calá-la. Viva, viva, viva. E ele ouvia sorrisos, e ouvia seus pais lhe pedindo para ter calma, ouvia seus amigos dizendo o quanto ele era especial, e as palavras jorravam em sua mente. Sua existência estava cada vez mais distante. Seu corpo soluçava ódio, soluçava desistência. A dor estagnada transbordava por seus poros, fazendo jorrar um liquido transparente e com odor insuportável. E as vozes não calava, e sua mão tremia, e seu corpo suava, e tudo parecia sem vida, e as cores pareciam desaparecer. Um gradiente incolor ia do branco ao preto, ao escuro. Seus olhos se fecharam. POW. Foi o barulho de sua alma indo embora, seu cérebro foi esmagado junto com as vozes, seu corpo suado e gélido caiu sobre os papeis, que futuramente seriam cartas sem destinatário. E em segundos ele deixou de existir.

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