quarta-feira, 8 de julho de 2015

Vida nostálgica

Basta um dia chuvoso para que eu perceba que a vida nem sempre nos proporcionará momentos ensolarados. algumas feridas saradas, meu coração sabe que mesmo querendo, eu não sou mais uma criança. Faz pouco tempo segundo minha percepção, que eu deixei de ser o moleque que gastava as tardes nas ruas, jogando bola, apostando bolinhas de gude ou trocando cartinhas colecionáveis. A vida deixou de ser ócio, responsabilidades infindáveis me alcançaram e o fluxo de acontecimentos, não aceita pausa. Uma corrida se iniciou, o tiro de largada foi dado sem aviso e já muito longe vejo os objetivos que um dia pretendi concluir. Num estalar de dedos eu passei de menino a homem, e pouco importa para a vida, se minha maturidade alcançou o mesmo status. O futuro já não parece tão longe, o passado é um filho querido do qual sinto saudades. Tenho lágrimas se formando em meus olhos, minha vista está cansada e eu me pergunto como será amanhã. Mil coisas a se fazer, outras milhares estão incompletas, não quero contar as que desisti de colocar em prática. Eu sei que nada volta, e o que conseguimos mudar, não faz parte do que já vivemos. Nosso erros são irreparáveis, o tempo não é piedoso, num piscar de olhos devora nossas expectativas, nos deixa pouco a pouco sem vitalidade. Vivo ainda, mas sinto o cansaço debilitar meu corpo, meu vigor proveniente da juventude, não é mais presente na caçada implacável de meus sonhos. Preciso dormir mais cedo e acordar mais cedo, o adolescente que virava madrugadas deleitado em vãos prazeres, não existe mais. Às vezes penso que existem muitas vidas dentro de nossas vidas, e que em alguns momentos, nos sentimos estrangeiros dentro de nós mesmos. O café parece mais amargo, a água mais gelada, a comida já não tem aquele sabor especial. Me acostumei com qualquer coisa, aceitei o possível para uma sobrevivência digna, pois meu ser já não tem em sua essência a capacidade brilhante de colocar os pensamentos além das nuvens. Eu não estou velho, mas me sinto velho. Vivo uma velhice sem sabedoria, sem histórias grandiosas de toda uma vida, sem descanso depois de tantas aflições e labutas enfrentadas. Minha velhice é de marcas entalhadas na alma, sofrimentos distribuídos em folhas amareladas de papel ofício, dores invisíveis que não posso contar ao meu médico. Um velho covarde, com rugas no coração, que logo logo morrerá para o mundo e viverá apenas para o nostálgico homem que um dia fui.

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