sábado, 27 de abril de 2013

A bendita rede social


   Ele olhou a foto dela e achou que fosse uma miragem. Ficou encantado imediatamente e sentiu que alguma coisa o atraia naqueles olhos castanhos e naquela boca pequena. E quanto mais ele admirava aquela fotografia mais tinha vontade de admirar de novo. Havia qualquer mistério nela, qualquer coisa escondida por detrás do sorriso esplêndido. Não dava pra explicar tamanho fascínio. Foi uma questão de minutos, ou melhor: uma questão de segundos pra que nascesse dentro dele uma grande simpatia pela jovem. Embora ele não soubesse quase nada a seu respeito além das informações básicas que constavam ali naquela rede social onde todas as pessoas desconhecidas tornam-se amigas de uma hora pra outra. Será que era mesmo possível gostar de alguém que você nunca viu?

     Ele jamais imaginou que aquilo pudesse acontecer. Nunca foi de se apaixonar com facilidade, tampouco acreditava em amor a primeira vista. Sua única fase de romantismo foi apenas na adolescência, mas depois de tantos amores não correspondidos e de tanto sofrimento em vão, ele achou desnecessário passar por tudo isso na vida adulta. Já estava mais do que na hora de por o pé no chão e parar de ficar alimentando fantasias. Sendo assim ele cresceu tornando-se uma criatura fria e reservada, não costumava se apegar demais a qualquer pessoa que fosse, mesmo quando tinha ciúmes não deixava transparecer, embora raramente isso acontecesse.  Seus poucos namoros se é que se pode chamar assim foram rápidos e sem grandes emoções ou sentimentos exagerados. Na maioria das vezes a paixão só durava enquanto não havia envolvimento...

   O amor e a paixão viviam muito mais dentro de sua própria cabeça do que em qualquer outro lugar, pois na vida real as pouquíssimas experiências que vivera só tinham servido pra que ele aprendesse a ser homem. Dessa forma ele aprendeu a beijar, aprendeu a fazer caricias e tudo que vem depois disso, mas nunca conheceu o verdadeiro amor. Naquele momento ao olhar aquela foto ele mal sabia o que fazer. Não sabia se ficava a vida toda suspirando ou se escrevia uma mensagem. E a freqüência com que entrava no bendito site aumentava cada vez mais. Foi ai que ele chegou a uma conclusão: todas as pessoas que ficavam muito tempo na internet nem sempre ficavam por diversão e sim porque se sentiam extremamente solitárias.

     A rede social que vira e mexe mudava de nome nada mais era do que uma válvula de escape onde as pessoas compartilhavam sua solidão umas com as outras. E quanto mais elas trocavam emails, cartões ou mensagens, quanto mais amigos virtuais elas encontravam, mais a solidão se manifestava... É claro que ninguém jamais admitia, porque ali todos eram felizes e bem resolvidos e todos, ou pelo menos a grande maioria viajava pra lugares diferentes. Todos aqueles rostos, aqueles nomes e sobrenomes, todos eles tinham a mesma coisa em comum: eram carentes de afeto, de amizades e principalmente carentes de paixões. E no fundo a maior esperança de quase todo mundo era justamente a mesma: conhecer ali a fada encantada ou o príncipe encantado de suas vidinhas vazias...

      Alguns buscavam relacionamento, outros buscavam aventura e uma meia dúzia queria apenas divulgar seu dia a dia e ter alguém do outro lado pra fazer comentários. Era reconfortante saber que as demais pessoas iriam consolá-lo, parabenizá-lo pelo seu aniversário, dizer que suas fotos eram bonitas, que sua família era engraçada, que seus dentes eram brancos. Nada como ligar um computador e ter a certeza absoluta que você tem grandes amigos e que no fundo sua vida nem é tão ruim assim. Só que um belo dia você levanta com pé esquerdo e a máquina para de funcionar. E onde estão seus amigos? Onde estão suas paixões? Foi pensando em tudo isso que ele desligou tudo e foi se deitar afinal já passava da meia noite, mas a lembrança da foto e daquela moça cujo nome ele não conseguia esquecer, permaneceu em sua mente.    De onde ela era? Onde morava? Tinha marido? Filhos? Qual era o signo dela?

   Ao contrário das pessoas de sua lista ela não era do tipo que escrevia frases bonitinhas, não aparecia em festas, nem ficava paparicando ninguém. Entrava e saia da rede sem fazer qualquer comentário, mantinha-se neutra e era como se nem existisse. Sua lista de comunidades aumentava com certa freqüência. A maioria era sobre livros, música e arte em geral... No perfil só constavam três ou quatro informações: uma delas é que ela fazia faculdade, trabalhava numa loja de eletrodomésticos e morava com os pais. Era muito interessante saber de tais coisas... Na sua imaginação ele a via voltando da universidade com vários cadernos na mão e um ar cansado. Toda universitária realmente elegante no seu modo de pensar prendia os cabelos em um coque, usava uma blusa social branca e óculos no rosto. Mas aquele era o visual de uma executiva. Concluía.

   Um dia ele pensou em mandar uma mensagem pra ela só pra puxar assunto, nem que fosse pra falar do calor ou apenas dizer oi, tudo bem. Só que na hora de escrever a coragem sumia. E depois de um tempo ela nunca mais ficou online. O que teria acontecido? Provavelmente ela andava muito ocupada, ou então tinha arrumado coisa melhor pra fazer. Então os amigos da sua amada começaram a postar palavras de despedida em sua página de recados. Em todos eles a seguinte frase: Sentirei sua falta. Não dava pra saber ao certo se ela tinha ido viajar ou se tinha morrido... E assim ele passou dias e noites sentindo a falta dela, mesmo sem conhecer a dita cuja. Sonhou com ela dentro de uma banheira, mas no sonho não havia nudez, pois a espuma cobria tudo e no meio da espuma havia pétalas de rosas.

   O rosto dela estava mais angelical do que nunca, sua pele era lisa e perfumada, macia e cheirosa. Sua voz era aveludada e ela sorria de vez em quando. Era um sorriso tímido, inocente. Um sorriso que enchia seu coração de esperança. Seus olhos possuíam um brilho especial e ela o abraçava com ternura. Seus segredos eram todos desvendados e eles dialogavam na semi-escuridão do quarto. Que sonho maravilhoso aquele, pena que a realidade foi tão diferente. Depois de muitos meses sem dar noticias ela finalmente reapareceu com novo visual e com várias fotos ao lado de um namorado. Embaixo das fotos ela colocou a seguinte frase: Nos conhecemos numa viagem. Que bom pra você, pensou ele enciumado e decepcionado. Uma onda de tristeza o assaltou e por muitas noites ele não dormiu.

    A internet foi a pior coisa que inventaram. Só uma pessoa muito idiota pra perder tempo com esse monte de futilidade que não nos leva a lugar nenhum. Quer saber, vou procurar coisa melhor pra fazer de agora em diante, pensou ele. Mas movido pela curiosidade ele fez o contrario do que tinha prometido. Olhou novamente as fotos, leu outra vez as legendas e concluiu depois de um suspiro: Quem dera o sortudo fosse eu. Mas infelizmente ninguém estava livre de um amor platônico, nem de uma paixão inesperada e quando isso acontece não importa quantos anos você tem.

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