quinta-feira, 18 de abril de 2013

O falso profeta

"Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!",  Mateus 7:15-20.

                                            ***

Havia um menino que tinha o sonho de ser um grande escritor ou melhor, um famoso escritor. Desde pequeno ele criava suas estórias e tentava de todas as formas mostrar para o maior número de pessoas possíveis aquilo que havia produzido. Um talento nascia, mas esse se perdera quando a criança passou a se preocupar mais com a quantidade do que com a qualidade.

O tempo passou e aquele sonho que era inocente, se transformou em uma doença sem cura, que carregava consigo grandes doses de ignorância e um falso orgulho, tudo por que o mundo não era tão fácil, tudo por que haviam outros com os mesmos planos ou outros que não tinham os mesmos interesses, mas acabavam cruzando a mesma estrada.

O jovem passou a ver a escrita como uma guerra, sem ao menos perceber que era possível decidir, entre seguir sozinho ou se envolver nos caminhos alheios.

Foi assim que os propósitos de escrita que o rapaz transmitia em seus primeiros textos se perderam, dando lugar ao amontoado de palavras que só expressavam sangue e pseudo-críticas, violência sem sentido e atos desumanos, que só agradavam desequilibrados. As obras eram resultados de uma mente fraca, por muitas vezes plagiadora e ainda imatura, que insistia em sobreviver e em escrever, cada vez mais e mais.

Mesmo com todos os obstáculos e com o pouco talento, o rapaz seguia escrevendo, pois essa era sua única saída. Era na escrita que criava suas aventuras, seus amigos e seus amores. Muitos podem dizer que não há problema nisso tudo, certo? Mas uma coisa é fato, não se pode viver entre o real e o ficcional, não se pode brincar de Deus e criar seu próprio mundo, a uma linha que separa o escritor de suas obras. O erro  do jovem escritor foi apagar essa linha, tudo por que mesmo estando em meio a tantos familiares, ainda se sentia sozinho, como se carregasse consigo um fardo, uma avassaladora solidão.

O remédio foi a criação de falsos amigos e inimigos, deu para si mesmo o título de mestre, de líder. Enganou dezenas e manipulou centenas, tudo sem perceber que ainda era um eterno amador, bancando um Profeta do Macabro.

Passaram se anos até que o preço por todas as mentiras enfim ganhou lugar. E esse veio mascarado, transformado e materializado na figura de um terrível demônio. Um monstro negro, com mais de dois metros de altura e um par de olhos azuis que certa noite apareceu na frente da cama do escritor enquanto o mesmo dormia.

A besta se chamava Egoísmo e já estava faminta, por tantas falsas esperanças alimentadas durante anos.

Quando o escritor acordou, nem se deu conta de que tudo era verdade. Achou que aquele era mais um de seus pesadelos e até chegou a cogitar a ideia de aproveitar aquela situação no dia seguinte para escrever um conto. Mas não teve tempo para fazer isso, pois o monstro que lhe encarava avançou em sua direção. Subiu em cima de sua cama e lhe arrancou o coração.

No momento em que estavam cara a cara, o velho escritor fitou seu algoz e por alguns segundos; durante o tempo em que a vida ainda fazia parte de seu corpo; Viu na besta um menino, um garoto sonhador, mas que ao mesmo tempo carregava no olhar desprezo e decepção.

Então a dor atingiu seu ápice, um frio percorreu a espinha do velho prosador e depois, foi só escuridão para o falecido.

Levou mais uma semana para que um dos vizinhos invadissem a casa daquele estranho homem que se dizia escritor. Quando isso aconteceu, encontraram o velho, com seus cinquenta e quatro anos, deitado na cama, de olhos abertos, como se encarasse o infinito.

Um estranho fato chamou a atenção dos moradores do prédio, da residencia do defunto saia um forte cheiro de queimado, que contaminou todo o corredor durante uma semana. Nunca ninguém conseguiu explicar o ocorrido.

Após as autoridades serem chamadas, uma perícia aconteceu e o resultado dos médicos foi unanime. Lúcio Da Silva morrera devido a um ataque cardíaco. Mas mal sabiam os doutores, que a verdadeira causa do óbito era o Carma. As vezes as coisas demoram um pouco, mas como dizem os antigos, tudo que vai, volta...

     
                                            FIM

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